Capitulo 1 - A otimista Bonnie Backer

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Alana vagou pela cidade durante a noite, seus passos cuidadosamente planejados para evitar o mínimo de ruído. A escuridão era tanto sua aliada quanto sua inimiga; cobria seus movimentos, mas também escondia os perigos à espreita. As ruas, antes iluminadas e acolhedoras, agora eram labirintos de sombras e ruínas, cheias de perigos ocultos. Cada som estranho — um estalo de vidro quebrado, o roçar de um pedaço de papel, o uivo distante do vento — fazia seu coração disparar. Ela não podia se dar ao luxo de cometer um erro. Um único deslize poderia alertar os zumbis que vagueavam incessantemente, em busca de qualquer coisa viva para devorar.

Enquanto se esgueirava pelos becos estreitos e lotados de entulho, Alana notava os sinais da destruição por toda parte. Vitrines quebradas, carros abandonados, fachadas de lojas arruinadas. O lugar, que um dia abrigara famílias, trabalhadores, vidas comuns, agora era uma cidade fantasma, dominada pelo cheiro de morte e decadência. A lua, alta no céu, oferecia uma luz fraca, apenas o suficiente para distinguir as formas à sua frente. O vento, carregando o cheiro pungente do mar misturado com a podridão, era seu único companheiro constante.

Ela avançava com cautela, mantendo o rádio desligado para não atrair atenção. À medida que o tempo passava, a exaustão começava a se insinuar, pesando em seus ombros e tornando cada passo mais difícil. Seus pensamentos voltavam constantemente para Violet, para as palavras que ecoavam em sua mente, para a promessa de uma voz amiga do outro lado. Mas não havia tempo para se perder em devaneios. A prioridade era encontrar um lugar seguro para passar a noite.

Foi então que, ao virar uma esquina, ela avistou algo que a fez parar. Havia algo de familiar, a fachada desgastada pelo tempo ainda ostentava o letreiro que balançava ao sabor do vento. Porém, o que mais chamou sua atenção foi a porta de metal que protegia a entrada. Era robusta, um tipo de segurança que poucas lojas possuíam e que poderia ser sua salvação naquela noite. A antiga loja de ferragens do centro. Se conseguisse abaixar aquela porta sem chamar atenção, estaria a salvo até o amanhecer.

"Já tinha me esquecido que isso ficava aqui. Mas também não é como se eu estivesse procurando uma chave inglesa ou braçadeiras de plástico no meio do apocalipse." Alana pensou consigo mesma. Só o fato de seus pensamentos terem se alegrado ao ponto de formular uma piada já valia o esforço de tentar.

Alana se aproximou com cuidado, sentindo a adrenalina crescer à medida que estudava a situação. A rua estava silenciosa, mas isso não significava que estava segura. Sabia que os zumbis poderiam estar escondidos em qualquer lugar, prontos para atacar ao menor sinal de vida. Sua respiração estava pesada, e ela tentou controlá-la, lembrando-se de que qualquer barulho poderia ser fatal.

Alana odiava zumbis. Não que os humanos tivessem alguma espécie de relação afetuosa com eles, mas, ao contrário de Alana, eles não guardavam um ressentimento particular. A garota morena, de quase dezenove anos, perambulando sozinha sem uma única ferramenta de defesa, sem nenhuma capacidade de se proteger caso a situação se fizesse necessária e prontamente decidida a virar jantar de cabeça oca caso a hora chegasse, sabia que, se tivesse que morrer um dia, seria por culpa deles.

Ela chegou à frente da loja, seus dedos roçando a fria superfície da porta de metal. Inspirou fundo, calculando a melhor maneira de puxá-la para baixo sem fazer muito ruído. Foi nesse momento que ouviu um som vindo do interior da calçada, pouco menos de três metros dela — a princípio, um farfalhar sutil, mas logo percebeu que não estava sozinha. Sua mão parou no meio do movimento, e seus olhos se arregalaram em alerta. Será que havia algo ou alguém atrás dela?

Alana hesitou, lutando contra o pânico crescente. Poderia ser outro daqueles gosmentos, tortos e cadavéricos, ou poderia ser algo muito pior, mais daqueles grupos de marginais que estavam saqueando os sobreviventes andarilhos na covardia. Não havia como saber sem arriscar, e ela estava ficando sem opções. Alana quase riu em um lampejo de desespero ao pensar que tinha mais apreensão de encontrar um ser humano do que um monstro morto-vivo. Com um gesto rápido e silencioso, tentou olhar por cima do ombro, mas não conseguiu ver nada além da escuridão e um carro vermelho de faróis quebrados e vidro sujo de cocô de pombo.

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