❝Ela sabia que ele estava passando por momentos difíceis. Embora preferisse morrer do que aceitar, era fato de que o término com Luiza havia afetado partes dele que nem mesmo sabia que existiam. Ninguém parecia se importar, afinal; ninguém, menos Ja...
Nada é orgânico, é tudo programado E eu achando que tinha me libertado Mas lá vêm eles novamente
Admirável Chip Novo por Pitty
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Prólogo
Me xinga depois, Jaqueline
★
2021, São Paulo.
Como todos os dias, Jaqueline atravessou a rua com os olhos vidrados no celular, um café quente e sem açúcar — um sério desvio de caráter — na mão esquerda. O copo pouco fazia para manter o calor dentro, e talvez um dia processasse a cafeteria pela propaganda enganosa, mas enquanto sua chefe se alegrasse com aquilo, seria a primeira da fila com um sorriso forçado.
Pelo menos o atendente era bonitinho. Tinha um cavanhaque estranhamente atraente, olhos escuros e...
— Sua maluca suicida, não tá vendo o sinal verde, não?
Com o coração acelerado, a mulher desviou os olhos ao carro branco, uma marca chique que não conhecia, mas sabia que deveria ser cara só pelo brilho de novo que o automóvel exalava. Era esse tipo de gente que mais odiava: que se dava bem na vida e continuava a desgraçar a dos outros.
Tudo bem, era um exagero. A errada da história era ela, afinal, o sinal estava, de fato, verde, mas verificou a rua antes. Um pouco, pelo canto de olho, mas verificou.
Um bufo irritado saiu do homem no volante, pronto para descarregar maldições e, se preciso, arrastá-la para fora da rua, mas Jaqueline apressou os passos, ignorando a risada desacreditada. Já estava irritada o suficiente para ter que lidar com pessoas, sem contar que o café estava começando a queimar sua mão.
Uma porta de vidro com as iniciais L.C. a surpreendeu por estar aberta, escancarada, com uma garotinha sorridente e impaciente segurando-a.
— Bom dia, senhorita Freitas. — A criança exibiu os dentes, alegre demais para 8 da manhã.
— Oi querida, bom dia.
A mulher poderia estar furiosa, odiar a vida na maioria dos dias e xingar todos que a olhassem com escárnio, mas jamais poderia ser algo a não ser gentil com Isabella.
— Como sabia que eu estava chegando?
— Te vi brigando com o moço do carro — explicou, agarrando o cotovelo direito da mais velha e levando-a estabelecimento adentro. — Na verdade, tô aqui desde que mamãe chegou.
Jaqueline ergueu as sobrancelhas, aceitando ser puxada ao sofá verde neon. Aquela aberração era confortável demais para o próprio bem; apenas um deslize e dormiria por mais três horas.
— Você não deveria estar na escola?
A menina bufou, sentando-se com um pulo enérgico. O vestido de bolinhas amarelas voou, e a mulher o abaixou educadamente.