008 - Bachata e....Noiva?

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voltei galeris, boa leitura!

[ Luiza Campos Reis]

Como? Por favor, universo, me diz como eu posso lidar com essas ideias. A mãe do meu filho é uma desnaturada que simplesmente esqueceu que gerou uma criança dentro do próprio útero que carrega o meu sangue.

Leonardo é a cara dela, toda vez que vejo seu semblante fofo e inocente, seu sorriso de lado ou seus olhos brilhando felizes quando encara algum brinquedo, me sobe uma mistura de felicidade e amargor. É uma gastura que vem de dentro para fora, precisei de longos anos de terapia para conseguir olhar na cara do meu filho e amá-lo incondicionalmente, independentemente do monstro que sua geradora se tornou para mim. Lutei muito para não ter aversão a alguém que é sangue do meu próprio sangue, e vê-lo sofrer por sua causa me destrói de uma maneira desumana.

Como posso lidar com o fato de ver a pessoinha mais importante da minha vida sofrer por alguém que sequer dá um telefonema perguntando se ele está bem, se comeu no horário certo, se a babá tem dado conta ou se tem sido bem tratado pelos amiguinhos na escola? Como posso lidar com o fato de que a razão do meu viver está sofrendo preconceito na escola não apenas porque é diferente ter duas mães, mas porque tem duas mães divorciadas?

Quando o dia finalmente chegou ao fim, encarei Valentina com uma cara que dizia mais do que tudo. Essa mentira precisava acabar o mais rápido possível. Por mais inteligente que meu filho seja com seus seis anos de idade, é coisa demais para sua cabeça exigir que ele entenda que eu e a ‘tia Valentina’ estamos fingindo uma relação e que no final de tudo ela irá ficar com Larissa, e nós dois, sozinhos novamente. Eu sei que meu menino é esperto, mas também sei que não é fácil para uma criança se adaptar facilmente a um ambiente e vê-lo mudar radicalmente depois. Especialmente uma criança que “perdeu” a mãe por assim dizer.

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Entramos pela porta de casa com um Léo eufórico pulando de um canto para o outro, todo feliz porque iria ao tão sonhado parque aquático em São Paulo. Arteiro como só ele, a casa logo virou de pernas para o ar.  Eu estava exausta. “O que nós não fazemos em nome das amizades, não é mesmo?”

Eu estava simplesmente exausta! Toda essa história com Larissa, Valentina, Leonardo como filho da Valentina, viagem para outro estado com Valentina, “nosso” filho e sua possível futura esposa estava comendo todos os meus neurônios. Tudo o que o meu corpo pedia era descanso, mas tudo o que eu tinha a oferecer a mim mesma era mais tempo próxima de Valentina pois a merda da nossa sociedade estava a todo o vapor e todos os dias chegavam novos clientes querendo conhecer minhas aulas de dança.

Nathalie Logo foi de secretária a nova professora. Aos fins de semana eu pegava pesado com ela ensinando todos os passos cujos quais sabia, desde os básicos aos mais avançados. Era divertido, distraía minha cabeça do caos cujo qual havia me metido. O tempo parecia passar depressa. O dia da maldita viagem nunca chegava, pois Valentina e eu precisávamos deixar tudo certo no estúdio antes de viajar.

Então, em um determinado dia aleatório, como se não fosse foder o meu batalhão, minha melhor amiga me aparece com Larissa no estúdio, justo no momento em que eu estava ensinando bachata a Nathalie.  Nós nos separamos, ofegantes, e rindo uma para a outra. Minhas mãos em sua cintura  e uma das suas em meu rosto, afastando de meus olhos alguns fios de cabelo que grudaram em minha face pelo suor.

Era nossa bolha, estávamos no nosso mundo. Éramos amigas, no final das contas, e saber que além de mim mais alguém compartilhava de tanto talento e vontade para a dança era maravilhoso. Nath aprendia com rapidez e eu certamente ficaria orgulhosa se ela dirigisse a minha parte do estúdio com tanta boa performance enquanto eu estivesse fora.

— Nath…. — Comecei, sorridente. Assenti, e ela automaticamente entendeu ao que me referi.

