Há algo errado.
Minha boca permanece aberta, como se eu estivesse prestes a gritar algo, mas não lembre e a fecho, sufocando com palavras não ditas.
Não lembro onde estou, não lembro o que fazia antes de abrir os olhos para a visão de cabelos negros que caem ao meu redor e o tecido vermelho, molhado, flutuando na água como sangue fresco. Há uma dor forte em minha cabeça, o lado direto do meu crânio lateja e arde, como se ali tivesse uma ferida aberta. Em reflexo, levanto meu braço, o movimento é lento e pesado, meus dedos tocam aquele lugar, sinto o couro cabeludo, assim como sinto o galo e a picada de dor quanto o toco. Afastando a mão, a trago diante dos meus olhos, a pele é machanda de sangue, esse é real, não como a ilusão do tecido que flutua.
Não entendo o que está acontecendo, meu cérebro parece lento em processar as informações e sensações além da dor que lateja em minha cabeça. Abraço-me quando registro o quão fria estou, a água que me cerca me encharcou, ela é fria como entrar no lago durante o inverno. Meus dentes começam a bater e meu corpo a tremer, preciso sair dali, mas meu corpo não se move muito mais.
—︎ Basta.—︎ Uma voz estrondosa faz a dor em minha cabeça pulsar, meus olhos se erguem em ofensa.
Além da fonte em que estou caída, está um homem que não reconheço. Ele se veste como um personagem de filme ou livro de época, os cabelos loiros estão penteados para trás, destacando seu rosto bonito e lhe concebendo um ar mais autoritário, os olhos cinzentos me olham com raiva, sua boca puxada para baixo em desprezo, ao seu lado está uma bela mulher, de fios castanhos e olhos verdes, ela é delicada, baixa e com um rosto inocente, seu vestido verde claro constrata com as paredes de folhas e delicadas flores amarelas que brotam ao redor, diferente do homem, entretanto, ela parece apreensiva e chorosa. Adiate, há mais pessoas, todos me firam e sussurram, há sorrisos jacosos e olhares de desprezo, não entendo de onde vem, o que os fazem me tratar assim, mas não gosto e sinto minhas sombracelhas franzirem, um sentimento desagradável em meu peito aquecendo o frio que me toma.
—︎ Você mentiu, tramou e enganou a todos, usando do poder do arquiduque para ocupar uma posição que não lhe cabia, não bastasse, tentou contra a vida da senhorita Briane.—︎ Não sei do que ele está falando, mas sei que suas palavras são para mim.—︎ Kallia Frensberg, nosso noivado está acabado, retiro seu título de princesa, de igual forma, você está banida do castelo real e festividades da corte. Seja grada por tal sentença branda. É pelos pedidos e misericórdia da verdadeira santa que a pouco, em circunstâncias diferentes, o valor, série sua cabeça.
Só posso fitá-lo atordoada. O nome Kallia Frensberg ecoa em minha mente e como um fio solto, quando o ouço, o puxo e esse desfia, fazendo cair um emaranhado de lembranças.
O mais chocante, estou morta. Estava?
O reconhecimento desse fato me cala, não me preocupo com os absurdos lançados por aquele homem. A lembrança da dor que dominou meu corpo, do breu que corroeu minha consciência e o desespero inerente da certeza de que aquele era o fim, é muito para lidar. Essas são minhas últimas recordações, estão frescas em minha mente, me assombrando.
Por um instante, não consigo respirar, é como se eu voltasse a estar sobre o asfalto frio, duro, inerte. O bolo em minha garganta me sufoca e lágrimas queimam meus olhos, rolando por meu rosto humido. Temo sufocar, é a dor que pulsa em meu crânio e o frio que não cessa a ancorar-me, me distanciando das lembranças para esse presente que me custa crer.
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Deixe a vilã descansar
RomansaOlie, despertou como Kallie Frensberg, a vilã de uma novela de baixo orçamento, intitulado como "Flores Sangrentas". Como o nome insinua, não foi uma trama agradável, houve traições e assassinatos, Kallia mesmo sento a mente por trás de alguns. Não...