𝗽𝗿𝗼́𝗹𝗼𝗴𝗼; 𝗺𝘅𝗱𝗷

192 22 1
                                    

Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado
Mas lá vêm eles novamente

Admirável Chip Novo por Pitty

Admirável Chip Novo por Pitty

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Prólogo

Me xinga depois, Jaqueline


2021, São Paulo.

Como todos os dias, Jaqueline atravessou a rua com os olhos vidrados no celular, um café quente e sem açúcar — um sério desvio de caráter — na mão esquerda. O copo pouco fazia para manter o calor dentro, e talvez um dia processasse a cafeteria pela propaganda enganosa, mas enquanto sua chefe se alegrasse com aquilo, seria a primeira da fila com um sorriso forçado.

Pelo menos o atendente era bonitinho. Tinha um cavanhaque estranhamente atraente, olhos escuros e...

— Sua maluca suicida, não tá vendo o sinal verde, não?

Com o coração acelerado, a mulher desviou os olhos ao carro branco, uma marca chique que não conhecia, mas sabia que deveria ser cara só pelo brilho de novo que o automóvel exalava. Era esse tipo de gente que mais odiava: que se dava bem na vida e continuava a desgraçar a dos outros.

Tudo bem, era um exagero. A errada da história era ela, afinal, o sinal estava, de fato, verde, mas verificou a rua antes. Um pouco, pelo canto de olho, mas verificou.

Um bufo irritado saiu do homem no volante, pronto para descarregar maldições e, se preciso, arrastá-la para fora da rua, mas Jaqueline apressou os passos, ignorando a risada desacreditada. Já estava irritada o suficiente para ter que lidar com pessoas, sem contar que o café estava começando a queimar sua mão.

Uma porta de vidro com as iniciais L.C. a surpreendeu por estar aberta, escancarada, com uma garotinha sorridente e impaciente segurando-a.

— Bom dia, senhorita Freitas. — A criança exibiu os dentes, alegre demais para 8 da manhã.

— Oi querida, bom dia.

A mulher poderia estar furiosa, odiar a vida na maioria dos dias e xingar todos que a olhassem com escárnio, mas jamais poderia ser algo a não ser gentil com Isabella.

— Como sabia que eu estava chegando?

— Te vi brigando com o moço do carro — explicou, agarrando o cotovelo direito da mais velha e levando-a estabelecimento adentro. — Na verdade, tô aqui desde que mamãe chegou.

Jaqueline ergueu as sobrancelhas, aceitando ser puxada ao sofá verde neon. Aquela aberração era confortável demais para o próprio bem; apenas um deslize e dormiria por mais três horas.

— Você não deveria estar na escola?

A menina bufou, sentando-se com um pulo enérgico. O vestido de bolinhas amarelas voou, e a mulher o abaixou educadamente.

𝗖𝗘𝗗𝗢 𝗢𝗨 𝗧𝗔𝗥𝗗𝗘Onde histórias criam vida. Descubra agora