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Maria Luíza

É realmente frustrante ter de lidar com suas próprias escolhas.

Quando pedi transferência para uma nova instituição, fugindo dos assédios contínuos do Daniel, não imaginei que me mandariam para um morro.

O único posto de saúde é completamente despreparado para receber qualquer tipo de atendimento, realmente fizemos milagres nas últimas 48 horas em que estive aqui. Olho para Davi ao meu lado, prestes à me matar por ter nos colocado nesta situação.

Mas, eu tinha meus motivos.
Motivos esses que ele não precisava saber com detalhes.

_ Sério Malu, só faltam seis meses para terminarmos tudo isso. Precisava nos mandar pro fim do mundo?

_ Não seja dramático, vai. Esse lugar tem um certo charme, e o povo daqui realmente precisa de nós. - viro de frente para encará-lo. _ É o que fazemos, não é?

_ Você é uma moralista de merda! - aponta um dedo em minha direção. _ Mas, que me convence sempre.

Me aproximo para abraçá-lo, sendo acolhida rapidamente.

_ Você é o melhor irmão do mundo, e eu te amo por isso!

_ Também de amo. - deposita um beijo rápido em minha testa. _ Mas, sou seu único irmão.

Dou risada, observando os comandantes do morro descendo.

A coisa mais fácil que você obtinha nesse lugar, eram informações. Com apenas um almoço na lanchonete mais movimentada do morro, descobri a ficha completa da família Bragança.

O mais velho deles, Touro, era casado há 30 anos com Bianca e desse relacionamento nasceram Falcão e Urubu. O mais velho era casado, porém não possuía filhos ou alguém para liderar em seu lugar, já que estava em frente ao morro há anos.
O caçula, Urubu, mantinha uma fama de pegador e não se relacionava com ninguém, me deixando surpresa ao perceber que possuíamos quase a mesma idade.

Tive que fazer um esforço enorme para gravar todos esses vulgos estranhos, mas se quisesse conseguir o que eu queria, era necessário saber com quem estou falando.

E o que eu quero?

Utilizar essa oportunidade para fazer diferença nesse lugar, transformando aquele ambiente que deveria fornecer cuidados básicos em algo muito melhor.
Quero ser uma boa médica para eles.
Quero tentar ser reconhecida pelo meu talento e inteligência, ao menos uma vez.

Os barulhos altos de tiros me trouxeram de volta à realidade, sentindo meu corpo ser puxado com força para dentro do posto de saúde.

_ Mas o quê-

_ Tá rolando uma troca de tiros lá fora, acham que tão tentando invadir. - ouço a explicação do meu irmão, atenta.

_ Não disseram que há anos isso não acontece?

_ Parece que a paz foi jogada pro ralo, bem na nossa colônia de férias. - debocha, me fazendo revirar os olhos pelo comentário.

Os poucos médicos e enfermeiras corriam de um lado para o outro, já se preparando para o que estava por vir depois. Parecia mais um dia normal dentro daquele lugar, onde cada um esperava pacientemente pela sua hora de agir.

Perdida - Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora