1 - Poder

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Minha vida nunca foi o suficiente, é assim desde que eu me lembro.

Esse sentimento percorreu e se expandiu pela minha alma tomando conta de todo o meu ser.

Eu já não sei mais quem eu sou e quem eu criei.

Quando a dor chegou, ela se instalou aqui dentro, mais especificamente em meu centro, camuflada por um vidro emocional peliculado.

Uma vida detestável, para mim e para os outros. Costumava me questionar quanto ao meu valor nessa existência tão ácida, até o dia em que me livrei de seu causador e fiz dela minha fonte de poder.

E o que me restou além dele? Ah, o doce amargo sabor do poder. - Conhecem sua definição? É a habilidade de direcionar ou influenciar o comportamento de outra pessoa e o curso dos eventos. - É graças a ele que mando em tudo por aqui. Ninguém está a cima de mim.

Mas o que está acontecendo agora? Sinto que meu subconsciente é o único sinalizando um alerta por aqui, pois todo o resto parece morto.

Lembranças vão e vem como flechas sendo atiradas diretamente para minha memória, trazendo-me todo sofrimento, por mim, já esquecido.

Essa dor revivida consegue ser maior que a física. - Física? Como posso senti-la, se nem ao menos vejo o que se passa? Seria possível? - Tudo parece balançar, chacoalhar e me afetar. O que está acontecendo?
É tudo o que me lembro antes de apagar por completo.

Meus olhos doem, assim como todo meu corpo. Com uma certa dificuldade consigo abrir um deles, logo que sinto a claridade em minha lente o fecho rapidamente. Resmungo ao sentir mais dor quando tento me mover. Onde é que estou?

- No hospital. - Me assustei com uma voz masculina tão doce e calma que chega a me incomodar. Franzi o cenho. Eu disse isso em voz alta?

Me esforço mais uma vez, agora me adaptando a luz presente neste ambiente.

- Quem é você? - Um homem alto de cabelos escuros, com alguns fios sobre a testa, me encara sorrindo em frente a minha cama.

Isso é algum tipo de sonho? Ele parece estar brilhando. Não, não pode ser. Eu nunca sonho.

- Ah, você não se lembra... - Sua expressão parece murchar diante de minha pergunta.

- Você não me importa. Como eu vim parar aqui? - Ele levantou o olhar novamente.

- Você sofreu um acidente...- Inicialmente, ele hesitou em responder. - Mas graças aos céus você sobreviveu! - Caminhou para o meu lado.

- Céus? - Sorri sarcástico. - Não seja estúpido, nem mesmo o inferno me quis. - Me sinto frustado, aposto que minha vida teria sido mais fácil se, pelo menos, a morte me aceitasse. - Vá chamar alguém para me atender, quero fazer uma ligação.

- Logo eles virão e eu sairei. Você tem estado em observação.

- Por que caralhos você me olha desse jeito? Eu nem sei quem você é. - Minha cabeça dói. O olhar dele me incomoda, de alguma forma me destrói. É uma mistura de alívio e angústia, mas por quê?

Noventa porcento, é de aflição. Ninguém nunca me olhou assim antes.

- Eu espero que você nunca se lembre, pois desta forma poderei permanecer ao seu lado por mais tempo. - Sorriu.

Eu não consegui descrever aquele sorriso, e tão pouco o seu efeito sobre mim.

Como se uma onda de sentimentos percorressem meu corpo, mas tem algo errado.

Eu não sinto nada, pelo menos não deveria, sempre fui assim, então porquê o dono deste sorriso gentil e olhar admirado parece ter tanto controle sobre mim?

Eu me lembro pouco, mas não esqueci minha personalidade e tenho certeza de que não deveria dar tanto espaço em minha mente para alguém, além de mim mesmo.

E o que são essas misturas de angústia e alívio se comprimindo em meu peito, me causando, além de desconforto, preocupação e curiosidade?

Espera, controle? Eu disse que ele tem controle sobre mim? Nunca! Somente eu posso ter esse poder sobre mim, sobre todos e sobre tudo!

Antes que eu pudesse expor meu pensamento uma enfermeira adentra a sala.

- Você finalmente acordou. - Demonstrou satisfação e eu me mantive neutro, como sempre. Pelo menos, até antes desse cara estranho aparecer.

- Finalmente? - Questiono franzindo o cenho.

Ela lê algo em sua planilha.

- Sim, me chamo Malee e sou a enfermeira responsável por você. Já estava preocupada com sua demora para acordar.

Como se eu me importasse.

Ainda a encaro sem entender.

- Quanto tempo eu dormi? - Fui direto, ignorando sua tentativa de ser amigável.

- Quase duas semanas. - Porra. Eu dormi tanto tempo assim? Como estão as coisas?! Meus negócios?! Caralho! Minha cabeça começa a doer forte. Pressionando o local exato da dor, sinto a mão da mulher tocar a minha.

- Você não pode se alterar. Seu caso é delicado, você sobreviveu a um acidente muito grave e vai precisar ficar um tempo em observação.

- Não me toca. - Em um gesto rápido, me afastei de seu tato. Mesmo que meu corpo inteiro gritasse por socorro com meu ato.

- Calma, você não pode se alterar.

- Eu quero meu celular, onde ele está? - Ignoro sua fala.

- Você chegou aqui sem nada, te reconhecemos, bom por você ser quem é.

- Se sabe quem sou, então o que está esperando para avisar meu braço direito que eu acordei?!

- Senhor, eu farei isso agora mesmo, mas por favor precisa se acalmar.

- A sua voz está me irritando porquê so ouço e ouço sem ver uma atitude útil.

- Eu já volto. - Saiu da sala quase correndo.

Suspiro irritado, as pessoas sempre me estressam com tantas futilidades, só me servem de entretenimento quando me convém. Falando em entretenimento, para onde aquele cara foi?

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Oiii, conheçam minha mais nova obra! 🖤💙

Espero que gostem...

Aqui não tem ligação com Mentiras.

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Com amor, Jésca 💙

Memória - VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora