“Quanto tempo ele vai demorar?”, me perguntei, olhando para a mensagem de 'estou chegando' que meu irmão havia me mandado há 10 minutos. Ele tinha marcado comigo em uma cafeteria para comemorar que finalmente havia passado em uma entrevista de emprego em um escritório de arquitetura.
— Desculpa o atraso — ouvi a voz rouca e calma dele dizer, enquanto puxava uma cadeira.
Meu sangue gelou assim que olhei para ele. Meu sorriso se desfez ao ver a figura alta ao seu lado. “Como?”, era a única coisa que passava pela minha cabeça. “Como ele me achou?”
— Eu encontrei um dos meus calouros da época da universidade — ele falou com um sorriso, dando um tapinha no ombro do sujeito. — Esse é o Jin, ele entrou na faculdade no meu último ano do curso. — Ele puxou uma cadeira para o homem. — Senta aí.
“Jin...” O homem obedeceu sem hesitar. Eles realmente pareciam íntimos.
— Deixa eu te apresentar. Essa é a S/N, meu maior orgulho, minha irmã.
— É um prazer te conhecer — Jin disse, com um sorriso doce, mas ao mesmo tempo provocador no rosto.
Eu estava ali, mas ao mesmo tempo não estava. Meu corpo estava presente, mas minha mente vagava longe. Eu observava a cena ao mesmo tempo que a vivia. Me vi sentada na cadeira de frente para os dois, de frente para o homem que me causava terrores noturnos e para o meu protetor. Nunca temi a morte porque, na minha cabeça, era algo inevitável. Agora, ver a personificação da Morte ao lado da pessoa que eu mais amava no mundo, isso sim era algo aterrorizante.
— Oi — respondi com a voz trêmula.
— Você tá bem? — meu irmão perguntou, notando minha repentina palidez.
— Tô sim, acho que minha pressão caiu um pouco. — Peguei o copo à minha frente e dei um gole no café.
Eu os observava conversando, mas tudo parecia distante. As vozes deles ficavam cada vez mais longe, e eu via as bocas se moverem, mas não entendia o que diziam. Minha visão começou a ficar embaçada, flashes da boca dele suja de sangue se misturavam com o momento presente. Meu corpo começou a ficar pesado e, de repente, tudo se apagou.
Comecei a ouvir uma voz ao longe me chamando: — S/N... S/N — falava enquanto me sacudia. Abri os olhos vagarosamente e senti a luz do sol me atingir.
— O que aconteceu? — perguntei, tentando recobrar a consciência.
Vi várias pessoas à minha volta e, por um breve momento, cogitei que tudo tinha sido um pesadelo, mas não, ele continuava ali.
— Jin, depois a gente se fala. Vou levar ela para casa — meu irmão disse, me ajudando a levantar.
Jin apenas assentiu, concordando. Meu irmão me levou até seu carro e me ajudou a sentar no banco do carona. Meu corpo ainda estava mole, como se tivesse sido acometido por uma febre. Do café até nossa casa eram menos de 30 minutos de carro, e durante todo o trajeto, eu fiquei entre estar acordada e estar dormindo. A voz dele ainda ecoava nos meus ouvidos e, mesmo com os olhos fechados, eu ainda o via. Meus pensamentos confusos oscilavam entre “como ele me achou?”, “será que meu irmão é como ele?”, e “o que ele é, afinal?”
Jay me olhava de relance de vez em quando, preocupado, mas não mencionava o que estava acontecendo. Quando olhei pela janela, vi a casa amarela, a minha casa amarela. Ele estacionou o carro na garagem, e antes que eu pudesse me mover para sair, ele já estava abrindo a minha porta para me ajudar.
— S/N, tá tudo bem? Eu nunca te vi desmaiar — ele disse, preocupado. Eu realmente nunca tinha desmaiado antes.
Eu queria me abrir com ele, como sempre fazia, mas uma voz na minha cabeça dizia que ele não acreditaria na minha história, que Jin, o homem que de certa forma ele viu crescer e ajudou durante um ano, era na verdade um monstro... um vampiro, algo inumano e fantasioso.
Ouvi um som tão conhecido, o tec tec. — Não acredito que você avisou para a mamãe — falei, com a chateação evidente na voz.
— Ela precisa saber, S/N, você passou muito mal.
— Mas você sabe como ela é.
— Sei, mas não posso te deixar sozinha e ainda preciso resolver algumas coisas na rua.
Nossa conversa foi interrompida pela voz manhosa da nossa mãe.
— Filha — ela veio até mim e me abraçou apertado e rápido, logo em seguida segurando meu rosto. — Isso é o que dá ficar comendo fora de casa.
Minha mãe e meu pai sempre foram superprotetores, muito porque eu fui um bebê arco-íris. Eles tentaram por muitos anos ter um segundo filho, o que resultou em três perdas, então, quando eu vim, eles tinham medo de tudo, e ainda têm.
— Vou subir — falei, me soltando dela.
— Certo, já já levo uma sopa caseira pra você.
Dei as costas para os dois, que continuaram a conversa, e fui subir as escadas até meu quarto. Assim que entrei, tranquei a porta, olhei em volta e vi que tudo estava como havia deixado de manhã. Me joguei na cama, aquele pequeno quadrado me fazia sentir tão segura. Tudo o que tinha acontecido era surreal, como observar um quadro de Picasso, onde tudo faz sentido e não faz ao mesmo tempo. “Meu irmão realmente está alheio ao que Jin é?”, esse pensamento ecoava na minha mente. Pouco tempo depois, minha mãe bateu na porta, vindo me trazer sua famosa canja de galinha. Assim que tomei, um conforto tomou conta do meu corpo, me lembrando da minha infância, um momento da vida ao qual eu queria voltar.
Notas da autora:
Olha eu aqui de novo, dessa vez eu cumpri a promessa kkkkk. Realmente estou gostando de escrever essa história, então acho que vai ter uns 5 capítulos pelo menos. Bom, pelo menos vou tentar fazer isso. Ademais, vocês já sabem o que fazer: deixar sua ☆ e seu comentário para apoiar a história.
Beijos da sua fanfiqueira falida.

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Noite Eterna
FanficSegredos... Segredos... Todos nós temos, não é? Algumas pessoas têm segredos simplesmente bobos, como ter furtado um doce de uma loja. Outras, porém, guardam segredos sombrios: a morte de alguém, ter manipulado uma situação... Enfim, eu queria dizer...