Dreamland

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"Isso é uma péssima ideia."

Este era o pensamento que percorria pela mente de Rose enquanto esta andava pelos corredores esterilizados do grande prédio, o anjo em seu ombro se questionando em que tipo de emprego ela mesma havia se enfiado quando fez aquela bendita ligação e resolveu aceitar o cargo, tudo apenas pelo cheiro do dinheiro que tocaria suas mãos e lhe permitiriam se vestir com as melhores roupas e se perfumar dos aromas mais adocicados e sedutores que o mundo dos ricos pudesse lhe pagar. No fundo de sua alma, ela sabia que não deveria ser tão fácil de se vender para algo que poderia ser tão suspeito, mas não era como se ela fosse a primeira pessoa a fazer loucuras deste calão, e certamente ninguém a julgaria, tal como não diriam que ela seria a última.

Sua aparência não condizia com o local no qual seus pés pisavam, e isto era óbvio para qualquer ser com mínima consciência que lançasse o mais míseros dos olhares em sua direção. O vestido que se colava contra suas curvas era curto e apertado em todos os mínimos sentidos, num tom mais escuro do que o normal de preto e escondido meramente pelos pelos de camurça de seu casaco, num tom forte de bordô e que não negaria para ninguém o aspecto de seu trabalho; enquanto Rose andava, o som de seus saltos altos finos ecoava pelo chão de linóleo, e as pequenas tiras de plástico do sapato chamavam atenção para a meia-fina que escondia a maciez de suas pernas, o tecido escuro sendo como uma maldita tentação para os olhares das pessoas mais fracas e suscetíveis às tentações da carne - como se suas vestes já não fossem um atentado ao pudor o suficiente para o estado do local em que esta se encontrava, seus lábios estavam pintados na cor mais viva de vermelho, como o mais delicioso vinho de se ser provado, e seus cabelos ruivos caíam por seus ombros, lhe dando o mesmo ar de uma sereia sedutora, encantando aos marinheiros despercebidos com seu charme.

Rose não fazia aquilo de propósito, pelo menos não completamente. A mulher já havia se acostumado a se oferecer visualmente como um petisco, como um aperitivo que os outros poderiam admirar, mas nunca tocar sem a devida permissão, e não era como se ela pudesse simplesmente parar - isso já era algo integrado em seu ser, algo que fazia com que sua autoestima subisse como se não houvesse um amanhã, e sinceramente? Ela adorava aquela sensação, aquela admiração alheia, os olhos que lhe devoravam e rasgavam suas roupas com o poder da imaginação.

Enquanto a mesma andava, sua mente tentava entender para o quê seus serviços eram necessários naquele tipo de lugar. O prédio era imenso, e todas as suas paredes eram pintadas num tom forte de branco, sem nenhum tipo de exceção; verdade fosse dita, parecia até mesmo que ela estava presa em algum tipo de manicômio com como seus olhos doíam ao olhar a branquitude da parede por muitos segundos seguidos, apenas lhe faltavam pessoas insanas correndo para todos os lados e sendo contidas por falhas camisas de força. Ela já havia ouvido falar vagamente daquele prédio, mas nunca havia procurado saber mais do que o necessário - todos sabiam que era um tipo de hospital muito renomado na cidade em que vivia, com todo o tipo de atendimento necessário para todos os tipos de doença e um centro de pesquisa renomado por diversos países afora, mas não era como se ela soubesse de tudo e cada mínimo detalhe que percorria pelos corredores.

Ao seu lado, um homem andava com uma expressão séria e com seus olhos vigiando cada porta pela qual estes passavam com rápidos e precisos passos. Apesar de Rose não ter muita ideia da influência do homem dentro daquele hospital, era óbvio que ele não era simplesmente um mero enfermeiro qualquer ou um doutor de quinta categoria; por onde eles passavam, pessoas pediam informações complicadas demais para sua cabeça e o olhavam com um ar de respeito, como quem mandava em cada pequeno detalhe daquele hospital e não havia nada que passasse por sua pessoa sem nenhum tipo de aviso prévio - aquele era o tipo de homem pelo qual seus serviços como acompanhante eram requisitados na maioria das vezes, mas desde a noite anterior e desde o momento em que esta havia pisado no recinto, era claro que seus serviços não seriam como os de costume daquela vez.

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