O primeiro dia.

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Finalmente cheguei.

Desço do uber e me despeço do motorista, sorrindo sem mostrar os dentes. Logo me viro e caminho até a escola José Pinto E.E e espero pacientemente ao lado do portão fechado.

Olho a hora, 7:10. Cheguei muito cedo. Suspiro baixo e olho ao redor, em busca de mais alguém, só vejo alguns alunos do fundamental. Haja coragem pra chegar 7:10 quando os portões só abrem as 7:30.

Eu devia ter saído mais tarde... Por quanto tempo vou esperar? Maldita ansiedade que me deixou acordado a noite inteira... Espero que já seja tão difícil, talvez eu até posso dar aula pro ensino médio, é normal que eles sejam mais quietos.

Enquanto me perco nos pensamentos, uma professora se aproxima de mim, sorrindo, chamando minha atenção.

- Oii! Você é o professor novo, certo? - Ela me olha de cima a baixo, curiosa. Sorrio de volta antes de responder.

- Sim, Gabriel de sociologia e fisolofia. E como você se chama? - Eu me encosto na parede, cruzando os braços sob meu peito.

- Luciana, sou de matemática. - Respondeu animada, ela ajeita seu óculos, ainda me olhando.

Era uma mulher bonita ao meu ver. Pele escura, cabelo cacheado preso em um rabo de cavalo frouxo, usando uma blusa de frio vinho e calça jeans escura. Parecia cansada, deve sofrer dando a matéria.

- Prazer em te conhecer. Você chegou na escola quando? - Ajeito meu óculos, olhando ao redor por um momento, procurando por outro colega.

- Esse ano também, no início. Vamos entrar? - Luciana começa a se aproximar de mim, como estava ao lado da porta, eu me afasto um pouco, dando espaço a ela.

- Tem como? - Eu a sigo com o olhar e vejo um interfone onde eu estava. Bufo, incrédulo. - Perdão, eu não tinha visto...

- Tudo bem, acontece. - Ela liga para a secretária e em poucos segundos, ouvimos um clique alto. A porta se abre e ela passa, eu a sigo.

Nos fomos até a secretaria para entrar, conversando um pouco sobre a escola. É uma mulher engraçada e boa de se conversar, vou me recordar disso. Assim que entramos, nos separamos um pouco enquanto eu ia até a sala dos professores. Só tinha eu e Luciana, rimos um pro outro e eu procuro pelo meu armário. A porta se abre e eu logo me viro.

- Bom dia- Minha respiração engata ao ver o professor, arregalo um pouco os olhos surpreso. Ele era bem atraente, e parecia disposto.

- Opa, bom dia! - Respondeu com uma risada grossa, gostosa de se ouvir. Eu tremo com o som, e viro o rosto, abrindo o armário. - Esse é o meu, sabia?

Pauso ao ouvir a voz dele bem próxima de mim, assim que giro, ele estava lá, sorrindo, quase que achando graça. Provavelmente estava. Sorrio um pouco envergonhado.

- Poxa, jura? Desculpa... - E me afasto sutilmente do armário, coçando meu queixo. - Por isso que estava difícil de abrir...

- Haha, é, pois é. Mais um pouco e você quebrava a fechadura. - Disse em um tom de alerta, mas não como repreensão. Eu sinto minhas bochechas esquentarem de leve, mas eu evito a vergonha. - O do canto está vazio, você pode usar ele.

O professor gesticulou para o armário do canto, e eu sigo sua ordem, indo até ele e o abrindo com mais facilidade. Rio baixo, surpreso.

- Obrigado, seu nome é...? - Enquanto coloco algumas de minhas coisas no local oco, eu olho de relance pra ele, percebendo seu olhar sobre mim.

- Ademir. - Responde em tom baixo, piscando pra mim - E você, senhor distraído?

Fico em silêncio, surpreso pela piscada. Mas afasto quaisquer tipo de pensamento, focando. - Gabriel. Sou de sociologia. - Eu sorrio pra ele gentilmente.

- Prazer, Gabriel. Presta atenção antes de arrombar um armário, ok? - Brincou, se afastando e indo cumprimentar a Luciana.

