O próximo cliente era levemente peculiar, para os padrões dos habitantes franceses. Mas, não peculiar no sentido "estranho", era peculiar de ser fora do que normalmente vemos por aqui. O garoto parecia ser um pouco mais velho que eu, mas parecia carregar a alma de mil vidas. Seus olhos eram puxados, o que talvez os deixassem mais destacados. Seus olhos eram escuros, talvez fossem pretos. Seu rosto tinha traços marcantes, especialmente da mandíbula e do maxilar. Olhando pra cima, seu cabelo era um emaranhado de pequenos cachos castanhos que saltavam para todos os lados. Ele estava num conjunto em tons de marrom e preto, vestido um sobre tudo, calça plissada e um moletom xadrez por baixo com uma pequena gravata.
Algo nesse garoto me trazia uma sensação diferente, e algo estranho passava pelo meu corpo. Acho que fiquei desnorteada por uns 30 segundos, antes de tomar conta de que estava no trabalho e precisava atendê-lo.
— Boa tarde senhor, o que gostaria? — Pergunto, olhando para o caderninho de pedidos rapidamente antes de voltar o olhar para ele.
Ele abriu um sorriso, e as feições de sua boca formavam um formato quadricular, era um sorriso extremamente adorável.
— Uhm... O que você me recomendaria? Não sou daqui como dá pra ver — Ele ri e inconscientemente sorrio também.
Olho para o cardápio e penso um pouco, não era muito comum um cliente pedir minha recomendação, então não sabia exatamente o que dizer.
— Bem... Você gosta de café? — Pergunto. Era uma pergunta levemente fútil, mas ainda sim pergunto. E me agradeço muito por isso.
Ele faz uma careta boba, com um sorrisinho de canto.
— Não sou muito chegado sabe... Assim... — Ele parecia estar tentando bolar toda uma explicação, como se eu fosse me sentir ofendida por causa disso. Então ele desmancha, desistindo da atuação — Acho que você entendeu.
— Entendi sim — Dou uma risada sincera — Então... deixe eu pensar... você gosta de chá?
Pergunto, quase esperando que ele faça outra bobeira para decifrar se gosta ou não.
— Gosto da maioria — Ele diz, sem muitos rodeios dessa vez.
Concordo com a cabeça e passo os olhos novamente pelo cardápio.
— Aceita um chá tradicional com leite? — Jogo uma das alternativas que achei que ele poderia gostar.
— Eu adoraria — Ele sorri, feliz de ter encontrado uma bebida.
— Ok, gostaria de algum acompanhamento? Um lanche? — Digo, anotando o pedido do chá no bloco de notas.
— Acho que... Dois pãezinhos de canela, por favor?
Meus olhos se acendem e um sorriso surge no meu rosto sem que eu queira. Os pãezinhos de canela foram minha ideia para o café e pouquíssimas pessoas o haviam pedido, e eu adorava os pãezinhos de canela por uma longa história que guardo com muito carinho.
— Pode deixar — Anoto o resto do pedido com uma felicidade estranha invadido meu peito — Mais alguma coisa?
— Não, apenas isso.
— Tudo bem, seu pedido estará pronto em breve, só um instante — E vou voando para a cozinha.
— Que foi, garota? Viu o amor da sua vida é? — Ella pergunta boba, me vendo chegar que nem um furacão.
— Não, não! — Rio, e sinto algo estranho no peito, mas ignoro. Deve ser uma daquelas dores repentinas que sempre sinto. — Pediram meus pãezinhos de canela
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Amor, Jazz & Paris ; KTH
RomansaEra simples, não era? Julie não conseguia mais pensar em qualquer outra coisa a partir daquele fatídico dia em que ao tentar esvaziar a cabeça, a preencheu totalmente com a presença do que o mundo não conseguiria definir apenas como homem.