II - Verdades

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Tempo, tempo, tempo, tempo

Vou te fazer um pedido


Chorou até dormir e no outro dia acordou com a cabeça pesada, por instantes acreditou que tudo não passou de um sonho ruim, mas a realidade da traição lhe era bastante real e a dor em seu peito pior ainda.

Queria entender, compreender a extensão dos atos de sua tia, mãe, já nem sabia mais, precisava saber suas origens, mas estaria disposta a ouvir? Seu jeito impetuoso e seu orgulho ferido dariam portas ao entendimento? Precisava sair daquela casa, não queria ver ou falar com ninguém, se sentia sozinha e em total desamparo e talvez o ar bucólico de Serranias trouxesse um pouco de paz ao conflito tempestuoso que vivia naquele momento.

Era bastante cedo e talvez todos estivessem dormindo, tomou um rápido banho e trocou de roupa, não tomaria café, pois seu estômago rejeitava a ideia de qualquer alimento. Abriu a porta e desceu em direção a saída, mas ao chegar ao fim das escadas encontrou, vindo da cozinha, uma Pérola abatida, os olhos fundos como quem chorou por toda uma noite — ou uma eternidade —, estava pálida, seu corpo transmitia a sensação de derrota.

O primeiro impulso? Correr para abraçar.

O que a impediu? A dor gritando "TRAIDORA" em seu peito.

"Eva..." — Disse ao perceber a presença da filha. "Eva, meu amor, preci...." — Não teve tempo de terminar.

"Não tenho absolutamente nada para falar com você." — A raiva crescia como um incêndio sem controle. "Deixe-me em paz."

"Eva, por favor..." — A súplica sofrida de uma mãe em desespero.

Eva não queria machucar a mulher a sua frente, pois apesar da dor que sentia, também havia bastante amor por ela batendo em seu peito, mas sabia que se continuasse ali as suas ações causariam dor e ambas chorariam a amargura de uma verdade revelada e por este motivo apenas saiu.

"EVA!" — Gritou ao ver a filha sair, mas não tinha forças para correr atrás.

Inácia estava por perto e Max apareceu logo em seguida ao ouvir o grito assustador de Pérola, pensou que algo havia acontecido com sua amada menina, mas ao chegar na sala viu apenas Pérola chorando desolada nos braços de Inácia, se escondeu para poder ouvir a conversa.

"Eu a perdi, Inácia, a minha filha me odeia."

"Não diga isso, dona Pérola, Evinha está apenas confusa com tudo o que aconteceu, mas logo ela vai te procurar e vocês vão se acertar." — Tentava passar conforto, mas em seu interior não tinha certeza das palavras que dizia, pois conhecia Eva e sabia que ela seria capaz de nunca mais falar com a mãe.

"Você mesma me falou." — Era difícil respirar sentindo seu coração tão apertado. "Você me falou que Eva acredita que tudo o que eu fiz foi somente por amor ao Max, que eu a usei como pretexto para ficar perto dele, que ela nunca foi minha prioridade e fiz dele minha razão de viver, mas não é verdade, Inácia, eu amo a minha filha." — Palavras cortadas por soluços.

"Eu sei que você a ama, dona Pérola, desde o instante em que descobriu a gravidez a sua filha se tornou sua razão de viver e Evinha também sabe disso, ela apenas não consegue compreender tudo o que aconteceu."

"O dia em que Eva nasceu foi o dia mais feliz da minha vida. Quando a segurei em meus braços pela primeira vez eu sabia que seria capaz de qualquer coisa neste mundo por ela." — Falava enquanto suas lembranças a levavam de volta ao nascimento da filha. "Minha menininha, Inácia, tudo o que fiz foi por amor a ela. Eu não me importo em perder o amor de Max, vivi uma vida inteira à sombra desse sentimento, uma vida inteira sem ele, mas não posso e não vou conseguir perder o amor da minha filha, eu não vou aguentar."

In the name of loveWhere stories live. Discover now