Capítulo 1: Na Estrada das Sombras

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Se você acredita em destino, conexão, sina ou qualquer uma dessas coisas ridículas, bom, você encontrou a história certa. Antes de continuar, uma coisa deve ficar clara: depois de passar da primeira página, você não vai mais poder voltar atrás.

Tudo teve seu princípio em uma noite ridiculamente chuvosa. A ira de Deus em formato de um tempo instável talvez fosse meu castigo ou, quem sabe, minha salvação. Uma coisa era certa: reclamar do ninho de pássaros que chamava de cabelo seria um insulto aos longos meses que passei deixando fio por fio se ascenderem.

Abraçado em meio à escuridão, só tinha meu casaco verde-musgo feio, um suéter preto tão escuro quanto a própria noite, e a pouca luminosidade ao redor vinha do meu celular, cada imperfeição e sujeira claramente visíveis.

A única outra coisa que estava em minha posse, sem contar minhas roupas e meu celular, era uma bolsa de um tom quase tão escuro quanto meu suéter. A escuridão da estrada se dissipava em alguns segundos, gigantes faróis azul neon iluminavam cada centímetro do meu corpo e minha sombra crescia, tornando-se um gigante sem vida.

As luzes se aproximavam, dando a chance para que meus olhos alcançassem a figura de um grande ônibus chegando no ponto. Suspirando, senti alívio. Aquilo era o que eu queria: entrar ali e fugir de tudo o que antes eu chamava de bom.

O grande veículo deixava sua entrada frente a frente aos meus olhos, a fumaça se erguia enquanto as portas metálicas se abriam diante de mim. Os pequenos riscos se formavam no metal a partir das luzes que ficavam penduradas de forma imóvel, mantendo os degraus secos.

Passo a passo, degrau a degrau, me aproximei do motorista, um senhor de aparência elegante e calma. Apertei ainda mais firme a alça da mochila e abaixei a cabeça em vergonha.

— Desculpe, eu não tenho dinheiro — minha garganta estava seca, e eu fechei os olhos com medo do esporro que eu iria receber.

Senti seus olhos passarem por cada vestimenta, cada item em minha posse, até mesmo cada fio de cabelo sobre minha cabeça. Então, de seu banco, ouvi sua voz confiante e calma pedir:

— Jovem, você teria uma bala para me dar? Sinto que vou ficar sem voz logo, logo. Sabe como é, o tempo acaba com gente velha como eu.

Uma surpresa quase instantânea invadiu meus pensamentos. Tudo o que havia no bolso da minha calça era uma bala, única bala embrulhada em um papel branco, todo amarrotado. Remexi cada canto da calça e enfim encontrei a bala.

O senhor estendeu sua mão na minha direção, seus dedos enrugados ficaram unidos para receber a única coisa mastigável que eu possuía. Deixei então o papel com a bala sobre sua palma, e ele me encarou com uma felicidade genuína. Vi seus dedos tão finos quanto lápis de colorir desembrulharem a bala, e, semelhante a um comprimido, ele jogou o doce garganta adentro.

— Menino, vai ficar parado aí na porta ou vai entrar? Você é o último de hoje — indagou o motorista de maneira quase bem-humorada. Ele me deixaria entrar mesmo sem qualquer tipo de pagamento. Algo ali não me cheirava bem. O que ele era? Quem ele era? Eu estava em perigo.

Bom, seja lá qual fosse, estar naquele ônibus era melhor do que voltar para o show de horrores que eu chamava de lar, ou mesmo no frio e escuridão da noite.

Passando pelas portas metálicas, assim que entrei naquele veículo, deparei-me com a presença de outras pessoas. Suas expressões eram quase ou até mais perdidas do que a minha.

— Boa noite — escapei educadamente.

Porém, fui friamente ignorado. Caminhei pelo corredor buscando um banco em que pudesse me acomodar. Os dois primeiros bancos à direita estavam ocupados. Uma garota vestida com uma camisa de uma banda descansava com seu corpo sobre o assento.

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⏰ Última atualização: Aug 31 ⏰

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