Petit Enfant Chéri. | Wenclair

Prólogo

Narradora ON

Enid olhava pela janela da pequena quitinete, seus olhos perdidos no horizonte cinza e sem fim. As ruas molhadas refletiam as luzes trêmulas dos postes, criando um brilho frio e distante que contrastava com o calor do bebê que crescia em seu ventre. Ela sabia que, em breve, a criança viria ao mundo, mas, em vez de esperança, sentia um vazio esmagador. A garota que sempre fora tão cheia de vida e sonhos agora se via presa em uma espiral de arrependimento e solidão, sem saber como havia chegado a esse ponto.

Na adolescência, Enid era um furacão de energia positiva. Sempre sorridente, era aquela pessoa que todos procuravam para se animar. Sua inteligência e carisma abriam portas onde quer que fosse, e todos acreditavam que ela estava destinada a um futuro brilhante. Seus pais, amigos e professores a elogiavam constantemente, convencidos de que nada poderia deter seu sucesso. Mas, sob essa superfície radiante, havia uma parte de Enid que poucos conheciam, um lado que ansiava por algo mais, algo que encontrava apenas em uma pessoa: Wednesday.

Wednesday era o oposto de Enid em muitos aspectos. Reservada, enigmática, com um humor ácido que poucos entendiam. Mas, para Enid, ela era perfeita. Havia algo na presença de Wednesday que a completava de uma maneira que nada mais conseguia. O mundo parecia certo quando as duas estavam juntas, e Enid sabia, sem sombra de dúvida, que aquele era o amor verdadeiro, o tipo de conexão que só se encontra uma vez na vida.

Mas o destino tem formas cruéis de colocar à prova até mesmo os sentimentos mais fortes. O relacionamento das duas era um segredo bem guardado, escondido dos olhos críticos e preconceituosos de uma sociedade que não estava pronta para entendê-las. Porém, a pressão começou a crescer quando a mãe de Enid descobriu sobre as duas. A reação foi violenta e imediata. Em sua mente, havia um futuro já traçado para a filha, e esse futuro não incluía Wednesday. Ela via Enid casada com um homem "respeitável", seguindo as normas da sociedade que ela mesma seguira a vida inteira.

Foi então que Ajax entrou em cena. Ele era tudo o que a mãe de Enid considerava ideal: forte, seguro, com uma carreira promissora. Mas, para Enid, ele era um estranho, uma presença imponente que ela jamais poderia amar. No entanto, as pressões familiares eram implacáveis. Sua mãe a fez acreditar que amar Wednesday era um erro, que ela nunca teria um futuro estável ao lado dela. Enid se viu sufocada, dividida entre o amor que sentia por Wednesday e o desejo de não decepcionar sua mãe.

A decisão foi tomada em meio a lágrimas e desespero. Enid se afastou de Wednesday sem dar nenhuma explicação. Disse apenas que era o melhor para ambas, que era a escolha certa. Mas essas palavras, proferidas com uma voz trêmula e um coração partido, eram mentiras. No fundo, Enid sabia que estava destruindo algo puro e belo, mas não via outra saída. A dor de deixar Wednesday foi insuportável, mas a pressão familiar a esmagava ainda mais.

Casar-se com Ajax foi como prender-se em uma gaiola dourada. Ele não era cruel, mas era distante, frio. O amor que ele prometia não passava de um gesto vazio, sem vida, sem paixão. O casamento foi um espetáculo para a sociedade, mas, na intimidade, Enid se sentia cada vez mais perdida. A ausência de Wednesday era uma dor constante, uma ferida aberta que não cicatrizava. Cada sorriso forçado, cada toque indesejado, a lembravam de que havia trocado sua felicidade por um vazio que jamais poderia preencher.

A gravidez veio como uma surpresa amarga. Enid não estava preparada para ser mãe, não nesse contexto. A notícia só intensificou sua sensação de aprisionamento. Ela sabia que, para o mundo exterior, sua vida parecia perfeita, mas por dentro, estava desmoronando. Sem forças para suportar a farsa, Enid finalmente fugiu, abandonando Ajax, a vida que sua mãe havia escolhido para ela, e todos os planos que nunca foram seus de verdade.

Agora, vivendo de vender bibelôs nas ruas, Enid lutava para sobreviver, mas a maior batalha era interna. Cada dia era um lembrete do amor que ela perdeu, do sacrifício que fez em nome de uma felicidade que nunca chegou. O arrependimento era uma sombra que a seguia, e a dor de ter abandonado Wednesday sem explicações era uma ferida que nunca parava de sangrar. Ela se perguntava se, algum dia, poderia ser perdoada, se algum dia teria a chance de explicar a verdade que jamais pôde contar.

Enid sabia que nunca poderia voltar atrás, que o passado estava cravado em pedra. Mas, enquanto a vida dentro dela crescia, uma pequena esperança ainda ardia em seu coração: a de que, de alguma forma, o futuro pudesse lhe trazer redenção. E, talvez, a chance de encontrar novamente aquele amor que foi forçada a abandonar, mas que nunca deixou de sentir.

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