Capítulo 27.

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"Yoongi... Yoongi!" A voz me chamava, baixa, distante, quase como se viesse de um sonho. Meu corpo estava pesado, o efeito das bebidas ainda me entorpecia, mas aquela voz me puxava lentamente de volta à realidade.

Abri os olhos devagar, a cabeça latejando, e ali estava ele, de pé na minha frente, com aquele olhar de quem sabia mais do que dizia. Demorei um segundo para processar a presença dele ali, naquele lugar, naquele momento.

"Tae-hyung... Como me achou aqui?" Minha voz saiu rouca e lenta, ainda mole por conta do álcool que corria nas minhas veias. Não fazia sentido ele estar ali. E ao mesmo tempo, talvez fizesse todo o sentido do mundo.

Tae... Sempre foi assim, desde que éramos crianças. Nossos pais, amigos de infância, nos conectaram antes mesmo que soubéssemos o que isso significava. Mesmo quando a vida me levou para longe, para o exterior, nunca nos distanciamos de verdade. Ele sempre encontrava um jeito de me visitar, seja em Nova York ou em qualquer outro lugar que eu estivesse.

Posso dizer sem hesitar: Tae é meu melhor amigo. Conhece cada uma das minhas facetas, até aquelas que eu mesmo tento esconder. Ele viu minhas lutas, minhas vitórias, e até as partes mais sombrias da minha história.

O único problema é que, por mais que o tempo passe, ele nunca se adaptou ao meu novo nome. Ele ainda me chama de Yoongi, como se o tempo tivesse parado para ele. Sabe que isso me irrita, que me faz lembrar de coisas que prefiro deixar para trás, mas, ao mesmo tempo, é como se essa fosse sua maneira de me manter ancorado à realidade, de me lembrar de quem eu realmente sou, ou fui.

"Como eu não te acharia?" Tae-hyung respondeu, uma sobrancelha arqueada em provocação. "Você literalmente mandou sua localização." Aquele sorriso divertido surgiu em seu rosto, como sempre fazia quando ele estava prestes a me provocar. "E para de beber, Yoongi. Você já está velho demais para isso. Não aguenta mais a ressaca," completou em um tom de deboche que só ele conseguia usar sem parecer ofensivo.

Eu revirei os olhos, tentando não dar o braço a torcer, mas ele tinha um ponto. O corpo já não reagia como antes. Tae sempre soube como me puxar de volta, mesmo quando eu estava no fundo do poço - ou no fundo de uma garrafa.

Tae-hyung tinha uma vida que a maioria das pessoas consideraria caótica. Como piloto de avião, sua rotina era imprevisível, cheia de viagens internacionais e horários que raramente faziam sentido. Quase nunca estava na Coreia por muito tempo, mas, quando conseguia uma folga, sempre voltava para o seu refúgio: um rancho afastado, cercado por cavalos que eram sua grande paixão. Aqueles animais pareciam ser a única coisa que o mantinha ancorado quando não estava no ar.

Bem, os cavalos e Jimin, é claro. Seu ex-namorado. Tae e Jimin tinham uma história complicada, cheia de idas e vindas, mas o vínculo entre eles nunca desapareceu completamente. Mesmo após o término, Jimin ainda ocupava um espaço significativo na vida e no coração de Tae, mesmo que ele não admitisse isso facilmente.

"Por que o senhor está de conchinha com as garrafas vazias?" Tae perguntou, olhando ao redor e depois para mim com um ar de preocupação misturado ao seu típico humor afiado. "Você não é de perder o controle assim, Yoongi. O que aconteceu que te fez perder o foco?"

Ele se aproximou, puxando uma cadeira ao meu lado e esperando uma resposta. O tom leve agora dava lugar a uma preocupação genuína. Tae conhecia minhas fases, meus momentos de escuridão, e sabia quando algo estava errado, mesmo que eu tentasse esconder. Eu podia sentir o peso das palavras que ele não disse. Ele não estava apenas curioso, estava preocupado de verdade.

Olhei para Tae, incapaz de encarar a preocupação estampada em seu rosto. As palavras se formavam na minha mente, mas nenhuma delas parecia suficiente para justificar o que eu tinha feito. Eu queria confessar, queria dizer o quanto fui covarde... Que fugi e deixei Victoria para trás.

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