GIZELLY B.
- Não acredito que você nunca ficou com outra mulher - ela disse. Eu estava deitada com a cabeça em seu colo, ao nosso lado uma taça 3 garrafas de vinhos. Duas já vazias.
- Eu não disse isso - falei olhando para ela - Eu nunca amei outra. É diferente. Na verdade tudo é diferente, Rafaella.
- Tudo o que? - perguntou curiosa. Suas mãos acariciavam meus cabelos, enquanto eu concentrava apenas em redocorar todas as expressões de seu rosto.
- Tudo - respondi simples - E seus namorados? Quer dizer, seus maridos, já que você não sabe namorar e sempre os leva para morar com você.
Ela acabou rindo com a minha fala, até por que sabe que é verdade.
- Não tenho muito o que falar - ela disse apertando de leve a ponta do meu nariz - Eram bons, me sentia bem com eles, mas no fim, nunca dava certo.
- É por que faltava eu, Rafaella - eu disse convencida e ela sorriu.
- O seu namoro não deu certo por que faltava eu? - perguntou, curiosa até. Não respondi, mas também não desviei o olhar - Em certos momentos da vida, a idade conta muito, o amor é a terceira opção, a quarta, a quinta, depende do quão sortudo nós somos.
- Como é? - perguntei sem entender.
- Só com amor nada funciona - falou - Eu me sentia bem em meus relacionamentos, em alguns me sentia segura, era apaixonada por eles. Mas o que eu sentia, de fato, não pesava muito na balança, o que pesava era como eles me faziam sentir.
- Era confortável? - perguntei e ela assentiu.
- Era cômodo - respondeu - Aquele amor avassalador, talvez, depois aparecesse. A gente aprende a amar com a convivência.
- Isso é o tipo de coisa que a minha vó diria - falei fazendo uma careta, mas eu entendi exatamente o que ela quis dizer.
- E ela estaria certa - ela disse e eu levantei, me sentando ao seu lado, de forma que eu conseguisse olhá-la de frente.
- E quem é o seu amor? - perguntei - E por que tão azarada para não viver ao lado de quem ama?
- Me fala do seu - ela disse sorrindo.
- O meu? - ela assentiu - Quando mais nova eu pensei que o meu amor era um cara que psicologicamente começou a me maltratar. Ele pedia desculpas sempre, e como eu achava que o amava, eu perdoava, por que o amor perdoa, não é? - dei um riso forçado - Era o que ele dizia. Depois dele, eu não soube mais o que era amor, mas sabia que qualquer coisa que se assemelhasse, era motivo para eu fugir. Até que eu encontrei alguém.
- E quem era? - ela perguntou após colocar alguns fios de cabelos atrás de minha orelha.
- Era uma mulher - falei enquanto fitava seus olhos - Eu me apaixonei por seus olhos meio esverdeados, meio que os meus olhos favoritos de todo o universo. Mas ela era linda, me perdi em cada curva de seu corpo, fazia questão de derrapar em todas elas. - sorrimos juntas, enquanto eu observava seus olhos sorrirem para mim - Gosto do jeito que ela me olha, me faz sentir única...
- Mas você é, Gi.
- Hoje eu sei, antes diziam que eu era uma qualquer - falei meio sem graça - Mas com ela era diferente, se o amor antes me machucava, o dela fazia curativo em todas as minhas feridas, e com cuidado e paciência, eu acabei ficando pronta para amá-la como ela deveria ser amada. Eu esperava ser o amor que ela sempre pedia em suas orações. Mas como a vida não é uma fanfic, o adeus pra gente chegou antes mesmo do nosso final feliz.
- Eu... - coloquei um dedo sobre seus lábios, impedindo-a de falar algo.
- Com tantos finais felizes que eu e ela tivemos em varios multiversos literários, eu me apeguei na esperança de que, apesar de estarmos longe, estávamos apenas nos primeiros capítulos da nossa história. Afastamentos são necessários as vezes. Eu era crente de que o reencontro ainda era certo, que o universo ia agir a favor e... - acabei sorrindo - da próxima vez que nos encontrassemos, dali pra frente, seria os próximos capítulos de um final feliz.