Capítulo 10

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Pov Alastor

22:43

Eu sentia o sangue pulsando em minhas têmporas, o calor da raiva queimando em minha pele enquanto a notícia se repetia em minha mente, como uma melodia macabra e incessante. Eu havia perdido o emprego. Meu emprego. Aquele maldito pedaço de segurança que eu lutara tanto para conquistar, arrancado de mim como se fosse nada novamente.

Minha mão tremia, segurando um copo vazio que eu nem me lembrava de ter pegado. Podia sentir o vidro frio contra meus dedos, mas não o suficiente para me ancorar na realidade. Tudo ao meu redor parecia distante, distorcido por uma névoa de fúria e desespero que ameaçava me engolir.

Um pedaço de mim queria rir, outro queria gritar. Mas tudo o que consegui foi deixar o copo cair da minha mão, o som do vidro se estilhaçando no chão ecoando na sala vazia resultando em Lucas se aproximar chateado. ⏤ Mais uma vez você está desempregado. ⏤ ele segura em minha mão sangrando, devido aos cacos. ⏤ E nem é isso que me deixa bravo, é por você ser sempre demitido por ter relações sexuais com os garotos que é suposto você defender. ⏤ permaneci calado sentindo minha cabeça quente, ele passava álcool em um pedaço de algodão sobre minha mão. ⏤ E com as fotos, as chantagens e os ferimentos você acabar na cadeia seria uma sorte se não te condenarem a morte. ⏤ após enrolar com ligadura em volta de toda minha palma ele continua me encarando com o rosto enrugado. ⏤ Não vai falar nada é?

⏤ O que você quer que eu diga? ⏤ reviro os olhos. ⏤ Desculpa por não ser perfeito e não querer usar o único meio arrumei pra me livrar que as cicatrizes que meu pai deixou em mim, irei mudar. É isso que você quer que eu fale? ⏤ perguntei em deboche.

⏤ Você é um idiota sabia? A única coisa que eu queria que você falasse é que iria dar a mínima pra não arrumar problemas com a delegacia.

Esse som, esse ruído quebrou algo dentro de mim, algo que eu mantinha trancado e acorrentado nas profundezas da minha mente. As memórias voltaram como uma enxurrada, imagens de uma máquina de choques e de gritos que nunca pararam de ecoar nos recessos da minha mente. Era como se o passado estivesse arrastando-me de volta, fazendo-me reviver tudo aquilo que eu lutava para esquecer. ⏤ Desde quando é que você ficou tão responsável? Há um mês atrás estávamos os dois juntos conseguindo conteúdo pra o meu site e transando com homens em lingerie. ⏤ meu pai fez isso comigo, e eu sobrevivi. Eu sobrevivi ao inferno e de alguma forma consegui criar uma vida, mesmo que miserável.

Mas agora... Agora essa vida estava ruindo diante dos meus olhos. Todo aquele esforço, toda a dor, para quê? Para que eu acabasse exatamente onde comecei; no fundo do poço, impotente e sozinho.

⏤ Vai se fuder Alastor, eu sei quais são os limites pra me manter em liberdade, você tem que parar de brincar com esse tipo de coisa. ⏤ ele suspirou.

⏤ Se eu morresse, você ficaria sem ter que me dar sermões como se eu fosse uma criança problemática.

⏤ Pior que você aje como uma. ⏤ ao escutar ele adimitindo isso senti um certo desconforto, meu irmão por consideração dizendo uma coisa dessas me deixou sem ânimo.

Nem continuei a conversa com ele e me levantei indo até ao meu quarto, me jogando na cama assim que empurro minhas malas no chão. Senti a familiar necessidade de controle borbulhar dentro de mim, um monstro que eu mantinha escondido, mas que sempre esteve lá, esperando o momento certo para se libertar. Eu precisava de algo, de alguém, para domar essa raiva, para me lembrar que eu ainda estava no comando. Meu olhar caiu sobre uma garrafa de uísque na escrivaninha, e antes que percebesse, já estava com ela na mão, bebendo como se fosse água.

Mas o álcool não era suficiente. Eu precisava de mais. Precisava de alguém para me submeter, para provar a mim mesmo que ainda tinha poder, que ainda podia controlar alguma coisa... Qualquer coisa. A raiva e o desespero se misturavam, criando um coquetel explosivo dentro de mim, um que eu sabia que acabaria ferindo alguém, talvez até a mim mesmo, mas eu não me importava.

A angústia de uma vítima | RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora