Partindo rumo à cidade humana, Loan não usava proteção contra o sol , pois não era mais necessária. Ele gostaria de uma companhia, mas era dia e seu morceguinho, Shard, não iria com ele. Para piorar, Loan se atentou a um pequeno detalhe, ele não sabia dirigir uma moto. Seu pai não era o homem mais paciente ao ensinar, mas isso não importava agora. Loan não desistiria tão fácil, iria sem saber mesmo.
A estrada passava pela "floresta da neblina", que fazia juz ao nome e era repleta, principalmente, de pinheiros, e, por sorte, não era movimentada. Kerlixôta não era tão óbvia em sua localização, as pessoas que passavam por ali eram geralmente vampiros, ou pessoas perdidas e inocentes. Se o caso fosse a segunda opção, elas não duravam muito tempo. Já os morcegos, pareciam gostar da floresta escura, pois ela estava repleta deles por onde a estrada levava.
Até chegar ao seu destino, Loan estava aproveitando a vista, que era sombria, mas o agradava. Também aproveitava a sensação do sol em sua pele, que o acompanhou durante todo o caminho. Ele soube que estava perto de chegar quando não viu mais morcegos a sua volta.
Às 13:23, Loan chegou à cidade, apressado e ansioso com a ideia de encontrar respostas. Era possível ver bem mais pessoas do que já havia visto antes. Bem mais do que havia visto no dia que acompanhou a coleta. Largou a moto na beirada de uma calçada qualquer, enquanto avistava quem escolheria para pedir informação. Um senhor de pele pálida, que parecia ter vivido cerca de 40 anos, usava terno, o que foi suficiente para fazer Loan considerá-lo "um cara sério" a quem podia interrogar.
Apertou o passo em direção ao homem e o chamou. Esse, por sua vez, virou-se e aguardou, como quem dizia: "o que você quer?".
- Como matar a sede sem ter que ferir ninguém? - Arriscou ao ir direto ao ponto.
Surpreendentemente, o homem sorriu.
- Beba água, jovem. - Disse sem questionar, como se soubesse o motivo da pergunta.
- O que é água?
- O que mata a sede! - declarou.
- Onde posso encontrar isso?
- Em um rio limpo, mas há quem venda.
- Vender?
- Pois é! Não me parece certo também...
- Não, eu quis dizer... - Loan balbuciou - Perdão, esquece. Muito obrigado! - Loan disse de fato grato, mas intrigado com a maneira simples do homem de encarar o assunto.
"Quem é você?", disse ao homem, que respondeu certeiramente:
- E isso importa? - Filosofou - Sou Alirk. Eu costumava ser como você, por isso fico feliz em ajudar.
Loan o fitou perplexo e concluiu: ele encarava um ex vampiro, o que é engraçado. Irônico. Por um momento, Loan ficou mais confuso do que já estava.
- Como você está vivo?
O homem riu.
- Olha, eu não sei exatamente o que te disseram, mas provavelmente é mentira, principalmente se tiver saído da boca de Akasha. Ela é quem comanda tudo, ou pelo menos era em meus dias na cidade vampira.
- Pelo que ela disse, eu achei que... Bom, que eu estava para morrer ou algo assim.
- Todos os vampiros que foram libertos da maldição vivem aqui.
- E não são caçados?
- Temos paz com os humanos agora. Agimos contra a agência sanguínea.
- Se vocês têm a paz, por que não revelam para os vampiros que tudo foi resolvido? Qual é o motivo de tudo isso, afinal? - Loan começou a ficar inquieto.
- É o que eles querem.
- O QUE?! - Exclamou, perplexo com o rumo que a conversa estava tomando.
- Vejo que tem muitas perguntas. Você pode viver aqui conosco e não precisará mais passar por nada disso, você foi liberto, afinal. A nossa missão, agora, é ajudar quem, como nós, não quer mais viver naquela imundície.
- Mas e meus pais? Devo obediência a eles, certo? - Disse, o coração batendo forte e acelerado.
- Obviamente. Mas o que é certo está acima dos seus pais. É por isso que a raça vampira ainda existe. Porque há uma cultura por trás de tudo isso. É quase como uma maldição hereditária.
- Isso existe?
- Você acaba de provar que não, pois ela não tem mais poder sobre você. Não se pode culpar seus pais, uma vez que todos têm o direito à escolha.
"Com dezesseis anos, todo vampiro deve escolher permitir que seu lado sombrio desperte.", ecoava na mente de Loan.
- Eles não sabem. Eles não tem como saber! - Falou, enquanto seus lábios provaram que ainda havia como se tornarem mais pálidos, e suas mãos cobriam o rosto.
- Todos sabem.
O silêncio tomou o local, o que soou insuportavelmente alto aos ouvidos de Loan, que ficou quieto.
- Seu pai sabe. - Disse em um suspiro.
- Você nem conhece o meu pai. - Disse, com uma lágrima nascendo nos olhos.
- Razvan, não é? Você é Loan! É a cara dele. Me lembro de quando fiquei sabendo que sua mãe estava grávida, há uns dezesseis anos atrás. Pouco depois disso, tive a revelação de que estava vivendo no mal e fui embora de Kerlixôta. Éramos parceiros na perversidade, mas não consegui o convencer de mudar. Ele era ganancioso... Deve ter chegado longe na A.S.
- Então você conhece...
- É, e eu me entristeci muito pela escolha dele. Mas foi dele.
Loan enxugou o rosto na manga de sua blusa.
- Preciso falar com eles! Obrigado... Eu acho.
- De nada. Se você voltar, vá à uma delegacia e diga que está procurando por Alirk, assim você vai me encontrar!
Andando até onde deixou a sua moto, uma mulher aparentemente jovem adulta de pouca altura e cabelos cacheados parecia o encarar. Quando subiu na moto e ligou, um grito pareceu vir dela:
- Minha moto! - Gritou.
Loan desacreditou. A moto roubada, que não sabia a quem pertencia até então, parecia ser dela, que aproximou-se lentamente, não parecendo exitar ou temer, pois haviam muitas pessoas na rua.
- Essa moto é minha! Venderam pra você? - A moça disse, autoritária.
- Pega! - Disse Loan, sem paciência, magoado e sem intenção de ter qualquer diálogo por pelo menos algumas horas. - Tanto faz. - Falou, o que era obviamente mentira, mas ele estava com a cabeça cheia demais para responder de outra maneira. Fora o fato de que, de fato, a moto fora roubada por seu pai, ou por alguém pago por ele, o que Loan concluiu ser injusto.
A mulher, que achou sua atitude estranha, pegou a moto e foi embora.
Loan agora, precisava encontrar um jeito de chegar em casa, e, durante o caminho, uma desculpa para dar para seu pai.
- Você voltou mais rápido do que eu imaginei que voltaria.
- Preciso de carona até Kerlixôta. Roubaram a minha moto roubada.
Alirk riu.
- Que situação irônica... - Disse compassadamente - Respondendo ao seu pedido, eu não sou bem-vindo lá. Não posso ser visto por ninguém.
- Ninguém vai te ver.
- Você não pode ter certeza disso. - rebateu o homem.
- Não posso, mas achei que sua missão fosse apoiar os libertos. - Disse sarcasticamente.
O homem o encarou por alguns segundos e disse em um suspiro:
- Eu vou me arrepender disso.
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A Maldição do Sangue
Про вампировLoan vive na cidade vampira com sua família, mas as coisas deixam de ir bem quando ele se vê obrigado a fazer o que n acredita ser certo. Honrar os pais é certo, mas... SERÁ QUE os honrando ele estará se honrando? Acima de tudo, será que honrará ao...