Beautiful Crime - Wenclair

Run Boy Run

29 de Janeiro de 2021.

ㅤㅤㅤㅤㅤUm homicídio brutal aconteceu em Jericho. A notícia que parou a cidade, a morte de Garrett Gates, o primogênito da família Gates. A crueldade foi tanta que o único vestígio encontrado fora sua arcada dentária.

29 de Janeiro de 2024.

ㅤㅤㅤㅤㅤTrês anos do aniversário de morte de Garret, três anos que a família Gates busca por justiça, três anos de uma brutalidade colossal. Três anos de um caso não solucionado.

ㅤㅤㅤㅤㅤEra inverno, a manhã fria, com o céu coberto por um manto negro. O Sol mostrava-se inexistente a esse ponto, quase insignificante. Parecia uma manhã comum, exceto por: mais um assassinato aconteceria naquele fatídico dia.

— Você pode correr… mas não pode se esconder. — a voz ecoava pelos containers, parecendo mais sinistra cada vez que ressoava no ambiente. Sua localização sendo imprecisa, parecia surgir de todos os lugares.

— Por favor, eu tenho dinheiro! — o homem gritava enquanto corria, temendo por sua vida.

ㅤㅤㅤㅤㅤNão importava o quanto tentasse fugir, o lugar parecia um labirinto sem saída. Até o momento em que ele parou. E se escondeu, agachando-se embaixo de uma mesa, seu maior erro. Pois sua perna foi puxada com força, e o gesto fez com que sua cabeça batesse de forma rápida contra o chão, deixando-o desacordado.
O homem acordou com um balde de água fria sendo despejado em sua cabeça. Deixando-o assustado e desorientado, estava sentado em uma cadeira com os pés e mãos amarrados, completamente imobilizado. A sua frente uma figura desconhecida, coberta dos pés à cabeça. Estava usando uma máscara de hóquei vermelha com listras pretas, um sobretudo preto com capuz cobrindo seu corpo, era difícil até de dizer se era um homem ou uma mulher por baixo dos panos.

— Rowan Laslow, certo? Aqui diz que você desviou dinheiro público e… — a figura começou, a voz abafada pela máscara. Segurava um envelope com a ficha do homem, seus olhos praticamente brilhando ao lerem as próximas palavras, uma risada nasal sendo escutada. — Espancou a própria mulher até quase matá-la. — finalizou sua fala, levantando o olhar, para o encarar.

— O quê!? Como você…? — sua fala murchando, um misto de raiva e surpresa no olhar.

— Que escândalo para um promotor público. Foi por isso que o acobertaram, senhor Laslow? — perguntou, a voz abafada com um tom quase divertido. Deixou a ficha em cima de uma bancada e começou a se aproximar a passos curtos.

— Para quem você trabalha!? - ele vociferou. — Eu tenho dinheiro! Posso pagar o dobro! — esbravejou, os olhos temerosos, parecia estar prestes a chorar, desesperado.

— Dinheiro? — perguntou ironicamente, uma risada alta preenchendo o ambiente. — Você entendeu errado, promotor… — se aproximou do homem e agarrou o rosto com força, inclinando levemente o corpo para que ficassem cara a cara — isso não é por dinheiro, mas sim por… Justiça. — disse e soltou o rosto dele, desferindo um tapa rápido contra sua bochecha esquerda.

— Que porra você pensa que está fazendo comigo!? Vão atrás de você, sua vadia! — ele berrou, a face ardendo pelo tapa recente. Não lhe importava mais se era homem ou mulher, ele iria se vingar e matar o desgraçado.

— Primeiro foi um tapa na bochecha esquerda… — murmurou lendo de relance o que estava escrito na ficha.

ㅤㅤㅤㅤㅤRowan odiava ser ignorado, estava com raiva, mas principalmente, com medo, muito medo, não sabia como sairia dali e ter a ciência de que alguém sabia sobre seu crime era assustador. A figura mascarada murmurava cada ação que o promotor tivera contra sua esposa, e isso o deixava extremamente ansioso.
De repente algo lhe chamou a atenção. A pessoa estava colocando um soco inglês nas mãos e começava a andar em sua direção mais uma vez, seus olhos arregalados e a voz que parecia lhe trair, ficando presa na garganta.

