𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟕

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Taehyung se viu desolado no meio das tralhas ainda um pouco desorganizadas pelos cantos do quarto, passando os dedos pelos baús cobertos pela poeira de anos sem serem tocados. Um deles estava aberto, deixando as pequenas bisnagas de tintas à vista.

Oh, como Taehyung sentia falta de pintar.

Sentia falta da leveza de sua mão ao segurar seu pincel, da sensação da tinta que seu irmão fabricava pela tela de tecido em branco começando a dançar em cores, da sujeira que seu corpo ficava após uma obra, do cheiro tão forte e tão familiar. Ele não pensou duas vezes ao começar a procurar uma tela pelo local. Não demorou a achar, aquela sala parecia ser específica para tal atividade, as coisas, por mais que envelhecidas e empoeiradas, ainda estavam ali, intactas e prontas para uso.

Taehyung se perguntava quem se adornava daquela sala antigamente. Talvez Namjoon enquanto humano? seu pai? sua mãe antes de falecer? Ou até mesmo algum criado escondido na época?

Ele posicionou a tela amarelada pelo tempo no cavalete próximo à janela e passou a testar as tintas uma por uma em seus braços após dobrar suas mangas. Todas as bisnagas eram da mesma cor, mas dentro delas o colorido se formava em líquido. Taehyung ainda não sabia o que pintar, não sabia ao certo o que poderia lhe servir de inspiração naquele lugar.

A imagem da rosa que havia escondida na ala oeste veio em sua mente após semanas, de maneira automática. Era realmente algo surpreendente, uma planta reluzente a noite e em um ambiente tão fechado. Taehyung também se lembrou dos quadros rasgados que viu, dos olhos humanos de Namjoon perdidos em meio aos rasgos. Não soube porque havia se encantado tanto com aqueles detalhes que jurou serem apavorantes para si naquele lugar. De fato, Namjoon estava mexendo com sua cabeça.

O pincel começou a passear pela tela, traçando linhas de rosa e vermelho em semi círculos. As mãos de Taehyung quase iam sozinhas quando pintava, sua imaginação trabalhava e, em poucos segundos, seus dedos já guiavam o objeto com tamanha maestria. Talvez fosse um dom no qual ele amava aperfeiçoar, reconhecia cada detalhe de um objeto apenas tendo o visto uma única vez.

Após alguns minutos, quando estava terminando os minúsculos detalhes do centro da planta na qual estava pintando, Taehyung parou. Novamente, os olhos de Namjoon estavam em sua mente. O castanho e o amarelo se misturam, olhando para ele.

Não, ele deveria continuar pintando a maldita rosa.

Voltou sua atenção para o início do caule esverdeado. Ao descer o pincel, até o fim da tela, a voz da fera ecoou em sua cabeça. Não contente com isso, seu cérebro decidiu lembrar de momentos tão específicos e coisas nas quais eram pra ser tão monótonas. A voz grave quando o chamava pelo nome, as mãos peludas tocando seus dedos com tanta cautela, a respiração pesada atrás de si, os olhos amarelos quando lia.

Namjoon, Namjoon, Namjoon, Namjoon...

Droga!

Quando se deu conta, Taehyung havia pintado por cima da planta ainda em andamento com seus próprios dedos. Ele pintou os olhos de Namjoon, eles em contraste de cores, estavam ali, olhando para ele. Céus, parecia que ele havia cometido o pior dos pecados. Sua respiração passou a ficar ofegante, o coração acelerado e suas mãos, completamente sujas das tintas que nem se lembrava de usar, agora suavam.

Ele não fazia ideia do que estava acontecendo consigo, o que estava sentindo. Como nomear aquilo no qual você desconhece? Como que Namjoon adentrou seus pensamentos de tal forma? Taehyung só poderia estar louco.

O rapaz passou uma das mãos pelo pescoço, ignorando a sujeira de cores que fazia em seu corpo e sua roupa. Nada parecia correto naquele momento, se sentia como um infrator.

𝐁𝐞𝐚𝐮𝐭𝐲 𝐚𝐧𝐝 𝐭𝐡𝐞 𝐁𝐞𝐚𝐬𝐭 - 𝐓𝐚𝐞𝐣𝐨𝐨𝐧 🌹Onde histórias criam vida. Descubra agora