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Maria Luíza

Entro no quarto do paciente de ontem, encontrando-o completamente acordado e agitado para tirar os acessos em seu braço.

_ Ei, não pode fazer isso! - tento pará-lo, mas sua força é muito maior que a minha e acabo sendo empurrada para o lado. _ Qual é dessa sua mania em empurrar pessoas? Estou tentando te ajudar!

_ Já tiraram a bala, então posso ir pra casa. - diz simples, saindo da cama e começando a trocar de roupa, bem na minha frente.

_ Sr. futuro dono desse lugar, cujo vulgo não me foi dito, não posso permitir que saia desse quarto antes das 48 horas do pós operatório.

_ Ah é? E quem vai me impedir? - observo sua arma sendo colocada no cós da sua calça, e ele se aproximando lentamente de mim. _ Vai aprender como as coisas funcionam por aqui, já que não está mais no seu mundo.

Já é a segunda vez que me dizem essa frase, e começo a me perguntar se estão mesmo falando sério. Estamos em algum filme de ficção, onde o mundo está dividido em dois?

_ Meu vulgo é JP, e tô cuidando do lugar pra quando o verdadeiro dono voltar.

Vejo JP sair, sem mais nem menos, e desisto de tentar me preocupar com ele naquele momento.

_ Vi o homem baleado sair, está tudo bem? - Davi aparece no corredor, segurando alguns prontuários nas mãos.

_ Sim, ele só não queria a minha ajuda. Parece muito normal por aqui. - respiro fundo, escondendo minhas mãos nos bolsos do jaleco para tentar esconder a frustração.

_ E o tal projeto? Como está indo?

_ Tenho mais cinco dias para apresentar à eles, mas estou tranquila. Disse para você que eu tinha um plano para cá, antes de virmos.

_ Fico feliz por você, Malu. E espero que sirva para não nos olharem mais como se fôssemos extraterrestres. - revira os olhos, me fazendo rir.

_ Você fazendo essa cara não ajuda. - brinco, correndo em seguida para desviar do seu ataque.

_ Ridícula! - dou risada, e sigo na direção contrária à sua.

[...]

O morro hoje estava movimentado, em razão do baile que teria esta noite. Confesso que estou curiosa para saber como é, e estou arrastando meu irmão para isso.

_ Trocar de plantão e vir parar em uma festa? É o combo perfeito para mim! - bate palmas, animado.

_ Não se acostuma, só viemos pela experiência. - tento soar convincente, mas estava tão animada quanto ele.

_ Sério, esses caras armados estão alimentando minha imaginação.

_ Só toma cuidado pra não levar um tiro. - gargalho com sua cara assustada.

_ Vira essa boca pra lá! - sou empurrada levemente, mas logo entrando no local. Davi segura minha mão, andando na frente para abrir espaço.

O som alto misturado com as pessoas animadas no meio da pista, alguns já bêbados e outros mostrando que só estavam ali para dançar. Sempre fomos fãs de festas desse tipo, daquelas que não tinham hora e nem lugar para acabar.

Perdida - Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora