Capítulo 01

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Pov Lúcifer

08:00

O alarme do meu celular ecoa pelo quarto. Estendo a mão até a escrivaninha para silenciá-lo, sentindo uma dor de cabeça latejante. Ao mesmo tempo, observo as marcas em minha pele, lembrando dos eventos da noite anterior enquanto estava sozinho no banheiro.

Não é algo que eu aprecie, mas ao menos traz um certo alívio; frequentar a faculdade diariamente com calçados caros e roupas de grife atrai atenção, especialmente para alguém com problemas. Uma vez, fui assaltado por causa do meu relógio de ouro, presente forçado que dei a um deles enquanto era apontado um canivete para comprar drogas.

Enxugo uma lágrima ao relembrar, levantando-me da cama para pegar um frasco de paracetamol. Após engolir um comprimido, sigo minha rotina matinal. Ao sair do banheiro, já vestido, encaro meu reflexo no espelho. Os cortes ainda estão visíveis, e não tenho vontade de explicar isso aos meus pais. Abro o armário, encontrando uma blusa de frio preta.

Talvez assim você fica menos feio, seu estúpido.

Desço as escadas, encontrando meu pai pronto para sair, enquanto minha mãe está sentada, ainda mordiscando seu sanduíche. ⏤ Bom dia, filho. ⏤ ele me cumprimenta, dando um último gole de café.

⏤ Oi, pai. Vai trabalhar já? Ainda está cedo.

⏤ Tenho uma reunião cedo hoje. ⏤ ele segura sua pasta. ⏤ Vou indo. Não esqueça de procurar pelo relógio. ⏤ ele beija minha mãe e sai. Nenhum dos dois realmente sabe o que aconteceu com o relógio, e não tenho intenção de contar.

Procuro a caixa de cereal em vários armários. Geralmente fica em cima da geladeira, mas a encontro ao lado de alguns pratos chineses novos. Levo a caixa e uma vasilha para a mesa, percebendo que minha mãe está me observando. ⏤ Por que a blusa? ⏤ ela pergunta desconfiada, mesmo com o dia quente que está.

⏤ Estou com frio. ⏤ respondo brevemente.

Sinto-me desconfortável, perdendo completamente o apetite apesar da fome. Por que ela não pode simplesmente me deixar em paz?

Desde que completei dezoito anos, tenho me afastado muito deles. Na faculdade, descobri como o mundo realmente é: um lugar difícil onde nem mesmo em casa estou seguro. Sinto-me mal por não ser honesto ou aberto com meus próprios pais.

Estendo a mão para pegar a caixa de leite, e ela aproveita para segurar meu braço e puxar a blusa para trás, revelando minha pele marcada e ainda roxa. Ela só viu até o meu cotovelo, o suficiente para deixá-la preocupada. Puxo meu braço de volta, chateado por ela ter feito isso.

Ela se levanta, exigindo uma explicação. ⏤ O que é isso, Lúcifer?

⏤ São as mesmas marcas de sempre. ⏤ minto, usando a desculpa do assalto.

⏤ Esses cortes são recentes e profundos. Os assaltantes não fizeram isso com você, já faz um mês. ⏤ ela me olha seriamente. ⏤ Você está se machucando de novo? ⏤ suspiro, cansado disso tudo, e volto para o meu quarto, batendo a porta irritado. Vou chegar atrasado na faculdade.

13:58

Cheguei tarde na escola, ignorando os roncos que vinham do meu estômago vazio. A sensação de tontura era intensa, formigando minha pele e deixando minha mente fria, enquanto arranhava minha garganta seca.

Avistei Angel solitário na arquibancada, absorto no celular. Um sorriso leve brotou em meu rosto ao me aproximar dele, tentando disfarçar minha fome evidente.

⏤ O que você está fazendo aqui? Não era sua aula de física agora? ⏤ perguntei.

Ele deu um pequeno pulo de surpresa ao me ver e então me abraçou com alegria ao perceber que era eu. ⏤ Estava te esperando. Você não atendeu nenhuma das minhas chamadas.

A angústia de uma vítima | RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora