Rich Man's World

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Pessoas costumam fazer de tudo pelo dinheiro.

Pelo preço certo, melhores amigos se virariam um contra o outro num piscar de olhos, sem sequer hesitar ou pensar nos momentos felizes antes de puxar uma arma para cima de seu conhecido. Por alguns dígitos a mais numa conta bancária, pessoas arrancariam seus olhos e cortariam suas línguas fora apenas pelo prazer de saber que poderiam gastar com tudo o que quisessem; pelo cheiro das notas verdes em suas narinas e pelo frescor delas nas pontas de seus dedos, elas se jogariam da ponte mais alta e venderiam seus primogênitos, tudo apenas para garantir uma vida mais confortável para si mesmos.

Não se pode julgar as motivações alheias para conseguir uma vida melhor para seus futuros netos e filhos, afinal, no fundo todos ainda são primatas: seres irracionais, movidos pela ganância e pela luxúria, e por mais que tentem não ceder aos pecados mais tentadores, sua resistência nunca dura por muito tempo. Uma hora ou outra, mais cedo ou mais tarde, todos cedem ao valor do dinheiro, todos se rendem ao seu poder e ao que simples notas podem mudar em suas míseras vidas.

As coisas não eram muito diferentes com Rose, apesar da mulher gostar de pensar que as coisas eram extremamente diferentes em seu único caso. Por valores mais altos do que muitas pessoas poderiam sonhar em seus sonhos mais doces, ela já havia seduzido homens de todos os tipos de classes e credos; juízes, jogadores de futebol, governadores, a lista não se acabaria tão cedo nem mesmo se a mesma tentasse explicar os nomes complexos por três dias seguidos. No fundo, ela queria sentir vergonha de si mesma por ser tão fácil de se vender, mas a quem Rose estaria enganando? Provavelmente, qualquer um, menos a si mesma.

No fundo de sua alma, aonde seu coração ainda batia com o ritmo de tamborins, a mulher gostava do poder que vinha com o fato de usar seu próprio e mero corpo, suas frágeis curvas, ao seu próprio favor. Ela seria uma estúpida se tivesse continuado com seu emprego rotineiro, das 9 às 5, como seus pais provavelmente esperavam que ela seguisse; apenas mais uma mera ovelha no sistema de tantas outras. Não havia necessidade de estudos, nem de trabalho árduo em sua vida - bastava que a mulher piscasse docemente um de seus olhos e mexesse apenas um pouco mais de seus quadris que todo o mundo cairia diante de seus pés.

Quando Rose recebeu aquela proposta quase que indecente de tão absurda, ela pensou duas coisas somente: que ela era ou muito sortuda ou simplesmente burra demais ao ponto de cair e aceitar aquela condição. Não fazia sentido, aquela situação não se encaixava em tantas outras que compunham seu currículo e não deixavam mentir quais eram as verdadeiras intenções de qualquer pessoa que pensasse em contratar os seus serviços - e ainda assim, era a maior quantidade de dinheiro que havia lhe sido oferecida em toda a sua carreira, um cheque tão absurdamente grande que mudaria sua vida por um completo, ao ponto de que talvez ela sequer precisaria pensar em trabalhar mais em algum momento de sua vivência.

Com o tanto que aquelas pessoas estavam lhe oferecendo, ela poderia realizar seu sonho infantil, quase que ingênuo demais para alguém cujas curvas poderiam ser tão fatais quanto as mais afiadas facas possíveis; ela poderia se mudar para uma casa no campo, talvez bem afastada de toda a civilização e todo o caos que lhe cercava durante o dia-a-dia. Talvez ela finalmente fosse poder ter um cachorro, um de porte grande como ela sempre sonhou, para cuidar de sua propriedade e lhe fazer companhia durante o decorrer dos dias - talvez ela pudesse até mesmo adotar dois cachorros, quem sabe um gato, ela certamente iria gostar de ter a casa cheia de serzinhos de quatro patas, latindo e miando e fazendo sua vida um pouco mais genuinamente feliz.

Tudo o que ela tinha de fazer era aceitar o maldito emprego, o emprego que parecia bom demais para não ser algo que a colocaria em um grande risco.

Por alguns segundos, Rose lançou olhares entre o telefone em cima da escrivaninha, no canto de seu apartamento, e o pequeno pedaço de papel que lhe dizia o número a ser discado caso a resposta para tal proposta fosse positiva. Após olhar para estes dois lugares por mais umas duas ou cinco vezes, sem saber exatamente o que fazer, a jovem se sentou em frente à escrivaninha; por mais alguns minutos, esta encarou o telefone, suas mãos trêmulas e hesitantes, antes que seus dedos começassem a discar um número até então desconhecido:

- Olá? - Ela respondeu ao aproximar o telefone de seu ouvido, suas mãos ainda trêmulas e sua voz um tanto quanto incerta - Sim, eu...eu gostaria de falar sobre a proposta de emprego.

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