— Depois foram socos… — murmurou mais uma vez parando a frente de Laslow. Desferindo um soco forte contra seu estômago.

ㅤㅤㅤㅤㅤEle gritou de dor, era excruciante. E não parou em um soco, foram dois, três, quatro, cinco, seis… tantos ao ponto de perder as contas. Ao ponto de cuspir sangue.

ㅤㅤㅤㅤㅤAlgumas horas se passaram, o promotor, Rowan Laslow estava suado, com cortes no rosto. E provavelmente com alguma hemorragia interna. Seu sangue estava espalhado pelo chão, pelas suas vestes e pelas roupas da figura mascarada, era uma verdadeira cena de crime. Talvez uma obra de arte para aqueles que saibam apreciar.

- Te vejo no inferno, filho da puta. - a pessoa disse, um tom mórbido e se posicionou atrás de Rowan, cortando sua garganta. O sangue jorrando por todo o local, o som era quase como uma melodia perversa.

ㅤㅤㅤㅤㅤSe afastou do corpo, retirando as luvas de couro e pegando um novo par, dessa vez, sendo luvas de látex. Seria uma trabalheira para limpar isso, a maldita bagunça que fizera foi além do esperado, mas o que fazer? Perdeu o controle, um erro, sua única opção era limpar o local o máximo possível.

ㅤㅤㅤㅤㅤO corpo foi encontrado durante a madrugada do dia 30, nas docas. Seu cadáver preso a ganchos, suspenso pelas omoplatas, como se fizesse parte do divino, assemelhando-se a um anjo. Sua cabeça decepada, exposta em uma bandeja de prata sobre o chão. Era uma cena aterrorizante, alguns dos policiais que interditavam o local não aguentavam o cenário e corriam para vomitar.

ㅤㅤㅤㅤㅤAlguns minutos se passaram, até que o detetive Donovan Galpin, finalmente, chegou ao local. Seu corcel amarelo com uma sirene no teto, sendo estacionado em uma área um pouco distante. Era possível vê-lo se aproximar, a farda marrom bem ajustada, mas ao seu lado havia uma garota. Uma que os policiais nunca tinham visto antes. Uma loira que estava usando roupas brancas, quanto mais seus passos se aproximavam, os guardas começaram a entender, era ela: a perita recém contratada.

ㅤㅤㅤㅤㅤA garota, que descobriram se chamar Enid Sinclair, parecia nervosa e ao mesmo tempo confiante, afinal, era seu primeiro caso oficial. Não queria estragar tudo, colocou luvas, máscara e touca em seu cabelo e pés, antes de passar pela faixa de “não ultrapasse.” Foi naquele momento que ela entendeu o real significado de estômago forte.  Seus olhos azuis arregalados, um refluxo preso em sua garganta, todo o cenário algo que poderia ser definido com uma única palavra: Brutalidade.

— Bem vinda ao seu primeiro caso, perita Sinclair. — Donovan disse, sem muita cerimônia, seus olhos abrindo e fechando lentamente enquanto parecia absorver a atmosfera.

— Por que… alguém faria isso? — Enid sussurrou, seu olhar vasculhando a cena, a cabeça exposta em uma bandeja de prata abaixo do corpo. O sangue que pingava em um ritmo lento, era algo cruel. Tudo aquilo era desumano.

— Uhm, com licença — uma voz masculina se aproximou deles, usava uma roupa protetora e outros equipamentos necessários para não contaminar a cena. Em sua mão estava um saco transparente, que lacrava um envelope. — Isso foi encontrado naquela mesa — apontou para a mesa prateada, que parecia-se com uma mesa cirúrgica. Entregou o papel plastificado na mão de Enid e se afastou.

ㅤㅤㅤㅤㅤEnid olhou para Donovan, seus olhos apreensivos que ao mesmo tempo exalavam curiosidade. Abriu cuidadosamente o saco transparente e segurou o envelope com ambas as mãos, retirando de lá uma ficha criminal. A ficha criminal de Rowan Laslow. O promotor que fora morto cruelmente. Os olhos dos oficiais arregalados, não sabiam sobre aquelas informações. Laslow tinha uma ficha consideravelmente grande, que envolvia: lesão corporal, injúria, crime passional e violência doméstica. Porém nenhum de seus crimes estavam registrados oficialmente, eles entenderam imediatamente que: seus atos estavam sendo acobertados.