A madrugada era silenciosa e tranquila, uma calmaria que contrastava fortemente com a agitação do hospital. Eu, ainda imersa em pensamentos sobre o paciente do BOPE, me preparei para dormir, mas o cansaço físico não conseguia apagar o turbilhão mental. O odor de antisepsia e a sensação de urgência pairavam sobre mim como uma lembrança constante.
Na manhã seguinte, o sol se erguia através das janelas da minha casa, anunciando o início de um novo dia. A faculdade aguardava, mas o hospital estava em minha mente. Fui para a academia como todos os dias; após o treino, preparei-me com rapidez e me dirigi ao campus.
As aulas do dia foram intensas. Na aula de cardiologia, discutimos os mais recentes avanços em tratamentos para arritmias e insuficiência cardíaca. A aula de farmacologia abordou a interação de medicamentos, algo crucial para a nossa prática clínica. Tentava me concentrar nos estudos, mas os pensamentos sobre o paciente e seu estado de recuperação não saíam da minha mente.
No intervalo, encontrei minhas amigas Yara e Jéssica. Elas estavam animadas falando sobre uma festa que acontecerá na universidade na próxima semana. Elas me incentivaram a ir, dizendo que eu não poderia perder. O evento prometia ser uma ótima oportunidade para relaxar e socializar, algo que eu realmente precisava. Elas insistiram que era uma chance de descontrair e aproveitar um tempo com amigos.
— Vamos, Celine, vai ser legal. Você precisa esvaziar a cabeça.
Yara fala enquanto come seu lanche. Era a primeira festa do ano, e ela estava muito animada.
— Yara tem razão. Você vive trancada em casa; vamos sair e aproveitar o final de semana. Quem sabe essa é a oportunidade para você perder o cabaço?
Jessica diz, com um tom de deboche no final da frase. Não sei por que ela fica falando essas coisas, como se quisesse tirar minha virgindade. Ela era uma cobra de duas caras, mas não falava nada para Yara para não deixá-la magoada, já que foi Yara quem me apresentou a Jessica. Reviro os olhos e dou uma risada debochada, encarando Jessica com um olhar que parecia penetrar sua alma.
Após uma tarde cheia de aulas e discussões, retornei ao hospital para mais um mergulho na rotina frenética. Ao chegar na unidade de recuperação, fui recebida por um enfermeiro que me fez uma rápida atualização sobre o estado do paciente. Ele estava estável, mas ainda em observação.
Quando entrei na sala, percebi que o paciente estava começando a dar sinais de consciência. Seus olhos estavam levemente abertos e moviam-se lentamente, observando o ambiente ao redor com uma expressão de confusão e dor. Com cuidado, comecei a verificar seus sinais vitais e ajustar os monitores conforme necessário. Suas mãos se moviam levemente, como se tentassem compreender a nova realidade em que se encontrava.
O silêncio do quarto foi interrompido pela entrada do médico que havia visto na noite anterior. Após alguns minutos de avaliação, ele se dirigiu a mim com um olhar de aprovação e disse:
— Ele está acordando. Vamos monitorar como ele responde aos estímulos e ajustar o tratamento conforme necessário. Mantenha um olho atento nos sinais vitais e esteja preparada para qualquer mudança.
O médico saiu pela porta, e ao me aproximar, o paciente abriu os olhos e me viu, um leve brilho passando por seu olhar cansado.
— Bom dia. Como está se sentindo hoje?
Eu disse, tentando soar encorajadora. Ele tentou mover os lábios, mas a voz estava fraca e rouca.
— Onde estou? O que aconteceu?
— Você está no hospital. Você foi baleado e passou por uma cirurgia. Está se recuperando agora.
Respondi, ajustando os monitores ao seu lado.
Ele franziu a testa, tentando processar a informação.
— A cirurgia... foi bem?
— Sim, foi bem. A equipe fez um bom trabalho. Agora, estamos aqui para garantir que você se recupere completamente. Você está estável e sua condição está melhorando.
O paciente fez uma pausa, como se estivesse tentando lembrar detalhes.
— Os meus companheiros... eles estão bem?
— Eu não tenho todas as informações, mas posso te garantir que a equipe está cuidando de tudo. Você é o nosso foco agora, e estamos aqui para garantir que você se recupere bem.
Ele assentiu lentamente, seus olhos expressando gratidão e cansaço.
— Obrigado. Eu... eu não consigo me lembrar muito. Só... lembro do tiro.
— É normal ter dificuldades em lembrar detalhes depois de um trauma. Vamos continuar monitorando você e ajustando o tratamento conforme necessário. Se precisar de algo ou tiver alguma pergunta, estou aqui para ajudar.
O paciente fez uma pausa, sua expressão mostrando um misto de dor e alívio.
— Eu nunca pensei que iria precisar de tanta ajuda. Obrigado.
— É para isso que estamos aqui. — Assegurei, tentando manter o tom o mais reconfortante possível. — Agora, descanse. Vou continuar monitorando você e, qualquer coisa, estou por aqui.
Com um último olhar de compreensão, o paciente fechou os olhos novamente, aparentemente exausto. O ambiente se encheu de um silêncio respeitoso enquanto eu continuava a fazer o monitoramento, sentindo a responsabilidade e a importância do trabalho que estava realizando.
Amanhã é o último dia que eu venho, pois a aula prática está chegando ao fim. Me sinto um pouco triste por isso, pois não verei o homem que, mesmo hospitalizado, era um gato. Me repreendo por pensar assim e sigo em direção ao meu carro para finalmente descansar. Chego em casa e me jogo na cama logo vejo a mensagem de Yara me chamando para almoçar com elas amanhã de novo.
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SOL LOIRO
FanfictionUm policial do BOPE, ferido em uma operação com um tiro no corpo, é internado em um hospital de prestígio no Rio de Janeiro. Celine, uma estudante de medicina e filha de um deputado, é a estagiária responsável por seu cuidado após a cirurgia. Uma co...