Eu o sigo com o olhar, analisando suas costas. Porra, ele parecia um urso. Não só de músculos, mas as costas eram enormes. Ele vestia uma camiseta de alguma banda de rock que eu não conheço, não sou muito próximo desse gosto musical. Suspiro em silêncio, fechando o armário e me sentando na mesa, abrindo meu notebook.

- Gabriel, você não vai pegar os horários? - Ademir pergunta, eu ergo os olhos do eletrônico e olho pra ele.

- Vou sim, tô' fazendo isso agora. - Respondo, um sorriso involuntário surge no meu rosto. - Pode me colocar no grupo?

- Posso, me passa seu número.

Eu sorri, vitorioso. O melhor jeito de se conseguir o número de alguém disfarçadamente. Me levanto da cadeira enquanto ele caminha até mim. Coloco no meu perfil do WhatsApp e mostro a ele meu número. Ele o anota, dando algumas olhadas diretamente pra mim com um sorriso fofo. Um arrepio passa pela minha espinha. Merda, ele é muito fofo.

- Vou te mandar um oi. - Em poucos instantes, eu recebo a notificação, pego meu celular de volta e logo verifico. Era uma figurinha de um gato fofo com um 'hi' em baixo.

- Ok, obrigado. - Salvo o contato dele como 'Adm' e retribuo a figurinha com outra, sendo um gato girando. - Espero que eu consiga lidar com as aulas...

- Você consegue, é moleza, po. - Ele ri, seu peito vibra com a ação. Meus olhos direcionam a eles por um instante e depois volta.

- Obrigado pelo apoio... - Sorrio, um pouco tímido.

- Você é muito de agradecer... - Cocei a nuca com seu comentário, era verdade.

- É... desculpa. - Ele ri de novo. Deus como sua risada é boa. Eu rio junto dele. É contagiosa...

- Relaxa, não tem problema. É até... fofo, de certa forma.

Assenti, ele se afasta e vai cumprimentar os outros professores, eu faço o mesmo. Mas, eu não foco muito nas conversas, minha mente está e outro mundo. Ou melhor, em uma certa pessoa.

Ele não sai da minha mente pelo resto do dia. Eu dei aula normal, mas, um pouco avoado, mas não tinha problema, afinal, eu usava as primeiras aulas em escolas novas para me apresentar aos alunos e conhecer um pouco deles. Foi divertido.

Assim que estou prestes a sair da escola, vejo Ademir ir até o carro, ele passa por mim e eu inalo seu cheiro. Um pouco doce e amadeirado, indicado sua sofisticação. Não consigo conter a risada baixa. E ele escuta.

- Ei, Gabriel. - Ademir se vira e sorri pra mim, uma expressão confusa. - Você... me cheirou?

- O que? Há, não! - Eu ri da acusação verdadeira dele, tentando descontrair. - Eu só estava sentindo um cheiro de queimado, mas aí você passou...

- Ata, que curioso, eu na sinto cheiro de nada... - Ele cruza os braços, desconfiado.

- Jura? Que estranho, como não sente? - Indico para a construção ao nosso lado, que estavam fazendo um churrasco.

- Caramba, que isso? - Seguiu meu olhar, rindo da situação. Nos só vemos a fumaça, mas o cheiro é inconfundível. - Hn, cervejinha gelada e um churras de segunda? Vida boa.

- Queria. - Nós rimos por um momento. Que risada boa, como é possível?! - Mas, desculpa o incomodo...

- Não se desculpe, eu que me enganei. - Ele caminha até o carro, mas para. O olhei confuso. - Que tal uma carona? Para compensar.

- Que? Não, não! Não precisa, sério... - Eu nego com a cabeça, surpreso com a oferta. - Não quero te importunar mais...

- Relaxa, carai', tem problema não. Bora. - Ademir me chama com a mão, brincando. Eu relutantemente aceito, o seguindo.

Ele me levou até em casa, foi rápido. E eu só me lembro de capotar na cama, exausto depois do banho frio.

A Lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora