Eu estava sentado na cama, os olhos fixos no teto.
A dor na cabeça ainda estava ali, constante, como uma lembrança teimosa do acidente.
A sensação de que o mundo ao meu redor ainda girava, que eu não tinha controle total sobre o que estava acontecendo com meu corpo, me deixava puto.
Eu sempre fui alguém que controla tudo. Agora? Eu estava à mercê de algo que não podia entender.
O quarto estava em silêncio até que a porta se abriu suavemente.
Eu sabia quem era antes de olhar. Não precisava.
Pete entrou com aquele sorriso tranquilo que me incomodava tanto quanto me intrigava.
Eu sabia que ele estava ali por uma razão que eu ainda não conseguia definir.
Ele não fazia barulho, não se movia rápido demais.
Apenas estava ali, com a calma que parecia incomodar o ritmo frenético da minha cabeça.
- Você está bem? - A suavidade da voz dele não ajudava a dissipar a tensão no meu peito.
Eu não sabia como responder.
Não sabia o que ele queria ouvir. O que ele queria de mim? Por que ele parecia tão... sem pressa, tão tranquilo, quando tudo em mim estava em conflito?
Minha resposta saiu mais áspera do que eu pretendia.
- Eu estou preso aqui, sem poder fazer nada.
Pete não pareceu se ofender.
Ele deu um passo mais perto, com um olhar que não fugia do meu, e isso me fez sentir ainda mais irritado.
- Eu sei que deve ser difícil. Você precisa descansar.
Eu franzi a testa, e meu corpo se encheu de uma raiva fria. Eu não queria descansar. Eu não queria ficar aqui. Eu não queria essa fraqueza em mim.
- Eu não preciso de descanso. Eu preciso sair daqui. - A voz saiu mais ríspida do que o esperado, e eu percebi, mas não me importei.
Pete permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse avaliando cada palavra minha.
Eu queria olhar para ele e dizer algo mais, qualquer coisa que fizesse sentido, mas tudo o que eu conseguia sentir era uma pressão no peito, um desconforto em ver alguém tão calmo diante da minha confusão.
Eu queria poder contra-argumentar, mas Pete parece saber muito mais do que eu. Isso me irrita.
Mas também devo admitir que me faz querer saber mais, afinal eu não lembro de quase nada agora.
E então ele fez algo que me pegou de surpresa.
Sem pedir, ele se aproximou mais, mas parou antes de ultrapassar o limite do meu espaço pessoal.
Não disse uma palavra, mas foi como se sua presença tivesse invadido o espaço que eu queria manter só para mim.
E aquilo me irritava, de uma forma inexplicável.
Alguém que eu nem sei se é real consegue me tirar do sério facilmente.
- Por que você continua aqui? - Eu finalmente perguntei, a frustração transparecendo na minha voz. - Eu não sou um cachorro que precisa de alguém por perto para ficar tranquilo.
Pete sorriu, mas não era um sorriso de deboche. Era um sorriso tranquilo, como se soubesse algo que eu não sabia.
- Porque você precisa de alguém, Vegas. E eu estou aqui para isso.
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Memória - VegasPete
FanfictionQuando as dores percorrem seu céu, elas transbordam para o seu inferno. Entre o vento e o relâmpago, ecoa a melodia da memória que nunca foi apagada e da culpa cuja existência já não se sabe. Para Vegas, será que a memória realmente se foi?