A FAVORITA

02

Ela andava lentamente chegando as escadas para subir exausta até o seu quarto. Rosé continuou sua lenta caminhada para entrar no cômodo luxuoso em que tinha sido hospedada. Não era um bom horário para fazer barulho, era tarde da noite, ela jantou algo simples na cozinha depois do trabalho e ficou conversando um pouco com os outros empregados. Seu olhar percorreu a porta do quarto de Jisoo ao lado do seu. Talvez estivesse lá, descansando, ou em algum outro cômodo da casa. Ela parecia uma mulher bem séria e profissional, mas de um jeito diferente de Jennie, que mais parecia furiosa.

Ao entrar em seu quarto largou as botas de couro marrom na entrada junto as meias velhas, e retirou a blusa machada de terra e alongou as costas. Rosé caminhou até o banheiro, retirou o resto das roupas e as colocou no cesto ao lado da pia. Tomou um longo banho para aproveitar o banheiro novo, e bem maior que o seu antigo, soltou o cabelo ruivo para pentear, depois de penteado, vestiu-se com a camisola clara de cor rosada e deitou-se na cama complementar cansada. Os lençóis eram muito cheirosos e macios. Nunca tinha experimentado algo tão aconchegante como aquilo. Mas, ainda assim, sentia muita falta de sua família e de sua casa.
Seus pais gostavam de ficar na sala conversando, lendo ou tomando alguma bebida quente. Lembrou-se do cachorro raspando as unhas no chão de madeira, fazendo barulho de madrugada, ou de vê-lo deitado largado no tapete que ficava no centro do quarto. Rosé sentiu falta do seu cantinho bagunçado, cheio de livros, plantas e o cheiro de terra molhada. Mas, não era tão ruim estar ali, no conforto e aproveitando de um bom aquecedor. Não demorou para adormecer ao som do barulho que árvores faziam lá fora com o vendo. Rosé estava completamente adormecida.

— As minhas costas não param de doer, tenho que trocar essa cadeira urgentemente. — Jennie reclamou de dor mexendo o pescoço para lado e para outro tentando aliviar um pouco a tensão.

— Talvez o problema não seja a cadeira. — Aplicou Jisoo olhando-a por cima dos óculos de grau. — Você tem trabalhado muito.

— Alguém tem que fazer essa galeria funcionar. E com um evento vindo, estou atolada de coisas para fazer.

— Mas, a exposição é daqui duas semanas.

— É por isto que estou preocupada! — Jennie suspirou massageando suas têmporas.

Jisoo levantou-se do sofá do escritório e andou até ela com um copo de água e um remédio para dores de cabeça. Jennie aceitou o remédio, tomando-o logo em seguida.

— Você deveria ir para a cama, está tarde. — Aplicou Jisoo.

— Está tudo bem, falta só mais esse documento e eu irei. — Jennie voltou sua atenção para o notebook novamente. — Mas, você deveria ir.

Jisoo se preocupava em vê-la trabalhando demais. Mas, sabia que no fundo, se atolar no trabalho era uma forma de Jennie escapar de suas dores internas. Ela andou até as costas da mulher a sua frente e lhe tocou os ombros com as mãos, delicadamente começou uma massagem. Jennie sentiu um leve arrepio percorrer por seu corpo ao sentir as mãos de Jisoo tocarem suas costas. Ela tentou voltar a se concentrar no trabalho a sua frente, mas a cada vez que Jisoo massageava aquela região uma parte sua amolecia, como se quisesse muito fechar os olhos e se entregar aquele toque.

— É melhor você parar... — Jennie tocou a mão dela para retirar de seus ombros. — Não vou conseguir me concentrar.

Jisoo retirou suas mãos. Jennie moveu o corpo na direção dela, ambas se encaram profundamente. Jisoo queria muito se aproximar, mas sabia que não era permitido, elas estavam sobre os olhos da justiça, e ela não queria arriscar mais uma vez a guarda de Ella por um capricho seu, ela já sentiu culpa o bastante. Jennie sentia muita saudade dos momentos íntimos que compartilharam juntas, mas sabia que não era o certo naquele momento.