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Pedro Tófani

Entramos no campus e fomos direto para o mural de avisos, em busca do número da sala da primeira aula.

Seminário é uma disciplina ovacionada pela universidade desde a sua fundação.

Tudo porque um aluno que cursou Seminário no ano retrasado foi chamado para publicar seu manuscriro por uma editora, colocando o nome da uni no topo das notícia por 2 anos.

Eles usam uma espécie de slogan para que mais alunos do curso se candidatassem e escrevessem mais livros que coloquem o nome da universidade cada vez mais em evidência, algo do tipo "SE INSCREVA E ESCREVA UM LIVRO EM QUATRO MESES". Pff, me poupe.

Entro na sala acompanhado de Malu e Renan e logo em seguida o professor entra com uma pilha de livros embaixo do braço.

– Bom dia meninos, é uma felicidade imensa ver o rostinho novos de alguns aqui. Meu nome é Caio, vou ser o professor de seminário de vocês nesses próximos 4 meses e espero ajudar da melhor maneira possível. — ele coloca os livros em sua mesa. – Bom, vejo que meu convidado ainda não chegou, então, enquanto isso, irei entregar o planejamento de estudo e disciplina. — o homem avisa e passa entre as mesas entregando os papéis presos a um grampo.

Folheio as páginas até chegar ao cronograma. 2 semanas para entregar um rascunho com a ideia inicial. 2 semanas. 2 SEMANAS.

Levanto o olhar desesperado para a Malu na esperança de lhe encontrar tão abismada quanto mas só encontro suas sobrancelhas franzidas e seu olhar preocupado em minha direção: – Você consegue. — ela murmura me enviando um sorriso reconfortante.

Volto o olhar pro papel.

Meus pensamentos nada positivos são interrompidos por uma batida na porta da sala e um garoto alto entra pela porta.

Apesar da sua vestimenta perfeitamente alinhada, seu cabelo está um bagunçado — muito bonito, por sinal — como se tivesse tentado arrumar e perdido a paciência.

– Bom dia, me desculpem o atraso. — ele diz com feição serena contradizendo suas bochechas em um rubor forte e sua aparência caótica.

Ele apoia as mãos atrás de suas costas e ele caminha até o professor Caio, que lhe dá um abraço de boas-vindas.

Me viro para Malu impressionado com o garoto cacheado mas encontro apenas seu olhar vidrado no menino.

Cutuco Renan em minha frente buscando a solução da minha confusão e ele apenas vira minimamente seu rosto, sem desviar os olhos do cacheado.

– Quem é esse? — pergunto sussurrado para meu colega, que desvia os olhos impressionado com meu questionamento.

– Bom pessoal, para quem ainda não conhece, esse é João Romania. — Caio diz de repente, sem dar tempo de Renan me responder. – Ele é conhecido por muitos de vocês como o autor mais jovem do país e também ex-aluno da uni. — o professor apresenta e vejo João ficando adoravelmente corado. – João vai estar com a gente uma vez por semana durante todo o semestre para ajudar vocês com a produção do livro de cada um. — finaliza e dá abertura para que João se apresente.

– Bom dia, gente, é um prazer ter a oportunidade de auxiliar vocês durante esse tempo e espero ser útil pelos próximos meses. — João foi se apresentando enquanto passava os olhos pela sala. – Cursei Seminário no último ano de letras e o meu primeiro livro publicado é fruto dos 4 meses de curso. — apesar da postura firme, era perceptível como havia certa timidez denunciando seu interior. – Espero ajudar nas conquistas dos objetivos de vocês.

Quando levanto a cabeça, seus olhos estão sobre mim. Está quente aqui, não?
Mantenho o contato visual até que o professor se pronuncie, assustando nós dois.

– Espero que se sintam inspirados, trouxe alguns livros para a realização da nossa primeira atividade. — o professor continua falando mas eu deixo de prestar atenção na sua explicação para focae em João.

O moreno tem uma postura confiante, apesar de manter suas mãos para trás e sempre juntas. Há um sorriso calmo brincando em seu rosto e qualquer atenção voltada para ele o faz ficar vermelho ao ponto de explodir. Adorável.

– João, qual foi a sua maior inspiração para a produção do seu primeiro livro? — o professor pergunta lá pelo final da aula.

E de uma hora pra outra, a postura confiante se torna tensa e insegura.

– Hã... — ele olha para a sala em busca de conforto, mas não encontra, optando por olhar para seus pés. Tira um cacho que caía no seu rosto, pigarreia. Respira fundo e levanta a cabeça novamente. – Bom, minha inspiração foi... — ele coça a nuca sem graça. O que ele tem? – as histórias que eu nunca fui capaz de contar para ninguém, eu acho. — ele diz simples, evitando aprofundar o assunto.

– Muito bom. Que você seja uma inspiração para meus alunos esse semestre. — fala o professor.

Para os outros eu não sei, mas para mim...

Escreve pra Mim | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora