3. A AGÊNCIA TIRANA E UMA METANOIA

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Alirk tinha um carro cinza de modelo xc90, da Volvo. Loan não conhecia modelos de carros, e tinha visto poucos durante sua vida, mas se impressionou com o dele.

— Você é rico né, cara? 

Alirk o fitou sério.

— Hoje posso dizer que sou muito próspero financeiramente. 

— Não existem muitos carros em Kerlixôta. — O lembrou.

— Quase me esqueci disso, já fazem anos que não volto lá. Pois é, eles não têm carros. 

— Acho que é um privilégio poder voar, não é? Quero dizer… Eles não precisam dos carros.

— Eles realmente têm suas “vantagens” — sinalizou aspas com uma das mãos — , mas elas não são de fato necessárias. Aliás, acho que ter poderes os faz pensar que são superiores, quando na verdade não são.

— Por que não? — Disse Loan com um sorriso malandro.

— Não há mérito naquilo porque acontece através de dons vampiros. 

— E o que há de errado com isso? — Perguntou preocupado, principalmente com sua família.

— Parece que eu não consegui te ensinar nada, não é jovenzinho? Não há mérito em qualquer conquista proveniente do que é errado. Por mais que não tenhamos mais essas coisas, a liberdade já nos basta.

— Você não se arrepende de ter deixado toda a sua família; tudo o que conhecia e amava para “ser liberto”? — Indagou Loan.

— Não, e quer saber, eu desisto de tentar te convencer de qualquer coisa, cabeça dura. Veja com seus próprios olhos quando chegar à sua tão amada cidade.

Não conversaram muito durante o caminho restante.

                                                              

— É aqui. — Disse descendo do carro.

— Garoto, é melhor que eu saia daqui rápido. Você já tem o que queria e, inclusive, sabe onde me encontrar.

— Alirk, espera. Fica aqui! Ninguém deve se lembrar de quem você era há dezesseis anos. Você é amigo do meu pai, certo?... — Dizia, mas foi interrompido rapidamente.

— Loan! Você mal tem noção de quem é o seu pai. Eu sou diferente dele. Eu sou o homem que vai sair daqui para não voltar nunca mais, mas sem problemas, porque eu estou indo embora. Eu nem queria ter vindo aqui.

Ao concluir a frase a respiração de Alirk estava ofegante e Loan parecia ter se magoado de algum jeito, como se rejeitasse algo, uma vez que o assustava.

— Certo, então vá embora.

Alirk, que ao contrário de Loan ainda permanecia no carro, pegou uma garrafa antes guardada no porta-luvas e estendeu para que Loan segurasse.

— Pegue isto.

— O que é?

— Água.

O olhar de Loan parecia morto.

— Eu não quero —, recusou virando as costas e entrando em casa.

                                                  

Entrando em casa, na ponta dos pés, Loan adentrou a sala de estar. Seus passos eram leves e, de dentro de caixões, seus pais não conseguiriam o escutar. Os olhos do jovem, porém, arregalaram-se ao notar que estavam bem à sua frente. 

A Maldição do SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora