II

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Rio de janeiro - Rocinha.
20h:30

Michely ON

Bruno - Onde você estava até essa hora, Michely? - Meu pai me pergunta sentado no sofá.

- Ai pai, tava na casa do Alexandre, porque hein? - Ele me pergunta essas coisas sabendo que eu vou na casa do pivete praticamente todo dia, que homem mais chato.

Bruno - Michely, eu já falei que não quero você andando com esses marginais.

- Primeiramente, eles não são marginais, são meu amigos. Segundo, o senhor nunca viu nenhum deles roubando ou coisa do tipo, ou seja, não tem motivo nenhum pro senhor chamar eles assim, e terceiro, o Alexandre e a Angélica são meus amigos de infância, o senhor queria o que hein? - Eu simplesmente cuspi essas palavras.

Meu pai se levantou do sofá em um rápido movimento, o que me deixou um pouco assustada.

Bruno - Olha aqui garota - Apontando o dedo na minha cara - Eu não sei o que anda acontecendo com você, mas se você está achando que vai ficar com essa rebeldia dentro da minha casa, você está muito enganada. Continue assim e você vai pra escola particular, VOCÊ ME ENTENDEU?

E assim é minha vida todo santo dia, sofrendo ameaças e até mesmo xingamentos do meu próprio pai. Pode parecer frescura o fato de eu não querer estudar em escola particular, mas simplesmente abandonar todos os meus amigos da escola por causa do meu pai sería o fim pra mim, principalmente porque eu, Lilica e Pivete sempre estudamos juntos.

Com os olhos marejados eu olho nos olhos do meu pai e digo:

- O senhor não tem vergonha de me tratar assim? - Ele me olha confuso - A vida inteira o senhor me controla, tenta me impedir de ter amigos, de ser feliz... SERÁ QUE DA PRO SENHOR ME FALAR O PORQUE ME TRATA ASSIM? - Falo em um volume alto.

Naquela altura eu já estava chorando muito, e como sempre, meu pai não demonstrou nenhum pingo de remorso.

Bruno - Continue assim mesmo - Ele fala debochando - Depois não venha reclamar comigo, porque já estou vendo que você vai virar um projeto de piranha.

Como ele pôde falar isso?
Nessa hora meu sangue ferveu, então minha primeira reação foi pegar uma taça e jogar na direção do meu pai e começar a falar muitas verdades pra ele.

- CHEGA DISSO PAI, EU JÁ NÃO AGUENTO MAIS, A VIDA INTEIRA SEMPRE FOI ISSO, VOCÊ ME CONTROLANDO, QUERENDO ACABAR COM MINHA FELICIDADE. PORQUE VOCÊ ME TRATA ASSIM? DA PRA ME RESPONDER?

Meu pai se vira lentamente pra mim e coloca a mão em sua cabeça, vendo que havia sangue na mesma ele diz:

Bruno - sua vagabunda, VOCÊ ME BATEU? - Ele grita e da um tapa na minha cara. - EU SEMPRE TE DEI DO BOM E DO MELHOR, TE DEI BRINQUEDOS, ROUPAS, SAPATOS, OQUE MAIS VOCÊ QUER PORRA? - Ele fala segurando fortemente em meu rosto.

- EU QUERO AMOR, VOCÊ NUNCA ME AMOU, JÁ REPOROU QUE VOCÊ NUNCA FOI EM NENHUMA APRESENTAÇÃO DE DIA DOS PAIS MINHA? VOCÊ SEMPRE SE IMPORTOU MAIS COM SEU TRABALHO DO QUE COMIGO, MAS VOCÊ É FÚTIL DEMAIS PRA PERCEBER ISSO - Eu falo isso e tiro suas mãos de meu rosto - Eu te odeio, odeio muito.

Após toda essa confusão eu subo para meu quarto e me afundo em lágrimas.
Todos falam que o pai é o primeiro amor de uma filha, e eu queria tanto saber qual é essa sensação...
A sensação de chegar em casa e poder abraçar e beijar seu pai, ou então dormir todos os dias sabendo que se eu tivesse um pesadelo, meu super herói estaria lá para oque der e vier.

O vagabundo e a dama - DafúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora