Pelos Que Restam

Capítulo 2 - O Destemido Luke Davidson e o medroso Alex Jackson.

A manhã nasceu com uma tranquilidade inesperada, como se o mundo tivesse tirado um raro momento para respirar. A luz do sol escorria pelos telhados destruídos, criando um contraste quase irônico com as sombras dos destroços que dominavam as ruas. Alana acordou devagar, como se seu corpo soubesse que aquela calmaria era passageira. A primeira coisa que sentiu foi o alívio de ainda estar viva; a segunda foi a sensação surpreendente de segurança que Bonnie trouxe para sua noite, curiosamente fora bem menos desagradável dormir com outra pessoa do que sozinha.

Bonnie ainda dormia ao lado dela, encolhida no saco de dormir, com a respiração tranquila. Alana se levantou silenciosamente, tomando cuidado para não fazer barulho e não acordá-la. Pegou a lanterna e olhou ao redor da loja de ferragens, que agora parecia menos assustadora à luz do dia. A segurança da noite anterior parecia um sonho distante, mas o silêncio ensurdecedor ao redor delas, no meio de uma cidade que antes era uma gigantesca capitual,  era real o suficiente para lembrar que o pesadelo ainda não havia terminado.

Bom, hora de continuar, pensou Alana, enquanto arrumava sua mochila. Colocou o rádio no bolso, sentindo-se um pouco mais confortável com o dispositivo por perto. Antes de sair, espiou Bonnie novamente e sentiu uma pontada de responsabilidade que não estava lá antes. Talvez fosse o peso de agora ter alguém com quem se preocupar, além de si mesma.

Ela esperou Bonnie acordar, e quando a garota finalmente se mexeu, abriu os olhos e sorriu para Alana, como se o dia tivesse começado muito bem, apesar de tudo.

— Bom dia... Precisamos seguir viagem está bem? - Murmura com um sorriso mínimo no rosto, não costumava ser bem humorada pela manhã, ao contrario de Bonnie que além de ter um sorriso sonolento no rosto, diante da luz fraca de sol que entrava pela pequena janelinha, dava para ver que seus cabelos não se tratavam de um castanho claro e sim um loiro escuro, parecido com dourado. — Vamos encher as garrafas e seguir viagem? Podemos ver o que achamos de bom em um mercado aqui perto, aqui deve ter umas máscaras de mofo. Geralmente os mercados tem um cheiro de podre terrível. 

— Bom dia... — Bonnie desejou se levantando e coçando os olhos, não levou muito tempo para começar a recolher seu saco de dormir e sua mochila. — Me orientaram a ficar longe de mercados grandes da ultima vez em que estive com pessoas. Você sabe, no começo da epidemia os mercados e farmácias ficaram cheios, as pessoas estavam desesperadas por suprimentos, e os bichos entraram lá e morderam a maioria. 

A morena então fez uma careta sutil ao se lembrar dos primeiros meses do surto, a correria dentro dos estabelecimentos, as pessoas que conehcia, vestindo desespero da cabeça aos pés, o caos, os acidentes de carro, a polícia tentando conter o volume de pessoas, corpos pelas ruas...Balançou a cabeça espantando os pensamentos como se fossem passarinhos pousando em seu cabelo e tornou o foco para o momento presente. 

— Vou dar uma olhada lá fora enquanto você cuida das garrafas de água, depois pegamos alguma coisa daqui pra seguir viagem. 

Bonnie apenas assentiu com a cabeça e Alana apenas virou as costas para sair. 

Ela saiu do pequeno escritório e atravessou a pequena loja até a entrada,  abriu a porta de metal com cuidado, preparada para qualquer eventualidade, mas foi recebida apenas pelo silêncio. O dia estava claro, e a rua estava surpreendentemente deserta. Nenhum zumbi à vista, nem mesmo um movimento suspeito nas sombras. Ela respirou fundo, apreciando a brisa fresca do mar misturada com o odor usual de decadência.

Alana contemplou  o dia com um pouco mais de alívio do que na manhã anterior quando ainda estava sozinha,deu uma ultima olhada ao redor ,para ter certeza de que estava sozinha, e pegou o rádio do bolso ajustando a a frequência, esperando ouvir a voz de Violet para que a manhã continuasse com o ritmo otimista que estava antes. 

— Nerd na escuta... — Provocou com um sorriso divertido nos lábios. 

— Alana? Está aí? — A voz de Violet soou clara e familiar, fazendo o coração de Alana acelerar por um instante, o desespero de estar sem pilahs antes, agora havia sumido totalmente. Sua mochila estava bem cheia de pilhas e podia voltar a conversar com Violet em momentos aleatórios do dia. — Você conseguiu?