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Roberto Nascimento:

Eu nunca fui o tipo de homem que se deixa levar por um rabo de saia, e além de tudo eu sou casado.
Mas, por algum motivo a imagem daquela mulher não saía da minha cabeça. Acho que senti uma admiração pela sua determinação. Porra parceiro, ela é de favela, mora num buraco e teve a força de vontade de estudar e passar numa faculdade boa. Tem muito filhinho de papai que não consegue fazer nada que preste, e essa mulher pobre ta vencendo na vida sozinha.

Durante muitos dias eu lembrei da forma que ela falou comigo, a mulher cujo não sei nem o nome, me abordou confiante e determinada. Em nenhum momento quando eu a encostei na parede, ela se mostrou com medo. Essas lembranças estavam me trazendo uma inquietude. E pra completar como uma cereja do bolo, o meu casamento com a Rosane estava uma merda.

No batalhão, sentado na minha mesa, tento me concentrar no tanto de papelada que tenho que resolver. E ainda tenho que traçar mais um plano pra voltar naquela favela desgraçada, e fazer o que precisa ser feito.

Meu celular vibra, a tela acende e logo o nome do meu filha brilha na tela. Um sorriso confortável surge em meu rosto.

— fala meu filhão - atendo animado

— Pai, esse final de semana estarei em casa - Rafael fala com a voz alegre

Fazia mais de 1 mês que eu não via o meu filho. Ele estava no colégio militar, interno, por escolha própria.

— pô Rafa, vou tentar conseguir uma folga, vamos fazer alguma coisa, ja avisou a sua mãe?

— ah eu conversei com ela ontem de manhã, vou passar 3 dias com vocês

Rosane sabia disso e não fez questão de me falar. Porra eu tava ficando irritado com tanta indiferença daquela mulher. Mas não deixei isso me detonar, e nem demonstrei a minha frustração, finalizei a conversa suavemente e animado. Rafa é uma das poucas pessoas que merecem ter o meu lado bom.

O restante do dia eu fiquei trancado na sala do comandante, precisava resolver uma pancada de burocracia. Mas a noite a situação no jacarezinho apertou, os filhas da puta da PM fazem merda e a gente que tem que limpar.

Subi aquela porra com sangue no olho. Se tem uma coisa que eu odeio mais que bandido, é policialzinho de merda causando alvoroço. E pra completar a minha raiva, tava rolando baile.

— VAI SUBIR NINGUÉM, FICA QUIETINHO AÍ- ordendo com a voz alterada aos policiais que aguardavam no pé do morro

Resolvemos a situação em 30 minutos, foi rápido, eu estava com pressa. Poucos mortos, infelizmente, mas muito bandidinho de merda levou o que mereceu.

Estava descendo em direção a viatura, já completamente exausto, mas erguido pela adrenalina da situação. Minha raiva e tensão se esvaíram no momento em que vi o motivo da minha desconcentração. A mulher desfilava, aparentemente cansada, mas em passos firmes subia o morro em direção a sua casa.

Eu estava ficando maluco, só pode. A mulher provavelmente tem idade pra ser a minha filha, como pode mexer comigo desse jeito?

Ela me olhou, estavamos a poucos metros de distância, e percebi um pequeno sorriso se formar em seus labios. E que lábios.
Não contive a reação, e provavelmente a minha postura já tinha desmoronado. Que merda, Nascimento!

— vocês estão tendo muito trabalho por aqui, não é mesmo? - ela diz em um tom provocativo, enquanto diminui a velocidade dos seus passos

O PLANO IMPERFEITOWhere stories live. Discover now