Ensinaram-me na infância que o texto precede o título, que o título era tal como a coroa do artigo, capitulo, conto, crônica. Na época, concordei, opinião apenas começando a se formar no ventre da mente.
Porém, hoje em dia, com a opinião prestes a nascer, digo que discordo. Talvez por essas dicas para criar títulos nunca terem ajudado-me em nada enquanto escrevia, talvez por eu ser uma Maria Foge das Outras (ou faz-as-outras-fugirem), criar um texto sem um bom título e ideia ou ter de titular um texto que eu não fiz sozinha deixavam-me como um pescador no meio do mar, sem vento, estancada acima do ponto mais fundo.
Esse texto aqui, inclusive, surgiu por eu discordar de uma amiga. Deixo claro que discordar, brigar e discutir são coisas diferentes, um dia haverá uma crônica sobre isso, então, por hora, apenas fique ciente de que discordei.
A criação de um título nunca pareceu-me tão complexa quanto os outros faziam parecer, entretanto, não aceitavam meu protesto sobre métodos; penso agora que talvez tenha passado por medíocre na arte de criar títulos graças a minha teimosia em não seguir os métodos tradicionais. Então, para aqueles que sofrem com os títulos, essa crônica é meu breve beabá de como essa mente estranha faz as coisas.
Os passos básicos são simples: tenha uma ideia para texto → resuma essa ideia ao mínimo, componha uma “vibe” → escolha palavras maneiras que entreguem essa vibe, de preferência olhando para o que está na sua frente. Pronto, você tem um título. O título, no método Arroz Manauara, é mais como um funil para o texto, permitindo que o tal não fuja na vibe que se quer passar.
Não sou genial, mas e pensar que desde os dez eu já estava fazendo algo que só aprenderia na faculdade, cof, cof.
Um título dos muitos meus que gosto é “Tempestade de Agosto”, e ele só aconteceu por causa das características climáticas de Agosto — tempestades imprevisíveis de levantar telhados seguidas de dias de sol contínuos, de rachar asfaltos — alinharem-se com a natureza da personagem apresentada no capítulo.
Mesmo o título dessa coletânea, veio da frase “mente vazia é oficina do diabo”, já que é justamente construída na ideia de todas as crônicas aqui serem escritas sem muito pensamento ou planejamento por trás.
Agora, você, mais sábio, já deve ter percebido que esse texto está se afastando da ideia de crônica, misturando-se com ensaio, mas não se preocupe! Isso vai acontecer mais vezes que o que eu espero. Nenhum gênero existe de forma pura, e enquanto houver características de crônica no texto, estará na coletânea, então apenas aceite de coração, sim?
Por fim, devo deixar claro que tal como na revisão de um texto mudam-se parágrafos inteiros, assim também ocorre com o título. E isso é bom, muito bom. Não esperem seu texto estar pronto para titulá-lo, pois o título não é o final do texto e sim o começo dele. Um bom título só funciona quando ele e o texto se entendem desde a infância e crescem juntos, assim um nunca vai se desconectar do outro.
Nos trinta minutos que escrevi isso, o título dessa crônica mudou quatro vezes, aliás.
Naja do Vento. É isso.
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Crônicas da Oficina do Diabo.
RandomUm conjunto de crônicas que aconteceram, acontecem e acontecerão dentro de uma mente vazia.