O dia depois de amanhã.

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Boa tarde! Bom dia! Boa noite!
Só aproveitem porque a minha espera será um pouquinho longa até chegar em casa...






















Eu nem preciso dizer como foi a minha noite, apesar de estar medicada e bem relaxada, eu não deixei de sentir dor. No meio da noite acabei despertando com uma câimbra horrível e o sono aproveitou pra ir embora, pra não acordar a mais nova, assim que a dor passou eu só levantei e fui pro banheiro do primeiro andar fazer xixi e renovar o remédio pra dor; o relógio marcava 4 horas e o termômetro dizia que temos um dia atípico, com sol e temperatura um pouco alta pra estação, logo o mês de dezembro se aproxima e fazer calor nesse momento não está no script da estação.
Com todo o arsenal possível de almofadas, duas bolsas de água quente, levantei minhas pernas no braço do sofá e só assim consegui dormir um pouco. Fui despertada com batidas na porta da frente, sem exageros na parte que eu pulei de susto com as batidas, eu não levantei na hora nem fiz qualquer barulho por motivos óbvios, só esperei a negra aparecer no pé da escada e me questionar sobre o porque deu ter dormido aqui e quem seria o louco de bater a nossa porta as 7 da manhã... sem fazer barulho eu a chamei pra perto e pedi que olhasse pela câmera, se não fosse um caso de emergência, essa porta não seria aberta; como era a minha vizinha de frente querendo ajuda com sua mãe fomos atender, a idosa decidiu fugir de casa no meio da noite e vir para a minha varanda dos fundos. A senhora, de 89 anos, foi diagnosticada a poucos anos com demência e junto das limitações que ela já tinha pra se locomover a colocaram num loop sem fim de crises e episódios de fuga. Nadine antes de adoecer foi professora e pesquisadora, uma mulher muito inteligente e culta; pelos relatos de sua filha, suas crises estavam controladas até pouco tempo atrás, mas parece que agora estão cada vez mais frequentes e nelas a mulher foge e sem saber muito pra onde ir, decide se esconder em minha varanda dos fundos, onde tenho um pequeno sofá com balanço, sem falar da vista extraordinária que tenho aqui. Realmente, é um lugar de pura conexão com a natureza e calmo, não a toa que chegando lá encontramos a mulher dormindo sentada e toda enrolada em seu cobertor...

--- Não se preocupe com isso Nádia, pelo menos ela não vai pra longe. Vou te passar o telefone do meu chaveiro e vc muda todas as fechaduras pra eletrônicas, assim ela não vai fugir com facilidade; e pelo menos uma vez no dia vc pode vir com ela até aqui, parece que a vista também faz muito bem pra ela...

Nessas horas me lembro da minha avó, com 84 anos, foi diagnosticada com alzheimer, e foi assustador a rapidez com que ela esqueceu do presente. Minha casa sempre foi cheia, movimentada e do nada ficou vazia porque no momento que se falou da doença, todo mundo deu um jeito de sumir pra não terem responsabilidade; sem falar que ela morou por muitos anos numa outra casa antes de mudar pra onde cresci, ouvia o tempo inteiro ela dizer que queria ir embora, ir pra casa, e ela chegou a fugir algumas vezes de casa. E o pior é que ela fazia no maior silêncio, sempre a deixamos na cama pra cochilar após o almoço e naquela nossa ida ao banheiro pra fazer um xixi! era a brecha dela pra sumir! e vai a gente atrás...
E esses episódios?! não eram nada, tinha que ver as nossas caras quando ela começou a afirmar com uma certeza assustadora que meu avô, falecido a mais de 20 anos, estava pra chegar do trabalho e que ela tinha de fazer a comida dele. E ai de quem teimasse com ela! ele estava chegando e ponto final! Com isso foram 2 incêndios na cozinha , um no fogão com a panela de peixe ensopado explodindo e o segundo no fogão novamente junto da bancada de temperos... Houveram muitas crises onde ela batia, mordia... até o dia que veio o derrame e ela acamou de vez, as fugas não aconteciam mais, nem as artes. Ela realmente tinha esquecido de tudo, somente o passado ficou vivo na memória dela, até que a doença foi a levando aos poucos e quando eu estava retomando meus estudos, depois de 3 anos ajudando a cuidar dela, ela se foi;
Aí vc me pergunta, por que raios eu estou lhes contando isso? é mais como um pedido, pois parece que virou moda esse diagnóstico, o povo anda sem paciência alguma pra tudo, e assim, na minha opinião? tenham calma, pare só um pouquinho e ouçam, juro que no momento em que a saudade apertar, serão esses momentos que vocês irão lembrar. Daquelas histórias sem pé nem cabeça, mas era ele ou ela ali contando, foi um momento entre vocês que nem o tempo vai ser capaz de esquecer.
E essa é a pior parte de se morar fora do seu país, além da saudade absurda, quando algo assim acontece vc não pode só largar tudo e voltar, tem que ficar e engolir tudo. Mas tudo isso me fortaleceu e se hoje eu tenho um restaurante com temática natalina, com todo o cardápio no ritmo é por causa dela, que sempre amou essa data e fazia questão de ter mesa farta e cheia todos os anos.

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⏰ Última atualização: Oct 09 ⏰

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