As Olimpíadas de Paris estavam em seu auge, e a cidade vibrava com a energia dos jogos. Para Yui, essa era a oportunidade de uma vida. Desde pequena, o skate havia sido seu refúgio, a fuga perfeita para os problemas em casa. Ela nunca imaginou que chegaria tão longe, competindo nos Jogos Olímpicos, mas ali estava ela, pronta para a final.
O parque de skate estava lotado. As arquibancadas estavam repletas de espectadores ansiosos para ver os melhores skatistas do mundo em ação. Yui, com seu cabelo preso em um coque desarrumado e usando seu capacete favorito, sentia o peso do mundo sobre os ombros. Mas não era a pressão da competição que a fazia suar, e sim a presença de seu pai, Cardoso, nas arquibancadas.
Cardoso nunca apoiara sua paixão pelo skate. Para ele, era uma perda de tempo, algo que não lhe traria futuro. Mas quando Yui começou a se destacar em competições, ele viu uma oportunidade de controlar ainda mais sua vida. Cada vitória, em vez de ser uma conquista para Yui, se tornava uma nova forma de manipulação por parte de Cardoso.
Enquanto esperava para fazer sua primeira volta na pista, Yui olhou para o público e viu Cardoso sentado na primeira fileira, com os braços cruzados e o olhar severo. Ela sabia que, independentemente do resultado, ele encontraria algo para criticar. Mas naquele momento, ela prometeu a si mesma que iria andar por ela e não por ele.
Quando seu nome foi anunciado, Yui pegou seu skate, respirou fundo e deslizou para a pista. Ela começou com manobras simples, mas logo aumentou a complexidade, executando ollies, flips e grinds com uma fluidez que encantava a todos. A multidão aplaudia a cada movimento, e por um breve momento, Yui se permitiu sorrir. Ela estava fazendo o que amava e sentia a liberdade que sempre buscou no skate.
Então, veio o grande momento: o *kickflip* sobre o corrimão central, uma manobra arriscada que poderia selar sua vitória. Ela se concentrou, alinhou o skate e se lançou no ar. O mundo pareceu desacelerar enquanto ela girava no ar, o vento em seu rosto, o silêncio total ao seu redor. Ela aterrissou com perfeição, e a multidão explodiu em gritos e aplausos.
Yui desceu da pista, suada, mas radiante. Os juízes estavam anotando suas pontuações, e era quase certo que ela estava entre as melhores. Mas antes que pudesse comemorar, ela viu Cardoso se aproximando nos bastidores, com uma expressão de desaprovação.
"Yui," ele disse friamente, ignorando os olhares de parabéns que ela recebia dos outros. "Você errou na aterrissagem do ollie. Estava torta. Isso foi patético."
Yui sentiu o peito apertar. Ela queria gritar que ele estava errado, que ela tinha acabado de fazer a manobra mais difícil de sua vida com perfeição, mas o medo a paralisava. As palavras dela morreram em sua garganta, substituídas pelo velho pavor que ele sempre conseguia evocar.
Antes que Cardoso pudesse continuar, Temi, outro skatista e amigo de Yui, apareceu, percebendo a tensão. Ele havia visto a cena e decidiu que não ficaria mais em silêncio.
"Isso é o bastante," Temi disse, se colocando entre Yui e Cardoso. "Ela acabou de fazer uma das melhores voltas que eu já vi. Você não tem o direito de falar assim com ela."
Cardoso olhou para Temi, surpreso pela intervenção. "E quem você pensa que é para se meter? Essa é minha filha, e eu faço o que acho melhor."
"Fazer o melhor não significa machucar," Temi respondeu, com os olhos fixos em Cardoso. "Yui é incrível no que faz, e você deveria estar orgulhoso, não tentando diminuir ela."
Yui, ainda em choque, observava a cena, sentindo uma mistura de medo e alívio. Ela nunca havia visto alguém enfrentar seu pai daquela maneira, e algo dentro dela começou a se acender, como uma chama pequena, mas persistente.
Cardoso, percebendo que estava cercado de olhares, deu um passo para trás. "Isso ainda não acabou, Yui," ele murmurou antes de se virar e sair, deixando a jovem tremendo de nervosismo.
Temi virou-se para Yui, com um olhar suave. "Você está bem?"
Ela assentiu, as lágrimas nos olhos, mas pela primeira vez, não eram de medo ou tristeza. "Obrigada, Temi," ela sussurrou. "Eu... nunca pensei que alguém faria isso por mim."
"Você não está sozinha nisso, Yui," ele disse com um sorriso. "Você tem amigos que se importam com você."
Yui olhou para o skate em suas mãos, sentindo a madeira sob seus dedos. O skate sempre foi sua fuga, mas naquele momento, ela percebeu que também poderia ser sua força. Com Temi ao seu lado e o apoio que sentiu da multidão, ela sabia que poderia enfrentar qualquer coisa, até mesmo seu pai.
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Continua.
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Yuto horigome e sn
RomanceTudo começou nas olimpíadas, quando... Para saber mais leia. - Não aceito cópias. Não aceito adaptações.