02

136 27 2
                                    

  Simone Nassar

Ótima qualidade de vida, conquistas bem-sucedidas, sucesso, dinheiro e fama. Particularmente, eu não tinha o que reclamar da minha vida. Amava meu trabalho, por mais que seja muito desgastante ser a âncora do principal jornal, da emissora mais assistida da região. Mas eu dava conta. Afinal, considero-me uma mulher forte, independente, inteligente, talvez um pouco arrogante sim, e muito, muito mandona. Exigente, eu diria, na verdade.

Trinta e oito anos e solteira, mas esse era o menor dos meus problemas. Não ligava e muito menos me importava com o que as pessoas achavam disso. A maioria com certeza me julgava por ser assim. A verdade é que as pessoas costumam ter muito medo de mulheres fortes e independentes, sem medo dos padrões. E, sem querer me gabar, eu era o sinônimo de poder.

As pessoas me consideravam insuportável, mas aí era um problema todinho delas comigo — não ao contrário.

Morava sozinha numa mansão na área nobre da cidade, Não tinha uma relação boa com a minha mãe, tanto que só nos encontrávamos no Natal ou em casos muitos raros. Meu pai já era falecido e ele foi meu único amigo a vida toda. Ele fazia muita falta... E, digamos que essa era a minha única fraqueza: a saudade que sentia por ele.

Assim que cheguei na redação da TebetsNews naquele dia, fiz o mesmo caminho que estava acostumada todas as manhãs. Passando por todos sem dar bom dia, e sem olhar na cara de ninguém. Olhando para frente, com o nariz para cima. Uma elegância sem igual ao caminhar. A definição de destemida deveria ter o meu nome no dicionário.

Definitivamente este dia seria um dia diferente de todos os outros, mas eu dava conta, acredito que já mencionei isso. Na verdade, em partes, tenho capacidade e consigo fazer muita coisa sozinha, mas havia muitas outras que - infelizmente - não conseguia fazer sem a ajuda de outro ser humano. Uma dessas coisas era administrar minha própria agenda.

Não tinha paciência! Simplesmente nem tentava, pois sabia que meu estresse seria garantido. Por isso tinha Vitória. Tinha, né?! Pois a garota pediu as contas. Se isso me abalou? Nenhum pouco. Sempre a achei mole e reclamona demais. Todo mundo é substituível, do meu ponto de vista. Ninguém é especial demais para ser uma exceção. E por melhor que a pessoa fosse, jamais iria admitir que precisava dela. Nunca dependi de ninguém para nada, não seria uma mera assistente que receberia meu implorar. Carrego minhas decisões até o fim, mesmo estando errada, fazia com que aquilo se tornasse certo só para que não tivesse que dar o braço a torcer e admitir meu erro. Então temos mais uma caracteristica: orgulhosa.  E não vejo nenhum problema nisso.

A minha única preocupação naquela manhã era se a Vitória demoraria muito com a nova assistente, pois dois minutos na redação e eu já não tinha noção da programação do meu próprio dia. E uma coisa que me tirava do sério eram atrasos Juro que estava prestes a ter um ataque de nervos, quando avisto a queridona adentrar a sala de redação.

O ambiente da redação tinha vários outros jornalistas, cada um com sua mesa, algo bem padrão. Só a minha destoava, pois era repleta de exigências. Diva demais, as coisas deveriam ser do mesmo padrão que eu.

Girei a cadeira, de uma maneira dramática, ao me virar na direção de Vitória, que já me encarava com um ar muito superior o que me irritou de imediato.

— Bom dia, Nassar. Trouxe a pessoa perfeita para me substituir! — disse com plena confiança, fazendo-me arquear uma sobrancelha em sua direção com a desconfiança daquela fala.

— E onde ela está? — perguntei ao me levantar da cadeira, cruzando meus braços embaixo dos seios e a encarando, pois não tinha ninguém ali. Vitória virou na direção da porta e apontou para a mulher que estava lá parada.

Calça jeans preta, camiseta branca e jaqueta de couro preta. Casual, pensei, porém, informal para o ambiente. Toda confiante, ela caminhou em minha direção. obrigando-me a analisá-la de cima a baixo, verificando seu perfil por completo.

Vitória, que já passou tempo suficiente comigo e provavelmente sabia o que estava pensando, comprimiu um riso ao encarar uma, a outra de cada vez.

— Simone Nassar, essa é Soraya Vieira — anunciou minha ex-funcionária quando a mulher parou numa distância razoável.

— Você é minha nova assistente? — perguntei sem esconder minha surpresa. Por alguma razão essa mulher me intrigou assim que coloquei o meu olhar nela, principalmente pela maneira que ela se vestia. Não que tivesse uma roupa definida para esse trabalho.

—Oi! — disse ela, estendendo a mão para mim, que só olhei aquele gesto sem fazer nada.

— E bom conhecer você, Vieira — disse na tentativa de forçar um sorriso, que não saiu nada simpático. A mulher olhou para sua mão estendida, abaixando-a quando viu que eu não cumprimentaria — Espero que a Vitória tenha falado pelo menos o básico sobre seu serviço — Vieira assentiu. — Ótimo, então o que tenho programado para hoje?

— Deixarei vocês trabalharem em paz — disse Vitória com um sorriso bem cínico em minha direção, fazendo com que eu revirasse os olhos — Qualquer coisa me liga direcionou essa fala para a loira de cabelos lisos e foi embora.

— Bem... — começou Vieira, que estava com a minha agenda o tempo todo embaixo do braço, mas não tinha reparado até então, só quando ela a pegou na mão — Ao meio-dia você...
— Senhorita — corrigi ela, que apenas me olhou antes de continuar.

— A senhorita... — Começou novamente Tem um almoço marcado com a Fairte Nassar. Depois precisa passar na academia, às três você tem uma reunião com o chefe de edição. Às quatro, ensaio geral do especial "Saúde: Câncer". Já às seis, figurino, cabelo, maquiagem, e depois a preparação habitual para o Tebet'sNews

À medida que ela foi me contando, eu estava com meus olhos estreitados nela. Algo de muito diferente nela me chamava atenção, que a este ponto não devia ser mais a vestimenta. Quando Vieira me olhou, não desviei, o que a fez levantar mais o olhar.

— Ótimo, Vieira — disse ao voltar a me sentar na minha cadeira e passei a procurar pelo meu celular na bolsa — Toma aqui meu celular indiquei ao apontar o aparelho a ela, mas ao lado oposto que ela estava, obrigando-a a vir para o lado certo, minha esquerda — Verifique meus e-mails. Deleta o número da Vitória e adiciona o seu como Vieira no lugar, porque eu já esqueci seu primeiro nome — por um instante acho que ela disse algo, mas não estava prestando atenção, apenas continuei dizendo — Se tiver algo que você considere importante no meu e-mail, você pode me interromper. Quando for onze e meia venha me avisar do almoço. — Sem mais prolongar o assunto, voltei minha atenção para as minhas tarefas.

Boa noite, amores! Desculpem-me a demora. Prometo que o próximo cap é maior e eu trago em breve.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 16 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

De Frente Para o Amor - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora