∩ A dor te torna resistente. ∩

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KIM NAMJOON

"_ Vovó não me deixe ir, eu não quero a mamãe - essas eram as falas de uma criança de quatro anos - por favor vovó, por favor.

_ Pequeno Joonie, sua mamãe precisa de você. - a senhora se abaixou na altura do menino, o fazendo largar suas pernas - olhe para mim.

_ Vovó, não.

_ Você vai ver, as coisas vão melhorar.

_ Ela vai me colocar naquele lugar, vovó por favor .- então o garoto se agarrou na senhora, em um abraço apertado cujo não queria soltar, não queria ir com a mãe.

_ Do que está falando Joonie ?

_ Lá é frio, por favor não me deixe ir."

Acordo molhando  em suor e com a respiração descompassada, passo a visão pelo quarto e percebo que os garotos dormia calmamente, ao fundo eu podia escutar choros esganiçados, era das crianças pequenas e alguns gritos, esses vinham dos seguranças.

Passo a mão na face, sentado na beliche.

Eu sempre tive pesadelos me rondando, lembro com detalhes a face embriagada da minha mãe, apesar da pouco idade na época. Ela era dependente química e alcoólatra, sempre chegava se arrastando pelas paredes, mal conseguindo  ficar de pé ou falar algo coerente, seu corpo era fedido e possuía machas de agressões, sangue, hematomas e esperma.

Ela costumava me deixar na casa da mãe, vovó sempre me tratava com carinho, pelo menos eu comia e dormia nos horários certos, tomava banho e podia ser uma criança comum, com vovó eu não era o responsável, responsável a pegar remédios para dor, responsável por lavar seu corpo e velar seu sono, responsável por cuidar de uma adulta e os papéis estarem invertidos.

Mas eu não a odiava completamente, quando ela não estava sobre os efeitos das drogas ou álcool era uma mulher doce e encantadora. Ela me colocava em seu colo e fazia cócegas, ela possuía um sorriso bonito, olhos pequenos e cabelos longos que caíam sobre mim.

Eu a achava linda.

"_ Você  é tão inteligente, mamãe te ama mais que tudo, nunca esqueça."

Mas eu a temia, quando ela tinha aquelas recaídas e suas feições se transformava em um misto de raiva e frustração, várias vezes presenciei a cena da minha avó discutindo com ela, quando a mesma desaparecia e depois de algumas semanas retornava.

Eu ficava atrás da porta, prendendo o choro enquanto escutava vovó dizer coisas do tipo :

"_Pense no pobre Namjoon, o que será dele com uma mãe como você?!"

"_Você precisa sair dessa, eu não estarei aqui para sempre."

Mamãe sempre escutava tudo calada, ela sabia que vovó tinha razão, mas raras as vezes ela se pronunciava e dizia coisas do tipo :

" _ Eu não consigo é mais forte que eu."

" _ É mais forte, mais forte."

" _ Eu só queria sumir para sempre, assim você e meu bebê poderiam viver em paz."

"_ Mãe me ajuda por favor, me ajuda a sair dessa vida."

Suspiro forte. Aquele sentimento doía e o tempo era incapaz de curá-lo, não era a primeira vez que ela me abandonava no orfanato, ela me deixava aqui e depois de algumas semanas retornava, me perdia perdão e me levava para casa da vovó, eu não odiava completamente até aqueles dias, mas agora, já perto da maior idade não consigo entender o motivo de não ter me deixado com vovó como ela mesmo falava.

"Eu só queria sumir para sempre, assim você e meu bebê poderiam viver em paz."

Na última vez que ela me tirou dos braços de vovó e me deixou aqui, nunca mais voltou para me buscar, eu ficava olhando o portão, esperando ela retornar e pedir perdão como sempre, mais dessa vez isso não aconteceu e algo já quebrado dentro mim, se despedaçou ainda mais.



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⏰ Última atualização: Oct 08 ⏰

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