— AI MEU DEUS, LUIZA, NÃO BRINCA COMIGO! — gargalhou, eufórica, e me deu um soquinho no ombro. — Não, pera, é sério? SOCORRO EU PODERIA TE SUFOCAR COM MIL BEIJOS AGORA.

— Finalmente pediu a Nathalie em casamento, Luiza? — Disse a voz de Valentina, em seu tom mais sarcástico impossível. Nitidamente ela estava com ciúmes da nossa interação.

Valentina sempre foi o tipo de mulher com ego frágil. Toda a atenção tem que ser dela onde quer que ela esteja, por mais que não admita. Seus ciúmes podem transparecer de inúmeras formas, e o sarcasmo é a maior delas. Eu odeio quando ela faz isso, mas ela sempre faz. Principalmente se estiver acostumada a receber toda a atenção do mundo e depois perdê-la.

Fazia alguns dias que eu a estava evitando. Valentina sabia das implicações que nossas mentiras estavam tendo para mim em relação ao Léo, e mesmo assim estava adiando nossa viagem a pedido de Larissa pois a mesma queria conhecer um pouco mais do mundo de Valentina, sua família — mesmo que os pais dela vivessem à léguas de distância —, seus amigos, sua rotina.

Nathalie obviamente também não estava tendo tanto contato com a Albuquerque pois andava em meu encalço para cima e para baixo. Obviamente a estúpida da minha amiga detestou perder o seu chaveirinho baba ovo. Eu já disse que Nathalie morre de amores por ela?

Pois bem, “amor “ é uma palavra muito forte, Nathalie morre de tesão por ela, assim como qualquer ser humano sensato e eu já nem sei se posso me excluir desse cálculo, o que só piora minha situação ao entender que ela irá se casar dentro de alguns meses. Resumindo, Valentina detestou a sensação de que estava nos perdendo uma para a outra enquanto ela gastava o próprio tempo transando freneticamente com sua namorada que parece ter quinze anos de idade.

—Como assim casar? — A Smith me perguntou baixinho.

— Ciúmes de Valentina.

— Ah!

Eu estava surpresa com sua visita. Estava mesmo. Minha vontade era de dar um sono na sua cara e fazê-la desfazer tudo o que disse e assumir que era puro ciúmes de saber que Nathalie e eu estávamos gastando nosso tempo juntas, e nos divertindo, enquanto ela era obrigada a andar para cima e para baixo com sua nova namorada organizando coisas de casamento— que particularmente acho estupidamente burocráticas,—no tempo que não estava trepando.

A foda foi quando Larissa olhou de Valentina para nós, e depois sequer soube disfarçar que intercalava seu olhar de Nathalie para mim e de mim para Nathalie. Um sorriso genuíno brotou no canto de seus lábios e eu percebi que além de linda era burra. Como maldições minha amiga vai se casar com alguém que sequer sabe diferenciar quando ela fala sério e quando é piada interna, ou ciúmes?

Tentei me apressar e dizer que não era nada daquilo, mas ela olhou para Valentina com os olhos mais apaixonados do mundo e eu soube que a fotógrafa mentiria mais uma vez, apenas para continuar recebendo aquele sorriso. Apertei firme a mão de Nathalie, enquanto recebia uma chuva de raiva e desespero em meu interior. Valentina confirmou e a maldita pergunta chegou com força, me fazendo quase desmaiar.

— O que acha de levar sua noiva para viajar conosco, Luiza? Eu adoraria passar mais tempo com vocês e entender melhor a dinâmica da criação do Léo.

— Espera aí, o que?

— Dessa forma poderia garantir que haveria um laço de amizade e respeito entre todos nós, e te afirmar que Valentina jamais deixaria de cuidar do próprio filho enquanto estivéssemos juntas.

COMO PODE SER TÃO PERFEITINHA E TÃO INGÊNUA? Por um lado eu queria socar a cara dela por virar meu mundo de pernas para o ar, e por outro lado queria encher seu rosto de beijos por ser tão solícita e respeitosa sobre a ideia de Leonardo ser mesmo filho da Valentina.

Agora deu ruim de vez.

Esposa de mentirinha - Valu Onde histórias criam vida. Descubra agora