05. Indesejável.

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Marvelyn

Estacionei o carro do outro lado da rua, me possibilitando ter uma visão nítida da casa em que morei por longos dois anos. A frente da casa agora tinha tinta branca, a calçada era coberta por plantas lindas, que decoravam principalmente a parte debaixo da janela, janela que levava para meu antigo quarto.

O céu estava coberto por um véu azul claro, nenhuma nuvem aparente. Tão claro quanto uma vela. Abri a porta do veículo e deixei o mesmo, sentindo o ar esquentar à medida que me aproximava da casa, mas não tinha certeza se esse calor era bom ou ruim.

Bati três vezes na porta, o som de uma panela de pressão ecoava no fundo da residência, mas além disso, tudo estava em completo silêncio. Não esperava ouvir passos próximos à porta, pois todas as três moradoras daquele lugar conseguiam ser tão silenciosas com seus passos quanto uma pena.

Um ruído se fez presente, logo a porta foi aberta, revelando o rosto calmo de Nora. Quando me viu pareceu ter se enchido de alegria.

— Mave! Você veio. — Seu gritinho me assustou um pouco, mas não deixei de sorrir e tomá-la em meus braços. Seu cabelo ruivo como o da mamãe se misturou com o meu que voava com a ventania fraca.

— Como você está? — perguntei, adentrando a casa com a garota.

Nora tinha somente treze anos, e carregava todos os traços da mamãe em seu rosto. Mas diferente da mãe, ela era uma garota sorridente, feliz, mesmo passando por tudo aquilo dentro de casa, tão nova. Ela era a âncora da nossa família.

— Estou bem, e você? — se sentou no chão da sala — Faz tempo que não vem aqui, achei que tinha esquecido da gente. — Complementou.

— Jamais! — Me juntei à garota, vendo um quebra-cabeça pela metade em sua frente. Mas por demorar para vê-lo, quase acabei pisando em cima.

— Cuidado! Tá dando trabalho montar. — Esticou os braços ao redor da imagem.

Olhei para a imagem, pelo que estava formado, parecia uma floresta, coberta de cores diferentes de verde. Eu nunca conseguiria montar aquilo sozinha, mas Nora, adorava montar quebra-cabeças desde muito nova, eu tinha certeza que aquilo só seria mais um para sua lista.

— Ele tem quantas peças? — Estiquei minhas pernas no chão frio, sentada ao lado da Nora, consegui ver o pequeno papel em sua mão, era a imagem já montada do jogo.

— Esse tem cem, mas estou juntando dinheiro para comprar um maior. — Explicou, levando mais algumas peças para a figura.

— De quanto precisa? — Peguei uma peça qualquer e tentei achar seu lugar.

— Não quero seu dinheiro, Mave. Eu vou comprar com meu dinheiro. — Deu ênfase para meu. Olhei para a garota concentrada, mas decidi não tentar convencê-la. Além das características da mãe, ela também tinha herdado um pouco da personalidade, sabia que não iria conseguir mudar sua decisão.

— Onde Astrid está? — Sorri vitoriosa quando achei o lugar certo para a peça.

— Na cozinha. — Sorriu sem mostrar os dentes.

Sem demora, me levantei e fui em direção a cozinha. Já era esperado que ela estivesse na cozinha, o cheiro da sua comida vagava pelo corredor estreito, me guiando exatamente até o cômodo. De costas, Astrid cortava alguns legumes, seu cabelo vermelho estava preso em um coque alto e despojado.

Uma blusa larga e branca estava em seu corpo, mas não chegava a cobrir seu short preto curto. Eu sabia que ela já tinha me percebido, então somente puxei uma cadeira da mesa de quatro cadeiras e me sentei. Coloquei os dois cotovelos na mesa e apoiei minha bochecha em minhas mãos.

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