Capítulo 2

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Javier

Eu sempre achei que a vida era simples. Planos, estratégias, e uma clara divisão entre o que é razoável e o que é ilusão. Isso funcionava para mim, e, honestamente, eu não via necessidade de mudar. No entanto, naquela noite, no elegante restaurante de Madri, algo mudou. Isabel, com sua abordagem direta e apaixonada sobre o amor, me fez questionar algumas das minhas certezas mais profundas.

O evento de networking estava sendo um sucesso. Eu estava cercado por colegas e profissionais do setor de tecnologia, todos conversando sobre inovações e oportunidades. A atmosfera estava carregada de entusiasmo e ambição, e eu estava no centro disso, absorvendo a energia e trocando ideias com pessoas que compartilhavam a mesma visão pragmática que eu.

Havia um fluxo constante de conversas e propostas de negócios. A maioria das pessoas parecia concentrada em mostrar suas conquistas e em fazer contatos valiosos. No meio desse frenesi, Isabel apareceu, inesperada como um raio em um dia claro. A maneira como ela entrou no restaurante, com um vestido elegante e uma presença distinta, capturou minha atenção imediatamente.

Quando Isabel se aproximou e me cumprimentou, fui pego de surpresa. Ela parecia relaxada, mas havia uma determinação nos olhos dela que não podia ser ignorada.

—Olá, Javier. Lembra-se de mim? Isabel, da palestra sobre literatura e negócios. Como você está?

Eu a reconheci imediatamente. Isabel, com seu charme e jeito único, havia sido uma figura marcante na palestra. O fato de ela me abordar em um evento de networking, em vez de discutir literatura, indicava que algo estava em sua mente.

—Ah, Isabel. Claro, eu me lembro de você. Como está?

Ela sorriu, e eu percebi que ela estava aqui com um propósito.

—Ainda tentando processar toda a discussão da última vez. Mas vim aqui hoje para encontrar algumas novas perspectivas. Ouvi dizer que este é um bom evento para isso.

A resposta dela foi polida, mas o brilho em seus olhos sugeria que havia mais por trás de suas palavras. Isabel parecia genuinamente interessada em conversar, e isso despertou minha curiosidade. Eu continuei a conversa com ela, tentando entender suas intenções.

Ao longo da conversa, Isabel se mostrou envolvente e perspicaz. A forma como ela fazia perguntas sobre as tendências do setor e oferecia suas próprias opiniões demonstrava um conhecimento impressionante. Mas o que me intrigava mesmo era o que estava por trás de suas perguntas e comentários. Parecia que ela estava tentando descobrir algo mais profundo, e, por algum motivo, eu era o alvo de suas investigações.

No meio de nossa conversa, ela abordou um tema que me parecia fora de lugar para um evento de networking:

—Você mencionou na palestra que vê o amor como uma ilusão. Isso me fez pensar. Você nunca teve uma experiência que te fez questionar essa visão?

Eu a olhei, surpreso com a pergunta. O amor sempre foi algo que eu via como uma construção social, uma necessidade criada por nossas próprias inseguranças e desejo de conexão. Nunca achei que havia algo mais profundo.

—Eu acho que a vida é mais sobre sobrevivência e realização pessoal do que sobre experiências românticas. Pode ser um pouco pragmático, mas é assim que vejo as coisas.

Isabel parecia pensativa por um momento antes de responder.

—Entendo. Mas não acha que, às vezes, as pessoas podem encontrar algo genuíno e profundo, mesmo que não seja o que esperavam?

Sua resposta era esperta e refletia um desejo sincero de entender minha perspectiva. No entanto, sua visão contrastava fortemente com a minha.

—Você realmente acredita que isso é possível? Acha que há algo mais profundo no amor do que simplesmente um produto da nossa necessidade de conexão e segurança?"

A conversa continuou e, enquanto falávamos, comecei a perceber uma faísca de sinceridade em Isabel. Ela não estava apenas participando da conversa para fazer um ponto; estava tentando descobrir algo real, algo que poderia desafiar suas próprias crenças. Isso era algo que eu não via com frequência, e admito que me pegou de surpresa.

Depois de um tempo, a conversa começou a se desenrolar em outras direções, mas a interação com Isabel havia deixado uma impressão em mim. Ela tinha uma maneira de fazer você questionar suas próprias convicções, de uma forma que era desafiadora, mas também intrigante. Eu saí do evento com uma sensação de curiosidade não resolvida.

Na manhã seguinte, enquanto revisava os e-mails e planejando meu dia, não conseguia tirar Isabel da cabeça. Havia algo diferente nela, algo que estava mexendo com minha lógica calculista. Eu passei o dia pensando sobre a aposta que ela havia mencionado e sobre a maneira como ela parecia genuinamente acreditar no poder do amor.

O que me incomodava era que, apesar da minha visão racional e lógica, a conversa com Isabel havia criado uma fissura na minha percepção. Não era apenas a conversa sobre o amor que me perturbava, mas a maneira como ela se envolveu e como parecia acreditar com tanto fervor na possibilidade de algo mais profundo. Era como se ela tivesse uma visão do mundo que eu não conseguia entender completamente, mas que me fazia querer explorar.

A sensação de estar sendo desafiado e curioso não era algo que eu experimentava frequentemente. Na minha vida, sempre procurei controlar o que estava ao meu redor, sempre busquei resultados tangíveis e previsíveis. Isabel estava me empurrando para fora dessa zona de conforto.

O dia passou em um borrão de reuniões e compromissos, mas a ideia de Isabel e sua visão sobre o amor estava constante em minha mente. Eu sabia que precisava de um plano para lidar com isso, mas o que fazer com essa nova inquietação?

Foi então que decidi que precisava ver Isabel novamente. Se eu realmente queria entender o que ela estava tentando provar, precisava encontrar uma maneira de explorar mais a fundo suas crenças e descobrir o que havia por trás de seu fervor. Eu precisava de mais dados, mais informações que pudessem me ajudar a entender se havia alguma validade em suas afirmações ou se era apenas uma ilusão apaixonada.

No entanto, a questão permanecia: como eu faria isso sem me comprometer demais? Eu sabia que qualquer envolvimento adicional tinha que ser feito com cuidado, para que não perdesse o meu controle sobre a situação.

No final do dia, eu me vi revisando mentalmente a nossa conversa e pensando em estratégias para a próxima interação. Isabel parecia ser uma força da natureza, alguém que poderia, de fato, mudar minha percepção se eu permitisse. Mas eu também sabia que precisava manter minha abordagem prática e calculada.

O desafio estava apenas começando, e eu estava preparado para enfrentar o que viesse. Se Isabel queria provar que o amor era algo mais profundo, eu estava pronto para ver até onde ela poderia me levar. Mas, ao mesmo tempo, eu precisava garantir que não me deixasse levar por uma ilusão, por mais persuasiva que fosse.

Enquanto o sol se punha sobre Madri, eu me preparei para o que estava por vir. Isabel havia lançado a provocação, e agora era minha vez de responder. Estava pronto para mergulhar nessa jornada e ver até que ponto as convicções de ambos poderiam ser desafiadas. O jogo estava em andamento, e eu estava determinado a jogar com a mesma intensidade e estratégia que sempre aplicava em meus negócios.

E assim, com um misto de curiosidade e ceticismo, eu me preparei para o próximo passo. Isabel havia introduzido uma nova variável em minha vida, e eu estava pronto para explorar cada nuance dessa nova equação.


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