Loan segurou o corpo de Alirk pelas botas e o levou para fora da casa. Lá, o sol queimava vampiros, ou seja, seus pais não estariam.
Olhou para seu rosto morto, e por um momento sentiu como se fosse ele quem tomou a facada.
- Por que eu não ouvi você? - Se arrependeu, angustiado. - Acho que eu precisava ver para acreditar, e agora vi...
Deixou o corpo e procurou o carro de Alirk, que estava disfarçadamente estacionado atrás de algumas árvores perto de sua casa. Na verdade, no mesmo lugar onde estava quando chegaram.
A porta estava arreganhada e no banco do motorista Loan encontrou a garrafa de água que recusara antes. Tomou alguns goles, o que saciou uma sede que Loan nem mesmo sabia que tinha.
Fuçando o porta-luvas, encontrou um livro antigo. Ao abrir, Loan se deparou com um manual. Um manual de como viver uma vida sublime. Se perguntou se Alirk o deixou ali pois sabia que Loan ia precisar, mas percebeu que não. O homem também precisava dele, foi assim que conseguiu fugir e não ser encontrado por tanto tempo, e talvez nunca teria sido se Loan, involuntariamente, não tivesse o trazido diretamente para isso.
Começou a folhear e notou que não se tratava somente de um manual de fuga eficiente. Parecia abordar todo tipo de problema conduzindo às melhores decisões. Loan pegou o livro e o que sobrou da água para si, mas percebeu que não havia como ir embora.
De repente, ouviu passos. Quem poderia ser? Loan já estava de saco cheio das coisas dando errado.
Um homem, visivelmente humano, caminhou em sua direção. A última vez que isso aconteceu não acabou bem. Mas, mesmo sem confiar em um desconhecido, estranhou ao notar que ele não era vampiro. Suas orelhas, pelo menos, eram redondas. Sua pele era retinta demais para a de um vampiro. Mas como um não vampiro estaria sequer vivo em Kerlixôta? Com exceção dele, claro, porque era filho do patrão da Agência Sanguínea.
- Você não parece um vampiro... - Inferiu Loan, arriscando conversar pois estava curioso.
- Não sou um vampiro, sou amigo de Alirk, ele me disse que você precisaria de mim, disse também que iria terminar de cumprir uma missão da qual talvez não voltasse. - Revelou.
Loan achou a situação estranha, mas ele era humano e a estórinha fazia sentido, então sentiu preguiça de desacreditar.
- Ele sabia que ia morrer?
- Sim. Quero dizer... Não... É complexo. Quando decidiu te trazer ele não tinha certeza, mas imaginou que era provável, afinal ele é procurado há anos em Kerlixôta por traição à A.S. Mas quando percebeu, ou, achou, que você seria executado, ele constatou que as chances de morrer aumentariam ao tentar te salvar. Ao expor seu rosto a agentes. Mas acima de qualquer estatística, sua esperança estava em sua vontade de te ajudar. Ele queria continuar vivo para isso.
- E teria continuado. Ele teria continuado vivo se não fosse por... Se não fosse por meu pai! - Loan se lamentou ao falar.
- Tecnicamente, ele não sabia que ia morrer, mas imaginava.
- E chamou você? Como fez isso tão rápido?
- Ele não me chamou, ele me disse que você precisaria de mim, e isso foi antes de você voltar sem sua moto. Quem me chamou foi você.
Loan riu.
- Chamei, foi?
- Me invocou através do livro. Por isso estou aqui. Serei, como fui dele, o seu guia para uma vida sublime!
Loan abriu a cara fechada e o seguiu, o homem dirigiu o carro de Alirk até a cidade humana e, lá, abrigou-o, cuidou dele e o ensinou a viver. Viver com o sol; com a sede, viver liberto. Viver vivo.
FIM
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A Maldição do Sangue
VampireLoan vive na cidade vampira com sua família, mas as coisas deixam de ir bem quando ele se vê obrigado a fazer o que n acredita ser certo. Honrar os pais é certo, mas... SERÁ QUE os honrando ele estará se honrando? Acima de tudo, será que honrará ao...