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Maria Luíza

Sério, eu só queria beber e dançar até esquecer do meu nome hoje. Mas, aqui estou eu refazendo os pontos no abdômen do JP, que me fez perder a noite toda por não seguir minhas recomendações como médica.

_ Agora repete comigo: R-E-P-O-U-S-O! - dito lentamente, vendo-o revirar os olhos para mim.

_ Pessoas como nós não temos esse luxo, madame. Mas, ainda te devo um obrigado.

_ Deveria dar mais valor à quem te mantém de pé, ao invés de negligenciá-lo assim. - me levanto para organizar a maleta de primeiros socorros, percebendo que Davi e Urubu já não estavam mais ali. _ E parece que fui deixada para trás por aqueles dois.

_ Devem estar transando em algum beco por aí.

_ Meu Deus, se puder não falar assim do meu irmão. Minha imaginação é fodidamente fértil!

_ É, confesso que não curtiria pensar assim do Urubu também.

_ Ele é seu tio, afinal. - falo ainda de costas, percebendo que toquei num assunto de família novamente. _ Foi mal, não é da minha conta.

_ O povo é fofoqueiro demais por aqui, não deveria acreditar em tudo. - ele caminha até o closet do quarto, vestindo uma nova camiseta. _ Bora lá que te deixo em casa.

_ Não precisa.

_ É o mínimo. - apenas aceito, porque realmente estava tarde e ele morava na direção oposta à minha para ir caminhando de salto.

Canto algumas músicas que tocavam no rádio, percebendo que nosso gosto pra isso não era tão diferente. Noto um pingente pendurado no retrovisor, mas contenho minha curiosidade, me repreendendo novamente para não acabar tomando um tiro por estar me metendo na vida alheia.

_ Tá entregue, doutora. - estaciona em frente à minha casa.

_ Sabe que me chamo Maria Luíza, não é?

_ Melhor te chamar pelo que tu é, fica mais fácil de lembrar.

_ Devo te chamar de traficante então? - debocho.

Eu desconfiava que não duraria um mês nesse lugar, com essa boca sem noção nenhuma.

Mas JP riu. Pela primeira vez naquela noite, ou quem sabe desde que nos conhecemos, ele riu.

_ É justo, você quem sabe. - dá de ombros.

_ Boa noite então, traficante. - dou risada, soltando meu cinto e abrindo a porta do carro. Procuro pela chave em minha bolsa, e o vejo baixar o vidro do carro.

_ Acho que estraguei tua noite, então pode me cobrar qualquer dia desses.

_ Isso é um convite?

_ Entenda como quiser, doutora. - e saí arrancando com o carro dali, me deixando sorrindo feito besta no meio da rua.

[...]

Ouço Davi chegar de fininho às 5 da manhã, deixando claro que a noite tinha sido ótima para eles. Seguro minha xícara nas mãos, sentindo o aroma do café tranquilamente.

_ Alguém aqui aproveitou a noite. - Davi dá um pulo para trás, assustado.

_ Caralho, Maria Luíza! Que susto!

_ Planejava entrar de fininho, como antigamente? - dou risada, recordando de como era nossa vida enquanto morávamos com os nossos pais. _ Somos adultos agora, não tem pra quê esconder que dormiu fora de casa.

_ Minha intenção era esquecer essa noite, isso sim! - suspira frustrado, sentando no sofá. O sigo até a sala, estranhando seu comportamento.

_ Ele não foi legal com você? Não foi bom? - pergunto preocupada, já que eles pareciam bem juntos.

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⏰ Última atualização: Oct 29 ⏰

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Perdida - Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora