O PLANO IMPERFEITO

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"Olhos de cigana oblíqua e dissimulada,
eu não sabia o que era oblíqua, mas dissumulada eu sabia "

Mariana Fontes:

Eu estava me arrumando para mais um dia de trabalho, na verdade, era sábado e eu só trabalharia até as 13:00.

Peguei tudo o que era essencial, bolsa, carteira com documentos, óculos de grau que eu usava quando estava na tela do computador e uma roupa extra.

Dei um beijo na minha mãe, que ficou em casa pois não se sentia muito bem. Era um saco ser pobre e não poder pagar uma consulta pra ela. Sempre estava se sentindo mal, e sempre recorria ao posto da comunidade, E SEMPRE eles receitavam uma medicação e a mandavam pra casa. Tudo isso só aumenta o meu desejo de mudar de vida, não nasci pra viver nesse mar de pobreza.

Desço as vielas e ladeiras que eu conheço muito bem, eu estava usando a farda da confeitaria e os meus cabelos soltos, que eu só prenderia no coque padrão após chegar no trabalho. Eu estava distraída, pensativa sobre a minha vida e é claro sobre o que aconteceu noite passada. Mas logo fui interrompida dos meus pensamentos por uma voz conhecida:

— bom dia Ma, eu queria conversar com você, da pra ser ? - Edu me aponta na ultima ladeira

— Bom dia, sobre o que?
Ele suspira e passa a mão na cabeça

— eu sei que você merece o melhor, luta por isso, e eu decidi que vou melhorar, vou mudar de vida, vou sair disso aqui...

Ergo as sobrancelhas um tanto surpresa, mudar de vida? Se ele soubesse o tanto que teria que ralar pra mudar de vida do jeito que eu quero, ele recuava.

— que bom que você acordou Edu, sabe, voce falou que só penso em dinheiro e em vida boa, mas eu acho que o que eu quero é o que todo mundo quer...

— é que parece que você tem vergonha daqui, é a sua origem

— não me envergonho daqui, não me envergonho de ser pobre, mas me envergonho de não melhorar. Muito em breve, Edu, eu terei dinheiro e sairei dessa merda

Segui andando sem olhar pra trás, ele me encara e posso sentir os seus olhos queimando as minhas costas. Foda-se, eu não quero morar de aluguel num apartamento velho na zona norte, continuar com esse empreguinho de merda enquanto ele se torna office boy de uma multimarcas. Francamente, que piada.

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A manhã no trabalho era produtiva, geralmente a confeitaria lota nos dias de sabado. Quando chega o meu horário, fecho o meu caixa, presto contas e como sempre, tudo sai perfeitamente nos conformes.

Me organizo pra sair, meu rosto estava horrivel, era o cansaço de quem dormiu poucas horas. Tiraria a tarde pra colocar o meu sono em dias.

Saindo da confeitaria, levando um bolo de limão que eu amo e tinha a certeza que deixaria a minha mãe mais animada. Dobro a esquina em direção ao ponto de ônibus, geralmente nesse horario o ponto está vazio, apesar de me confortar me deixa apreensiva. Deus me livre ser assaltada, a unica coisa que tenho de valor é o meu celular e morro de medo de perde-lo.

Andava tranquilamente, cansada porém me sentindo suave, a tensão do trabalho e da faculdade sempre some quando chega o FDS. Observo os carros passando e sempre escolho mentalmente qual eu terei no futuro, era uma brincadeira que sempre fiz desde criança. Acredito nesse lance de lei da atração, mas acredito mais ainda no meu potencial.
Logo os meus pensamentos são barrados ao ver um carro conhecido, não anotei a placa pra ter a certeza, mas sinto que é o mesmo carro que estive ontem a noite.

Os vidros 100% escuros não me deixam confirmar quem dirige, mas algo me diz que Roberto estava ali dentro. Logo os meus pensamentos voltam a noite de ontem, ainda tenho dúvidas do que fazer em relação a ele caso volte a aparecer.