A vida da Duquesa era mais que lamentável, uma vida de despreso, nunca teve um pingo de serotonia em sua vida, apesar da devota Duquesa Amélia sempre cuidar da sua honra e do seu marido por apenas obrigação, se indo a igreja todos os dias, rezando e...
O sol mal havia despontado no horizonte quando Amélia se levantou e, com a ajuda de uma criada, vestiu-se rapidamente. Ao descer as escadas, foi recebida apenas pelo silêncio de um salão vazio. Engolindo em seco, ela segurou a barra do vestido e, com uma ponta de esperança, caminhou até a porta, abrindo-a com um movimento abrupto. Lá fora, o cenário era tão desolador quanto o salão. O choque atravessou seu corpo; o Duque sempre fora um homem frio, mas ela acreditava conhecê-lo ao menos um pouco. Agora, segurando o vestido com força, percebeu amargamente o quanto estava enganada sobre seu marido.
— Vossa Excelência! — A voz de Luzia rompeu o silêncio atrás de Amélia.
— Luzia, onde está o Duque? — A criada mais velha desviou o olhar, hesitando antes de responder.
— Ele partiu ontem à noite, Vossa Excelência. — Amélia piscou algumas vezes, lutando para manter a compostura. — Duquesa, está muito frio aqui fora. Vamos entrar.
— Sim, está mesmo. — Amélia cruzou os braços, sentindo um frio que ia além da temperatura. — Tão frio quanto o coração do Duque!
Sem mais palavras, Amélia retornou ao quarto, fechou a porta e olhou para sua mão, onde o anel de casamento ainda reluzia. Quando John colocou aquele anel em seu dedo, ela não sentia nada por ele. Não havia aversão, apenas uma resignação silenciosa. Antes de se mudar para a mansão do Duque, sentira-se, até certo ponto, afortunada por casar com um homem jovem e atraente. Mas esses sentimentos se desvaneceram em menos de dois dias.
— Você sempre me deixa sozinha! — murmurou entre dentes, apertando a aliança em sua mão. — Achei que, mesmo em um casamento arranjado, teria ao menos um companheiro.
Com o coração pesado de decepção, ela retirou a aliança e a colocou sobre a cômoda. Saindo do quarto, procurou sua criada pessoal, cujo nome lhe escapava.
— Chame a governanta para mim. — A criada, sem ousar levantar a cabeça, correu pelo corredor para cumprir a ordem.
Amélia, agora mais calma, sentou-se na poltrona confortável, deixando seu olhar vagar pelo belo jardim à sua frente. Um jardim impecavelmente cuidado, mas sempre deserto; sem festas de chá, sem nobres a cochichar sobre seus maridos, sem crianças correndo de um lado para o outro. Era uma vida solitária, mas Amélia não trocaria suas escolhas.
— Duquesa. — A voz de Luzia soou atrás da porta.
— Entre. — A criada idosa entrou lentamente, uma bandeja nas mãos. — Diga-me, por que não o trouxe antes? — Os olhos de Amélia fixaram-se na mulher mais velha, que tremia ligeiramente ao desviar o olhar. Amélia conhecia Luzia há tempo suficiente para reconhecer seu desconforto. — Luzia, há quanto tempo você está comigo?
— Desde o seu nascimento, Vossa Excelência. — Luzia respondeu, unindo as mãos nervosamente.
— Exato. — Amélia largou a xícara na mesa, já vazia, cruzando os braços e as pernas com uma sensação de perda que a incomodava profundamente. Apesar de seu poder ser limitado, ainda tinha controle sobre pequenas coisas: sua rotina, o que comia, o que vestia. Era tudo o que restava do controle que tinha sobre si mesma, e não pretendia perder isso também. — Conte-me tudo!
— Vossa Excelência, são os empregados. — Luzia molhou os lábios, tentando manter a calma. — Estão desconfiados. O mordomo vive me perguntando sobre o futuro herdeiro. — Luzia olhou para Amélia, que arqueou as sobrancelhas. — A senhora está casada há quatro anos e ainda não teve nenhum filho.
— Eu tive. — Amélia interrompeu, sua voz firme e carregada de dor. — Eu tive um filho.
— Vossa Excelência, não teve. — Luzia abaixou os olhos, temendo a reação de sua senhora.
— Luzia, eu tive um filho. — Amélia se levantou, aproximando-se da criada com um olhar penetrante. — Ele cresceu dentro de mim, senti-o se mover, vi meu corpo se preparar para alimentá-lo. Então não repita as palavras do meu marido. — As memórias dolorosas se agitaram, e Amélia detestava ter que confrontá-las novamente. — Saia daqui! — Amélia virou-se, suas mãos tremendo de raiva, e um nó apertando sua garganta.
— Vossa Excelência? — Luzia sussurrou, a culpa pesando sobre ela por ter tocado na ferida da mulher que tanto estimava.
— Saia! — O grito de Amélia ecoou pela sala, fazendo Luzia recuar lentamente, hesitante.
Sozinha, Amélia voltou a olhar para o jardim, suas mãos instintivamente tocando o ventre, relembrando a sensação do movimento do bebê. Ela havia aceitado a vida que levava, mas jamais aceitaria conceber outra criança. Só ficaria grávida do Duque novamente depois de morta.
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