O PLANO IMPERFEITO

04

Mariana Fontes:

Dr. Antenor me surpreendeu de forma negativa, na verdade toda aquela situação não estava saindo como imaginei. O deputado era um completo sem noção, já vi que Miguel teve a quem puxar.

Alice não perdeu tempo, se jogou nos braços do Miguel, e enquanto os dois se comiam em público, eu tentava achar alguma coisa interessante na conversa dos políticos. Sempre que eles me perguntavam alguma coisa, eu respondia de forma sutil, mesmo que eu entendesse do assunto, mas àquela noite estava muito mais que tediosa.

Fui ao toalete na intenção de me esquivar das investidas descabidas do deputado. Apesar de ter planejado algo, pra quem sabe arrancar uma boa grana dele, eu havia me arrependido. O homem tinha um mau hálito terrivel, e conversava muita abobrinha. Como podem ter elegido uma coisa dessas? Não sou puta pra me submeter a isso.

No retorno do banheiro, percebo a presença de um homem conhecido no bar. Era o capitão gostosão, como diria Alice. Logo me entusiasmei, que delicia de homem, de todo jeito ele fica assim tão... gostoso.

É claro que sei ser sedutora, e mesmo com aquela aliança em seu dedo, não controlou seus pensamentos, isso era visível na sua cara. O tempo inteiro flertei com os olhos, se ele tiver a experiência que eu espero, ele vai entender bem o que quero.

Eu sei, homem casado: problema dobrado. Mas se tem uma coisa que eu não posso evitar é o diabo que trabalha na minha mente. Ele é um gostoso endinheirado, quem sabe eu não realizaria o sonho da minha madrinha e viraria uma suggar baby do capitão? O problema é que eu planejo, mas não consigo executar. Eu não sou tão sem caráter assim. Embora eu tenha ficado realmente excitada com esse policial, e pensado diversas coisas inclusive até como seria vantajoso pra mim. Eu jamais destruiria um lar sagrado.

Me despeço de todos e falo ao ouvido do Antenor:

— foi um prazer essa noite com voces, especialmente com o senhor Doutor, quando quiser me encontrar me liga - mesmo odiando esse homem falo com a voz aveludada mas mantendo os olhos impuros no capitão, é uma coisa que não posso evitar... essa cara de cachorra safada que eu tenho.

Infelizmente ninguém se disponibilizou para uma carona, todos ali eram homens ricos mas arrogantes, se eu pedisse pra me levarem em casa, seria o mesmo que pedir pra me comer.

Pego a minha bolsa, com a cabeça infestada de frustração e sigo até a saída. Alice estava alegre demais e nem sequer me perguntou como eu voltaria pra casa. Miguel, eu nem preciso dizer ne? O playboyzinho rico tem até motorista, e eu? Bom, só me resta andar até o ponto de onibus, que fica um pouco longe dali.

Puta merda, eu havia gastado uma grana que me serviria muito bem, e ainda tinha que voltar de onibus. Só pode ser castigo de alguem que comanda isso aqui, Deus ou sei lá quem. Se é que existe.

Quando eu já estava chegando proximo ao ponto, uma nave preta encosta, ao baixar o vidro era quem eu menos imaginava: o capitão

— entra aqui Mariana, te levo em casa. - ele ordena firme

Sem hesitar, entro no carro e sinto a crise interna crescer dentro de mim. Um gostoso, porem, casado. Um gostoso rico, mas é casado. Que droga

Durante o caminho o silêncio é predominante, sendo cortado apenas pelo som baixinho tocando no carro. Era Wicked Games - cris isaac. Mas o som estava tão baixo que nem pude curtir a sensação boa que aquela música sempre me traz.

O capitão estava deliciosamente dirigindo. O braço esquerdo estava levantado, apoiando o cotovelo na porta do carro, e a sua mão fazendo um sinal com indicador na testa. Enquanto a mão esquerda estava ao volante, pressionando e manobrando de forma que deixava as veias ainda mais saltadas.