The Eras of us

A noite em que nos conhecemos

Itália,2016.

Gabi.

"Gabriela, você ainda não ta pronta?" Escuto o grito de Carol da porta do nosso quarto de hotel e reviro os olhos. Nós nem estamos atrasadas, já que a festa de Henri está marcada para às 22h e ainda são 21h.

Encontramos o italiano por acaso no restaurante do hotel, e automaticamente o reconheci. Henri e eu nos conhecemos há alguns anos, em um evento no Brasil para jogadores de vôlei. Eu estava lá como jogadora, ele, acompanhando o pai. Foi amizade à primeira vista, já que Henri é a pessoa mais animada e extrovertida que eu conheço. E por conta disso, estamos agora indo ao aniversário dele, um megaevento como ele mesmo gosta de chamar.

- Carol, fica de boa. To quase acabando. respondo minha amiga enquanto a vejo se olhar no grande espelho do quarto mais uma vez e alisar a roupa.
- Meu Deus amiga, vamos logo, precisamos aproveitar essa folga. Eu preciso beber.
- Eu sei, eu sei. É a nossa primeira folga em três semanas e blábláblá.- Carol me olha irritada enquanto a imito falar. - Pronto. Acabei. - Me viro pra ela com os braços abertos, numa clara expressão de "aí, como estou?"
- Tá linda, arrasou.- Ela diz e eu sorrio em resposta. Minha roupa é simples, porém me faz me sentir muito bem. Coloquei uma calça de alfaiataria preta e um body da mesma cor, com o decote reto nos ombros. Maquiagem leve e cabelo solto.
- Agora vamos, já chamei o motorista. Vamos passar pra pegar a Anne e...
- Ah, agora eu entendi a pressa- A interrompo e ela me fuzila com o olhar
- Cala a boca - começo a rir de suas bochechas vermelhas enquanto caminhamos para fora do hotel.

Sophia

22h57.
"você está pronto para a melhor noite da sua vida?"

Essa é mensagem que Henri mandou a todos os seus convidados como forma de confirmar a presença dos mesmos em sua festa.
Meu amigo decidiu comemorar seu aniversário em grande estilo, convidando todo mundo que é importante para ele e organizando um mega evento. Seus convidados vão desde celebridades da internet a astros de hollywood. Isso que dá ser um italiano nepobaby filho de ex jogadores da seleção de vôlei da Itália. Eu me encontro na categoria artista em ascensão, é claro.
Visualizei sua mensagem e não respondi, uma vez que estou indo para o local da festa nesse momento. Obviamente estou atrasada, o que é normal se tratando de mim. Mas em minha defesa, passei o dia trabalhando em novas músicas e perdi a noção do tempo.
Envio uma mensagem para as minhas amigas Sarah e Vanessa que estou a caminho e bloqueio meu celular, jogando dentro da bolsa e decidindo que hoje ele vai ser esquecido.

Gabi.

A festa agora está lotada, repleta de artistas, músicos e bailarinos. O espaço é enorme, mas mesmo assim parece que todos aqui se conhecem. De fato, uma noite e tanto. Carol, Anne e eu estamos num canto, perto da entrada. Bebemos um pouco, dançamos e conversamos. Henri passou por aqui e nós o cumprimentamos, desejando felicidades e bebendo um shot com ele, obrigação de todos os convidados, segundo o mesmo.
Observo um pouco o movimento do lugar até olhar em direção a porta. Automaticamente sinto meu corpo arrepiar. Adentrando a festa está a garota mais gata que eu já vi na vida. Alta, corpo de modelo. Postura confiante e jeito de rockeira alternativa. Seus cabelos são levemente ondulados, castanho avermelhados, a boca carnuda, os olhos igualmente castanhos. Eu acho que estou apaixonada. Nesse momento, ela sorri para alguém e eu sinto algo dentro de mim vibrar em resposta. Que mulher é essa?
Henri chega correndo a abraçando e a mesma retribui, apertando os olhos e aumentando o sorriso. Tomo um gole de minha bebida enquanto encaro mais uma vez a menina, e vejo quando ela cumprimenta mais algumas pessoas.
- Assim a menina vai desidratar - Anne fala rindo. Eu demoro a entender que é comigo, não querendo quebrar a visão que estou tendo.
- Credo Gabi, tá encarando a menina demais. Assim ela vai achar que você é louca - Olho finalmente para Carol e a vejo rindo, ela e Anne trocam um olhar.
- Ela nem me viu. E eu tava olhando normal. Você viu como ela é gata?
- Vai falar com ela. - Anne fala. Eu a olho e levanto uma sobrancelha - Que foi? É uma festa, vai se divertir. Carol assente e olha pra mim.
- Não, agora não. Não estou bêbada o suficiente. Quero olhar mais um pouco. - Tomo mais um gole e volto minha atenção à menina. Ela agora dança animadamente e bebe uma bebida colorida.
- Ai Gabriela, você não existe. - Carol ri e me dá um leve empurrão e eu sorrio, sem tirar os olhos da garota.
A ruiva se movimenta no ritmo da música, sorrindo e dançando com as amigas. Ela bebe, conversa, cumprimenta algumas pessoas, canta e dança cada música. Perco a noção do tempo a observando, até que ela some do meu campo de visão. A procuro com o olhar e não a encontro, e decido então que da próxima vez que vê-la vou falar com ela.