5. O porre

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Clarisse narrando:

Passar um tempo com Roberto foi ótimo, tirando o fato de eu ter confidenciado muitas informações à ele. Preciso me conter mais, posso assustá-lo e não quero envolvê-lo na minha bagunça. É tempo de resignação. Tenho feito terapia duas vezes por semana e isso tem me ajudado, mas falta alguma coisa, algo que eu não descobri na análise. Às vezes, sou tão perturbada pelas perguntas que existem na minha cabeça que me perco nos meus próprios devaneios.

Além disso, Roberto parece ser um homem difícil, extremamente fechado e com pitadas de frieza. Porém, senti no olhar dele certa perversidade, um desejo reprimido. Pode ser que seja só um pressentimento, mas minha intuição não falha. Minha mediunidade, mesmo que não tão desenvolvida, sempre me avisa sobre um perigo iminente. Lidar com a mediunidade é desafiador, tenho sempre que vigiar meus pensamentos e garantir que minha mente e tristeza não me vencerão, como aconteceu com o Ian.

Tentarei me preservar dessa vez, afinal não quero ter o mesmo fim que a minha mãe, que é traída toda semana com uma mulher diferente. Quero ser diferente, mas como? Você se lembra que eu disse que eu queria ter um destino diferente? Pois é, não sei como desviar desse caminho já traçado e fazer uma curva em direção à um novo objetivo. Eu nunca fui direta com os homens, acho que tenho que me conter. Talvez seja um tipo de abstinência.

Deixa pra lá, provavelmente não dará certo e eu só estarei perdendo o meu tempo e dando brecha para uma nova decepção. Pode ser que minha trajetória agora seja sobre mim, sobre como me afastar de tudo o que aconteceu, principalmente com aquele filha da puta do Felipe. Eu tenho vários arrependimentos na minha vida, mas conhecê-lo está no topo da PORRA DA LISTA. Desde que tudo aquilo aconteceu, eu não me relacionei com ninguém... não importa mais!

- Espera! Aceita um chá? - Não acredito que eu disse isso! Agora não tem mais volta.

Neto solta uma risada.

- Se controla, Neto! - Diz Roberto com um sorriso escondido.

- Relaxa, Neto! Só quero retribuir o favor com um chá e alguns biscoitos. - Eu disse tentando amenizar a situação.

Ele aceita rapidamente. Como assim? Deu certo? E agora?

- Vem! - Eu digo animada e com vergonha ao mesmo tempo.

Será que ele pensa que vou transar com ele? Isso definitivamente não aconteceria. Não posso, mas algo em mim me faz querer. Eu não o conheço, só que sinto um conforto estranho ao estar ao lado daquele homem fardado que provoca um arrepio na minha espinha e me faz produzir substâncias químicas no meu cérebro nunca antes experimentadas.

Entrando na portaria, o porteiro me olha com cara de espanto.

- Foi presa, Dona Clarisse?

- Não, Luís! - Solto um riso. - Apenas quero retribuir os favores do Capitão Nascimento com um chá... de camomila!

- Ah... entendi. - Luís me olha espantado.

Roberto fica sem graça e sorri. Como eu consegui deixar um policial da Tropa de Elite da Polícia Militar sem graça?

- O porteiro fez mau juízo de nós dois...

- Luís é meu amigo, relaxa!

- Amigo? Como assim? - Roberto diz levantando o rosto e franzindo a testa.

- Sim, conversamos quase todos os dias.

- Sobre?

- Várias coisas... jogamos conversa fora! - Eu digo saindo do elevador e abrindo a porta de casa com a senha.

LADY IN RED 🔥 - CAPITÃO NASCIMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora