𝙍𝙞𝙙𝙞𝙣𝙜 𝙍𝙞𝙫𝙖𝙡𝙨 × 𝘈𝘭𝘦𝘹 𝘞𝘢𝘭𝘵𝘦𝘳.

014

RORY GREYSON 
Sexta-feira. 
EUA-Colorado. 

Quando Rory chegou ao ponto de encontro, a tensão no ar era quase palpável. Alex estava lá, como esperado, esperando-a no parque onde costumavam treinar juntos, antes que a rivalidade e os sentimentos confusos entre eles começassem a corroer o que tinham. O sol começava a se esconder atrás das montanhas, lançando um brilho dourado sobre as árvores, mas não conseguia dissipar o nó que se formava no estômago de Rory.

Alex estava sentado em um banco, as mãos enfiadas nos bolsos, o cabelo castanho desarrumado caindo sobre os olhos. As sardas que sempre lhe deram um ar despreocupado agora pareciam apenas enfatizar a seriedade em seu olhar. Quando Rory se aproximou, ele levantou a cabeça, mas não fez nenhum esforço para cumprimentá-la.

— Você veio. — A voz de Alex era baixa, carregada de uma tensão que Rory sentiu profundamente.

— Claro que vim. Você faltou ao treino, Alex. — Ela cruzou os braços, tentando manter a firmeza na voz, mesmo que por dentro estivesse um caos. — O que aconteceu?

Alex suspirou e levantou-se, caminhando até uma árvore próxima, antes de virar para encará-la. — Sei que te decepcionei, Rory, e não tenho desculpas. Só que... — Ele parou, lutando para encontrar as palavras. — Minha família, as coisas em casa, estão complicadas.

Rory observou-o por um momento, tentando ignorar o desejo de se aproximar e simplesmente beijá-lo, mas ao mesmo tempo querendo manter a distância que sua raiva exigia. Sabia que Alex tinha sete irmãos, e que a dinâmica familiar dele era complicada. O irmão mais velho já não morava mais em casa, mas o segundo irmão, o loiro encrenqueiro, sempre jogava a responsabilidade nos ombros de Alex.

— É o Nath? — Rory perguntou, lembrando-se do irmão de Alex que, ironicamente, era seu melhor amigo. Nath sempre foi um ponto de apoio para ela, mas a relação com Alex, o irmão mais próximo em idade, era um turbilhão de emoções conflitantes.

— Ele e todos os outros. — Alex soltou uma risada amarga. — Sinto que estou sempre no meio de um furacão, tentando manter tudo em ordem, e falhando miseravelmente.

Rory sentiu a raiva misturada com o desejo, uma batalha interna que a deixava ainda mais frustrada. Ela sabia que Alex carregava muito peso nos ombros, mesmo que ele nunca falasse sobre isso. Mas ao mesmo tempo, não conseguia perdoá-lo por todas as vezes que ele a deixara na mão, mesmo que o que mais desejasse naquele momento fosse se aproximar e esquecer tudo.

— Você poderia ter falado comigo. — A voz de Rory estava mais suave, traindo a frustração que ela tentava manter. — Eu teria entendido.

Alex abaixou a cabeça, envergonhado. — Eu sei, mas não queria te arrastar para isso. Já é difícil o suficiente com tudo o que está acontecendo entre nós.

Rory se aproximou, seus pés movendo-se contra sua vontade. — O que está acontecendo entre nós, Alex? Porque, sinceramente, eu não sei mais o que pensar.

Ele levantou o olhar, e Rory viu algo em seus olhos que a deixou ainda mais dividida, um arrependimento que ela não sabia se queria acalentar ou rejeitar. — Eu também não sei, Rory. Só sei que não quero perder você, mas ao mesmo tempo, sinto que estou estragando tudo.

— Você não está estragando tudo sozinho. — Rory suspirou, sentindo o peso das palavras. — Eu também tenho minha parcela de culpa. Estou frustrada e deixei isso nos afastar.

O silêncio que se seguiu foi carregado de emoções não ditas. O vento soprou suavemente, fazendo as folhas dançarem ao redor deles, mas o barulho parecia distante, como se o mundo ao redor não existisse mais.

— O que fazemos agora? — Alex perguntou, a voz quase um sussurro.

Rory olhou para ele, sentindo o conflito em seu próprio coração. Parte dela queria se render, aproximar-se dele e acabar com essa briga interna que a corroía. Mas outra parte sabia que ceder significaria se expor a ainda mais dor. — Acho que tentamos, Alex. Tentamos ser honestos um com o outro e não deixar que tudo isso nos consuma. Temos os nacionais chegando, e precisamos estar juntos nisso.

Alex assentiu, parecendo encontrar um pouco de alívio em suas palavras. — Certo. Vamos tentar.

Rory esboçou um pequeno sorriso, sem muita convicção. — Então... amigos de novo?

Ele hesitou por um segundo que pareceu uma eternidade, antes de segurar a mão dela. — Amigos.

Mas Rory sabia que havia muito mais em jogo do que aquela simples palavra. A tensão entre eles não se dissiparia tão facilmente. E, enquanto eles ficavam ali, de mãos dadas, ela lutava contra o impulso de puxá-lo para mais perto e, ao mesmo tempo, de empurrá-lo para longe.

Quando finalmente decidiram ir embora, Rory se afastou com um nó na garganta, sabendo que nada estava realmente resolvido. Talvez, pensou enquanto deixava o parque para trás, eles conseguissem passar por tudo isso juntos. Mas parte dela duvidava profundamente.