30.Caminhada

47 11 0
                                    

Votem e comentem ♥️
♥️Boa leitura ♥️
***************************************************************************

Callum
Depois de um longo dia resolvendo os assuntos do rancho, finalmente voltei para casa. O sol já começava a se esconder atrás das colinas, lançando um brilho dourado sobre tudo. Era um cenário bonito, pacífico, mas eu sabia que dentro de mim, as coisas estavam longe de serem tranquilas.
Eu havia deixado Jemih sozinho na casa, e isso me preocupava. Não porque eu achasse que ele faria algo imprudente, mas porque o silêncio entre nós dois era como uma faca afiada, cortando tudo o que antes parecia tão certo. Precisava falar com ele, mas não sabia como. Cada palavra parecia ter um peso que eu não estava acostumado a carregar.
Quando entrei na casa, a encontrei silenciosa. Caminhei pelo corredor até o ateliê, onde sabia que Jemih estaria. Ele sempre se refugiava na arte quando precisava de um escape, e era o que eu esperava que ele estivesse fazendo agora. Parei na porta, observando-o por um momento. Ele estava de costas para mim, completamente concentrado na pintura à sua frente. O ateliê estava cheio de telas, tintas e pincéis, mas tudo o que importava naquele momento era ele.
Aproximei-me devagar, tentando não interromper o fluxo dele, mas ao mesmo tempo, queria tanto falar com ele, quebrar aquele silêncio que nos separava.
— Jemih — chamei baixinho, quase hesitando.
Ele não se virou, mas parou o que estava fazendo por um segundo.
— Estou ocupado, Callum — respondeu, sem olhar para mim. Sua voz era calma, mas distante, e isso me atingiu mais forte do que eu esperava.
Eu suspirei, sabendo que ele estava se protegendo, mantendo-me à distância.
— Eu entendo — disse, tentando manter minha própria voz firme. — Mas... pensei que talvez a gente pudesse sair um pouco, dar uma caminhada pelos arredores. Sem pressões, só... um pouco de ar fresco.
Ele finalmente parou de pintar, mas ainda não me olhou. Fiquei ali, esperando, sem saber se ele aceitaria ou se continuaria a me afastar.
— Uma caminhada? — Ele repetiu, como se estivesse ponderando.
— Sim. Eu sei que você gosta dos campos ao redor da casa. Pensei que talvez fosse bom para nós dois.
Houve uma pausa longa, na qual ele pareceu considerar a ideia. Finalmente, ele suspirou e colocou o pincel de lado.
— Tudo bem, uma caminhada... mas sem conversa pesada, Callum. Quero apenas andar.
— Combinado — respondi, tentando esconder o alívio na minha voz.
Saímos do ateliê e fomos em direção à porta de trás, que levava ao quintal e aos campos além. O silêncio entre nós não era exatamente confortável, mas pelo menos estávamos juntos, e isso já era alguma coisa. Caminhamos lado a lado, sem muita proximidade física, mas com uma certa conexão que ainda existia, mesmo que fosse frágil.Os campos estavam verdes, o som dos pássaros e o farfalhar das folhas criavam uma melodia suave ao nosso redor. Jemih mantinha os olhos no chão ou no horizonte distante, evitando me encarar, e eu respeitei isso. Não queria forçá-lo a nada. Cada passo que dávamos parecia ser mais sobre ele do que sobre mim, e eu sabia que ele estava refletindo sobre as palavras que eu disse durante a viagem.
Caminhamos por algum tempo até que chegamos ao topo de uma colina que dava vista para toda a propriedade. Ali, parei, observando o panorama abaixo. O rancho parecia pequeno à distância, mas para mim, aquele lugar era o centro do meu mundo. E agora, mais do que nunca, eu queria que fosse o centro do mundo de Jemih também.
— Sabe, Jemih — comecei, quebrando o silêncio, mas sem olhar diretamente para ele —, não importa o que você decida. Se decidir que não pode me perdoar, ou que não quer tentar de novo... tudo bem. Eu só quero que você seja feliz, seja qual for a sua escolha.Senti Jemih parar ao meu lado, e finalmente, olhei para ele. Seus olhos estavam fixos no horizonte, mas havia algo ali, uma emoção que ele não conseguia esconder completamente. Eu não sabia se era dúvida, medo, ou algo mais profundo, mas estava lá, lutando para emergir.
Ele não respondeu imediatamente, e eu não pressionei. Sabia que ele precisava de tempo, que tudo isso era muito para absorver de uma vez. Ficamos ali, lado a lado, olhando para o pôr do sol, cada um preso em seus próprios pensamentos.
— Eu vou pensar nisso, Callum — ele disse finalmente, em um tom quase inaudível, mas que carregava mais peso do que qualquer outra coisa que ele poderia ter dito.
Assenti, aceitando suas palavras como o primeiro passo em um caminho que ainda precisávamos percorrer. Eu não sabia onde esse caminho nos levaria, mas sabia que, pelo menos por agora, Jemih estava disposto a caminhar ao meu lado. E isso, por enquanto, era suficiente.
O silêncio que se seguiu entre nós foi pesado, mas de uma maneira diferente, menos sufocante do que antes. Eu podia sentir que Jemih estava realmente considerando o que eu disse, e isso era mais do que eu poderia ter esperado. À medida que o sol desaparecia completamente atrás das colinas, o céu foi tingido de laranja e roxo, como se refletisse a complexidade dos sentimentos que estavam entre nós.
— Eu não sei como... — Jemih começou, hesitante, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. — Não sei como processar tudo isso, Callum. Parece... parece muito.
Eu me virei para ele, vendo a vulnerabilidade em seus olhos, algo que ele raramente deixava transparecer. Isso me tocou profundamente, mais do que qualquer outra coisa.
— Eu entendo, Jemih. E não espero que você decida nada agora. Tudo o que eu quero é que você saiba que, independentemente do que acontecer, eu vou estar aqui para você. Não importa quanto tempo leve, eu estou disposto a esperar.
Ele deu um meio sorriso, um que não alcançou seus olhos completamente, mas ainda assim foi um pequeno sinal de que ele estava se permitindo sentir alguma coisa. Isso me deu uma esperança renovada, mesmo que pequena.
— Esperar não é fácil para mim — ele admitiu, olhando para o chão, como se confessar isso fosse uma fraqueza. — Eu sempre fui do tipo que toma decisões rápido, que não gosta de ficar preso ao passado... mas com você, é diferente.
— Diferente como? — Perguntei, tentando entender o que ele queria dizer.
Ele suspirou, parecendo lutar consigo mesmo antes de responder.
— Porque com você, tudo parece ter mais peso. Como se cada escolha fosse decisiva, sabe? Eu sinto que não posso errar de novo, que não posso me permitir mais dores.
Eu queria tanto abraçá-lo naquele momento, dizer que estava tudo bem, que ele não precisava carregar todo esse fardo sozinho, mas sabia que ele precisava de espaço. Ainda assim, não pude evitar de estender a mão, tocando de leve o braço dele, uma conexão mínima, mas que para mim significava muito.
— Eu também tenho medo de errar de novo — confessei. — Mas acho que, às vezes, a gente precisa enfrentar esse medo juntos. Mesmo que seja difícil, mesmo que a gente se machuque no processo... Acho que vale a pena, se no final, a gente conseguir encontrar algo verdadeiro.
Ele me olhou, seus olhos buscando os meus, e por um momento, eu senti que ele estava quase pronto para me deixar entrar, para compartilhar esse peso comigo. Mas então, ele desviou o olhar novamente, fechando-se de volta em sua concha.
— Vamos voltar — Pede, sua voz baixa, quase um sussurro.
Assenti, respeitando sua decisão. Começamos a descer a colina, o silêncio voltando a nos envolver, mas dessa vez, parecia menos carregado, mais aceitável. Eu sabia que essa caminhada, por mais curta e silenciosa que tivesse sido, foi um passo importante. Jemih não estava pronto para me deixar entrar completamente, mas ele estava considerando, e isso era o que importava agora.
Quando finalmente chegamos de volta à casa, o céu já estava escuro, com as primeiras estrelas começando a aparecer. Parei por um momento antes de entrar, observando Jemih enquanto ele caminhava à minha frente. Havia algo nele que me puxava, uma força invisível que me dizia que não importava o quanto fosse difícil, eu precisava continuar tentando, continuar lutando por ele.
Ele entrou na casa sem olhar para trás, mas antes de fechar a porta, eu disse:
— Boa noite, Jemih.
Ele parou por um segundo, ainda de costas para mim, e respondeu, com a voz tão baixa que quase não ouvi:
— Boa noite, Callum.
Eu fiquei ali, parado por alguns minutos, tentando processar tudo o que tinha acontecido. Jemih ainda estava distante, ainda relutante, mas ele não estava completamente fechado para mim. Isso era um pequeno triunfo, um que eu agarraria com todas as minhas forças.Depois de um tempo, entrei na casa, sentindo um misto de cansaço e esperança. Eu não sabia o que o amanhã traria, mas estava determinado a continuar tentando, a continuar mostrando a Jemih que ele não estava sozinho, e que, apesar de tudo, eu ainda o amava profundamente.

Até Você Me Encontrar. - Spin Off Da Trilogia Não Chore Mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora