Capítulo 07

40 7 37
                                    

Quando finalmente destranquei a porta e abri-a, sentiu um turbilhão de emoções. O medo ainda estava presente, um resquício do pavor que senti ao ouvir os gritos e ameaças do outro lado. Meus pensamentos estavam embaralhados, tentando processar se a promessa de calma e segurança era genuína ou apenas uma estratégia para me capturar desprevenido.

No momento em que o abraço veio, uma mistura de surpresa e alívio tomou conta de mim. A princípio, meu corpo ficou rígido, pronto para se defender caso fosse necessário, mas à medida que sentia o calor e a suavidade do gesto, comecei a relaxar.

Senti um nó na garganta e meus olhos lacrimejaram mais intensamente. Era um alívio inesperado depois de tanto medo, e a gentileza do abraço contrastava fortemente com a tensão anterior. Talvez houvesse uma chance de redenção ou compreensão mútua, talvez ele tivesse visto o quanto se dopar estava o arruinado e parou com o ato.

Senti uma mistura de vulnerabilidade e segurança, como se naquele abraço pudesse finalmente soltar um pouco do peso que carregava. A raiva e o medo lentamente começaram a se dissipar, dando lugar a uma sensação de conforto e, talvez, uma faísca de esperança de que as coisas poderiam melhorar.

Assim que nos separamos ele segurou em minha mão suavemente me guiando com carinho até a cama onde ficamos sentados, o cheiro a sedativos explícito e com isso a justificativa pra sua calma. ⏤ Sobre o que?

⏤ Bom, primeiro eu queria me desculpar por as vezes ser... Bruto quando estamos a sozinhos, tenho a impressão que você não gosta do sexo pesado tanto quando eu. ⏤ respondeu acariciando meus cabelos de uma forma calma, não sabia se isso realmente era verdade mas ele de facto parecia arrependido.

⏤ Eu não gosto nada. ⏤ afastei a mão dele em mim.

⏤ Olha, eu tenho certeza que você só não gosta porque são suas primeiras vezes. E tenho certeza que depois de um tempo você vai se acostumar, prometo que não vou ser rude nas próximas vezes. ⏤ disse com um sorriso olhando diretamente para mim, seus olhos avermelhados se encontraram diretamente com o tom amarelado dos meus.

Me mantive imóvel com o coração apertado. ⏤ E se ao invés de termos próximas vezes disso, podemos cuidar do seu problema com químicos.

⏤ Se a gente começar a fazer com mais frequência talvez eu nem tenha tempo para consumir nenhum remédio. ⏤ ele deu risada da própria afirmação, permaneci cabisbaixo. ⏤ Ah, vamos lá Lúcifer. Eu amo você demais, você é um garoto lindo, atraente e inteligente. Não tem como eu não querer meter em você. ⏤ colocou uma das mãos ao lado do meu rosto, fiquei apavorado, a mão cobria quase todo o lado da minha cara.

⏤ Eu preferia ajudar você com seu vício, não quero mais relações sexuais.

⏤ Ah, não se preocupa, você eventualmente também vai querer. Se você não gostasse tanto quanto eu não teria dito que também me ama, não é? ⏤ pegou um isqueiro no bolso, junto com um baseado.

Acendendo o mesmo depois disso.

Olhei pra aquilo desconcertado, tinha certeza que aquilo era ilegal. ⏤ Isso é maconha? ⏤ ele preferia continuar com sua desordem de consumo do que escutar o que tô falando.

⏤ Sim, e das boas por sinal. Quer tentar? ⏤ perguntou depois de tirar o baseado da boca, entrega pra mim porém eu não sabia o que fazer. Realmente tinha curiosidade mas nunca iria fumar algo assim, nem mesmo cigarro tinha interesse em testar; muito menos um cigarro de maconha, em resposta entortei a boca e olhei de volta com um olhar desconfortável. ⏤ Não precisa se você não quiser. ⏤ esticou a mão pra pegar o baseado de volta e o entreguei sem falar nada. Enquanto observava consumindo o baseado, uma série de sentimentos conflitantes tomava conta de mim. Havia algo surreal em vê-lo assim, calmo, seus movimentos lentos e despreocupados, uma mudança drástica em relação ao seu comportamento habitual. Uma parte de mim se sentia aliviada por não estar na mira de sua agressividade naquele momento, mas outra parte estava profundamente desconfortável com a causa dessa calma: as drogas. ⏤ Ugh! Merda! ⏤ sussurou colocando a mão na testa.

A angústia de uma vítima | RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora