SOL LOIRO

05

Após o estágio, minha rotina na faculdade estava mais leve, e decidi aproveitar um sábado com minhas amigas Laura e Marina. Nos encontramos no shopping, onde começamos a tarde no novo café, saboreando frappés e bolos. Conversamos sobre nossos planos para as férias, com Jessica planejando um mochilão pela Europa, eu pensando em uma viagem para a praia e Yara considerando um curso de culinária.

Depois, exploramos lojas, experimentamos roupas e tiramos selfies, nos sentindo como adolescentes sem preocupações. Visitamos uma loja de eletrônicos e aproveitamos para trocar nossos celulares.

Ao final do dia, com sacolas em mãos e sorrisos no rosto, saímos do shopping, sentindo que esses momentos de diversão eram essenciais para enfrentar os próximos semestres.

A casa dos meus pais estava em plena atividade naquela noite, mas o ambiente parecia um pouco mais tenso do que o habitual. Meu pai, o deputado estadual, estava no escritório, e minha mãe estava correndo para preparar o jantar. O clima estava carregado de uma certa tensão que eu já conhecia bem.

Cheguei em casa e a saudação calorosa da minha mãe foi um alívio, um contraste bem-vindo com a frieza que eu já esperava encontrar em relação ao meu pai. Meu irmão estava animado, Marcos, o filho que sempre teve a vantagem no jogo familiar. E pra minha felicidade ele ia jantar aqui em casa hoje.

— Oi meu amor— exclamou minha mãe, me puxando para um abraço. — O jantar está quase pronto. Seu pai está um pouco ocupado, mas estou certa de que ele ficará feliz em te ver.

Sentei-me à mesa, tentando deixar de lado a apreensão. Marcos estava em uma conversa animada com meu pai sobre o último projeto dele, e eu sabia que meu pai tinha uma tendência a dar mais atenção a ele, especialmente por causa das opiniões machistas que ele carregava. O favoritismo era algo que eu tinha enfrentado ao longo dos anos, e não era novidade que isso causava tensões entre nós.

Meu pai se dirigiu a mim com uma expressão cansada, mas ainda assim com uma presença dominante.

— Boa noite, Ana — disse ele, dando um rápido beijo na minha testa antes de se sentar à mesa. Sua saudação foi curta, o que não era surpreendente.

Durante o jantar, a conversa se concentrou em Marcos e seus planos para o futuro, e eu me vi mais uma vez na sombra, sem conseguir encontrar um espaço para contribuir. Isso era comum, mas ainda assim me incomodava.

— E então, Ana, como foi o estágio? — Meu pai perguntou, desviando o olhar de Marcos, mas ainda com uma expressão de desinteresse que era difícil de ignorar.

— Foi uma experiência incrível — comecei, tentando esconder a frustração. — Eu cuidei de um paciente que era capitão do BOPE. Aprendi muito e foi um desafio interessante.

A mudança na expressão do meu pai foi imediata, seu rosto se fechando em um semblante de desagrado. Ele trocou um olhar significativo com Marcos antes de responder.

— O BOPE? — Ele fez uma pausa, claramente irritado. — São um bando de filha da puta sem um centavo. Me surpreende ele conseguir pagar o hospital em que você estava.

Marcos riu baixinho, e eu senti uma pontada de frustração. Sempre parecia que minhas conquistas eram minimizadas em comparação com as dele.

— Não me surpreende você ter se envolvido com um deles — Marcos comentou, com um tom que misturava sarcasmo e superioridade.

Eu respirei fundo, tentando manter a compostura.

— Eu não escolho os pacientes com base em suas preferências políticas, Marcos. Apenas fiz o melhor que pude no meu trabalho.

O clima ao redor da mesa tornou-se ainda mais tenso. Minha mãe tentou mudar de assunto, falando sobre uma receita nova que ela queria experimentar, mas eu sentia a pressão de cada palavra não dita. O favoritismo de meu pai por Marcos e sua visão conservadora sempre foram um fardo, mas naquele momento parecia particularmente pesado.

Após o jantar, enquanto todos se levantavam e começavam a limpar a mesa, meu pai me chamou para um canto da cozinha.

— Ana, não quero saber que você está envolvida com policial nenhum — começou ele, com um tom que era uma mistura de frustração e resignação. — Sabe o quanto isso pode manchar minha imagem, caralho?

Eu olhei para ele, sentindo um misto de mágoa e raiva.

— Pai, eu fiz o que achei que era o certo. E, se você não concorda, isso não muda o fato de que a experiência foi importante para mim.

Ele suspirou, o olhar superior se fazendo presente em sua face.

— Não quero que se envolva em situações que podem prejudicar meu futuro. Marcos, diferente de você, está pensando em planos futuros para ajudar o pai dele.

A conversa terminou, e eu deixei a cozinha com uma sensação de desalento. O favoritismo constante e a visão limitada do meu pai sobre o que era aceitável me deixavam exausta, mas eu sabia que não poderia mudar isso facilmente.

Enquanto eu me preparava para ir para o meu quarto, pensei sobre o que realmente importava. A família podia ser complicada e muitas vezes injusta, mas eu sabia que tinha que seguir em frente, fazendo o melhor que podia e encontrando o reconhecimento e a validação que buscava fora de casa.

Quando finalmente me deitei, as palavras de meu pai ecoavam na minha mente, misturadas com a sensação de frustração e o desejo de provar meu valor.

Desde criança, meu pai sempre me colocou para baixo em relação ao meu irmão. Depois, quando via que meu choro durava mais de uma semana, me enchia de presentes caros. Minhas colegas da escola sempre diziam que tinham inveja de mim, que havia nascido em um berço de ouro e que meu pai me dava tudo o que eu queria, que eu nunca tinha escutado um "não". Essa parte podia até ser verdade; realmente nasci em um berço de ouro e não conheço outra realidade que não seja a minha. Nem sei se quero conhecer, mas nenhum presente do mundo comprava o que eu realmente desejava: a aprovação e o amor do meu pai.

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Gente do céu, 1012 palavras, vocês tão gostando da história?? deixem algumas dicas de como melhorar a história!!

Acho que no próximo capítulo tem mensagem do Robertinho em 😈

bjss, próximo sai essa semanaa