Dois

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Kallie é uma beleza incomum no império, onde seus cabelos negros e olhos igualmente escuros se destacam entrem todo os tons claros. Sua mãe veio do oriente, uma dançarina que cativou o jovem Jayme Frensberg. Dizer que a união de ambos foi mal vista pela sociedade é minimizar os fatos, o antigo arquiduque teria expulsado o filho da família se o mesmo não fosse seu único filho e herdeiro. É tudo que sei sobre a mãe de Kallie, rumores que a protagonista dessa novela ouviu.

Agora que a confusão de eventos que acompanharam meu despertar cessou e pude estar sozinha em um ambiente não sacolejante, é mais fácil recordar os fatos e juntá-los na história que acompanhei há quase um ano. Sentada em frente a penteadeira, passo a escova para desembaraçar os fios negros. Minha chegada foi recebida com silêncio, o mordomo me recepcinou, repassando as ordens do arquiduque para que eu permaneça confinada ao quarto de Kallia e aguardasse sua chegada. Mais tarde uma empregada veio, ajudou-me com o vestido e a dispensei, tomando para mim a tarefa que agora emprego.

Estando acostumada com cabelos curtos, desembaraçar os longos fios negros de Kallia é cansativo. Sendo tudo tão recente, tenho dificuldade em reconhecer a imagem refletida no espelho como minha. Temo que cometa uma gafe ao me referir a Kallia como um indivíduo a parte, é estranho ter que interpretar um papel agora, reconhecer que não sou apenas Olie, mas Kallia Frensberg, filha de um arquiduque, a vilã de uma obra de baixo orçamento que sequer lembro todos os detalhes. Minha cabeça ainda lateja, desejo poder escrever cada ponto relevante da história a qual recordo, mas temo ter algo tão comprometedor em mãos, onde os riscos de olhos curiosos verem é real.

Flores Sangrentas, tem como protagonista Milla Norbet, filha ilegítima do visconde Norbet. A doce Milla foi perseguida pela madrasta e irmão mais velho, até ser enviada para morar na propriedade de campo da família aos 8 anos, onde permaneceu até os 18 anos, idade a qual cada jovem, nobre ou não, deve apresentar-se ao templo. Não lembro os detalhes da cerimônia, mas de alguma forma, essa revela o toque dos deuses, aqueles tocados por um destes vêem-se desenvolvendo dons condizentes com o deus a abençoá-lo. Milla foi tocada pela deusa da luz, a primeira em séculos, e seus dons, são de fato uma benção, capazes de operar milagres.

Kallia em sua cerimônia não recebeu qualquer chamado, nenhum deus a reenvindicou, mas com o poder e influência de sua família, o bispo responsável foi comprado e a falsa benção se espalhou. Dizia-se que Kallia foi escolhida pela deusa da sorte, ninguém refutou ou suspeitou do contrário, Kallie era inteligente para os negócios e o dinheiro da família a permitia grandes empreitadas econômicas, com tantos ganhos os cofres da familia transbordaram. Quando o Império se viu em crise, Kalia agarrou-se a isso, vendo como uma grande oportunidade de prender o príncipe e o poder que iria adivir dessa união. Necessitados do dinheiro, a família imperial concordou com o noivado entre Kallia e Rael, em reforço dessa decisão, foi concedido a Kallia o título de santa.

Se a história terminasse ali, Kallie estaria bem, contudo, Milla surgiu e tudo desandou. Kallia era mais velha que Milla, com 22 anos, ela se viu frustrada pela jovem escolhida da luz. Em seu primeiro encontro na corte, Milla a elogiou, em sua ingenuidade revelando um segredo bem guardado, ao dizer que mesmo isenta de uma benção, Kallia era surpreendente, capaz de grandes feitos. Kallie arrogantemente a nega, afirmando ser escolhida da sorte. Contudo, para aqueles que conheciam os dons da luz, era sabido sua capacidade de ver a verdade e assim a desconfiança brutou, logo não tardou para que a verdade viesse a luz. Tal mentira maculou a boa reputação de Kallia e foi o início de seu declínio. Inevitavelmente a fúria de Kallia cresceu e a mesma repudiou Milla, a perseguindo em cada oportunidade apresentada. Graças a dívida do império com a família do arquiduque, o noivado prosseguiu, enquanto o povo clamava pela verdadeira santa.

Sei que há mais tramoias por baixo dos panos, algumas ainda em andamento, as quais pretendo frustrar. De qualquer forma, Kallia notou o afeto de Rael por Milla, e sua perseguição tornou-se mais viciosa, com tentativas frustradas de assassinato a rapto. Assim, chegamos aos eventos desta manhã. Lembro-me de assistir a esse evento e me senti emocionada pela humilhação da vilã. Tendo eu mesma sofrido com o ocorrido, já não vejo o apelo. Rael foi o homem desprezível a continuar tagarelando, a doce dama ao seu lado sendo a própria Milla. Odiosa ou não, Kallia ainda era sua noiva, ele não era o mais decente dos homens como gostava de pensava ser, tendo sido tão ávido para trair a noiva com a nova santa.

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⏰ Última atualização: Aug 29 ⏰

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