CAP 2

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✿ Hinata ✿

Olhando da janela do carro indo em direção a universidade, tento me concentrar em cada detalhe que havia do lado de fora, a paisagem que passava como um vulto, as pessoas caminhando nas calçadas, ou até mesmo a quantidade de carros de diferentes cores que passavam - eu já havia contado 27 carros brancos. Tudo isso apenas para tentar arrancar esse anseio todo de dentro de mim por conta da faculdade, eu estava enlouquecendo desde que recebi a carta, passei semanas me programando.

Nada podia estar fora do meu controle.

– Hinata? - escuto a voz de meu irmão me chamar, fazendo eu me perder na contagem, desta vez, de carros pretos.

– Ahn? - O olho, certeza que minha cara estava na sua pior versão. Nos últimos dias eu e o sono estávamos em uma briga feia.

– Está nervosa? - ele volta a me encarar com a face duvidosa.

Eu queria poder dizer “sim Zyan eu estou bem, está tudo sob controle, não se preocupe”.
Porém nada disso saiu da minha boca.

Eu conseguia fazer de tudo nesse mundo, menos mentir para meu irmão.

Meu silêncio então automaticamente respondeu sua pergunta, trazendo a ele uma expressão que eu já conhecia, sabia que um longo discurso motivacional viria em seguida.

– Hinata você não pode estar falando sério - e assim ele começava - Você é merecedora dessa vaga mais que qualquer bundinha que está lá.

– Eu sei.

– Você passou horas com a cara naqueles livros, e eles… eles apenas tem um sobrenome chique em suas fichas.

– Eu sei.

Depois de muitas outras frases, e muitas respostas minha com “eu sei”, ele acaba se calando um pouco.

– Se alguém te encher, diz que tem um pai preso. Aqueles babacas vão pensar duas vezes antes de mexer com você - ele solta, com um tom sarcástico que me deixa incrédula

– Nunca! Zyan ninguém pode saber que o papai está preso, eu já sofri a escola inteira por isso. Não preciso repetir tudo de novo. - me jogo no banco emburrada, relembrando todo o bullying que sofri por isso - Ninguém pode saber - concluo com um tom dramático.

Zyan balançou a cabeça revirando os olhos. Ele sabia tudo que eu havia passado, e também não gostaria que se repetisse.

– Então diga que tem um irmão perigoso - ele pisca com um sorriso malandro.

–A sim, cuidado com o perigo Zyan Frost.

Nós rimos, aliviando um pouco do clima tenso que havia ficado no carro.

Quando olho para frente, começo a perceber vários jovens andando com malas e bolsas nas mãos. Estávamos chegando.

Depois de muita luta contra o intenso trânsito com carros extremamente luxuosos, conseguimos achar uma vaga para estacionar. Desci colocando uma mochila em minhas costas e indo pegar mais uma mala que havia ficado no porta-malas.

– Certo, pegou tudo aí? - Zyan colocou as mãos na cintura me observando

– Sim, qualquer coisa eu te aviso e você pode me trazer.

– Vai sonhando, essa sua faculdade fica do outro lado da cidade.

– A para, eu sei que você faria de tudo por mim - brinco apertando suas bochechas. - Eu até acho que vou sentir sua falta, sabe, quem vai comer sushi comigo todas as terças?

– Eu também vou sentir sua falta, chatinha - ele bagunça meus cabelos após completar a frase.

Me viro brevemente para observar a entrada há poucos metros de mim. Em volta, vários jovens se despedindo de seus familiares, mães chorando e pais com os olhos brilhando de orgulho.

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